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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O novo mundo árabe vem aí


Presidente do Egito garante presença na cúpula dos países árabes com os da América do Sul

Em destaque (branco) os países árabes e suas respectivas capitais 
Pela primeira vez na história, um presidente do Egito virá à América do Sul. Chama-se Mohamed Mursi, pertence ao grupo islamita Irmandade Muçulmana, acaba de tomar posse e será uma das atrações da terceira Aspa (Cúpula América do Sul-Países Árabes), a realizar-se nos dias 1º e 2 de outubro em Lima, no Peru.

O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, toma a vinda de Mursi como uma evidência de um inédito interesse pela região por parte da classe dirigente que emergiu a partir da Primavera Árabe.

"É um contraste impressionante com o interesse apenas remoto que encontramos, eu e o ministro Celso Amorim [então chanceler], quando fazíamos as sondagens para a primeira Aspa, em 2005", rememora Patriota.

O contraste é também animador, posto que o que o porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes, chama de "novo mundo árabe" está interessado em democracia, combate à pobreza e progresso social -ingredientes necessários, essenciais mesmo, nesse "novo mundo" e que têm caracterizado a América do Sul.

Outro detalhe relevante: o ditador sírio, Bashar Assad, nem sequer foi convidado. Não se trata, em todo o caso, de rejeição ao tipo de governo que caracteriza a Síria. Afinal, entre os países que fazem parte do mundo árabe, há mais "velhos mundos árabes", na forma de ditaduras, do que propriamente nações democráticas. A vinda de Assad é uma impossibilidade prática.

A pergunta seguinte óbvia é: está a diplomacia sul-americana preparada para receber, eventualmente, uma delegação dos opositores a Assad? Patriota usa um argumento que faz sentido: ainda falta muito para a cúpula (50 e poucos dias; em uma situação como a que a Síria vive, é de fato uma eternidade).

O chanceler torce para que os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido) consigam chegar a um consenso que permita desmilitarizar o conflito sírio e, com isso, tentar implantar o acordo a que chegou no dia 30 de junho o chamado grupo de ação para a Síria.

Previa um governo de transição que desse voz a todos os atores, com um cronograma para implementação, além, como é óbvio e preliminar, da cessação da violência.

Era uma forma edulcorada de sugerir a saída de Assad, posição defendida pelos países ocidentais e também pela Liga Árabe, com a qual o governo do Brasil está em contato permanente.

O contato permanente não significa que a diplomacia brasileira endosse a posição da Liga. Continua aferrada ao programa do grupo de ação, que viverá nas próximas semanas dois momentos eventualmente decisivos: na semana que vem, a ONU decide se prorroga ou não a presença dos seus observadores na Síria (cinco são brasileiros). A não prorrogação abriria todas as portas à definitiva militarização do conflito.

Depois, até o fim de agosto, o Conselho de Segurança dá um "upgrade" na discussão ao convocar uma reunião dos ministros dos países-membros, em vez de deixar o debate em mãos dos embaixadores nas Nações Unidas.

São momentos que determinarão o efetivo tamanho do "novo" no "novo mundo árabe".

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