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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

El País: Presidente da Colômbia joga partida decisiva de seu mandato ao negociar com as Farc

Juan Manuel Santos

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, está jogando a partida decisiva de seu mandato. A que arruinou a presidência de Andrés Pastrana (1988-2002); que acontecimentos alheios à luta contra as Farc tornaram impossível na de Ernesto Samper (1994-98); e na qual também apostou sem êxito, embora hoje se mostre frontalmente contrário a ela, a de Álvaro Uribe (2002-2010). É a negociação de paz com o movimento guerrilheiro, um dia comunista com causa, mas hoje basicamente narcotraficante. E ao mesmo tempo essa aposta resume a disputa entre Santos e Uribe sobre o rumo futuro do país: conciliação com seus vizinhos, solução política de um conflito que fumega há 50 anos e desejos de reeleição, no caso do presidente; contra vitória militar sobre a guerrilha, alinhamento em posições ultraconservadoras no cenário internacional e desejos indubitáveis de voltar a exercer, no caso do ex-presidente.

No início do ano, dois militantes das Farc que se esgueiraram em Bogotá expressaram o interesse da guerrilha por iniciar pré-conversações. Na riquíssima linguagem política colombiana, pode-se fazer de tudo com a palavra "negociações": colocar-lhe sufixos, prefixos, aumentativos e diminutivos. Santos, que desde sua posse em 2010 havia reconhecido que o final da contenda deveria ter caráter político, aceitou o desafio. E há semanas ou meses há contatos em Havana - que para falar com a violência é como um centro internacional de convenções - e decidir se há bases para passar das "pré" às negociações, para o que também se conta com o apoio do governo chavista. Os prováveis emissários de Santos, Frank Pearl, ministro do Meio Ambiente, e Sergio Jaramillo, assessor de segurança, tentam estabelecer com seus interlocutores selváticos uma agenda fechada e uma divisão em frentes sobre as quais discutir.

O que se sabe da posição da guerrilha cobre território tão vasto quanto difuso. Reforma agrária, mas sem saber quanta reforma e a quantos agrários deveria afetar. É impossível saber se Santos tem força suficiente para impor uma distribuição da terra, inclusive se esta se limitar a devolver aos agricultores terras perdidas por causa da guerra. Protagonismo dos movimentos cívicos, o que costuma significar a esquerda não organizada mais o partido comunista. Uma política afirmativa na proteção ambiental e uma recuperação de soberania na contratação com as multinacionais dos direitos de exploração das riquezas do país, no que são reconhecíveis ecos da frente bolivariana, Venezuela, Equador, às vezes Argentina e, em seu estilo de espeleólogo do pré-colombiano, Evo Morales na Bolívia.

As forças políticas apoiam majoritariamente o projeto, sem descontar a esquerda em viagem à social-democracia do Polo nem a direita de toda a vida, mas com a importante exceção do uribismo que morde no partido liberal e bastante mais no conservadorismo, que veem em tudo isso uma traição criminosa a sua ideia de Colômbia. Ernesto Samper é cautelosamente favorável: "Há uma convergência que permite ser razoavelmente otimista, como a solidariedade de Cuba e Venezuela, a situação estratégica das Farc na defensiva, e os paramilitares extraditados, assim como as leis sociais do presidente Santos, junto com sua própria capacidade de manejar todos esses fatores".

A disputa entre o presidente e seu antecessor será seriamente afetada pela sorte que tiver essa tentativa de paz, que é preciso que fracasse para que Uribe salve os móveis, especialmente diante dos próximos assédios que se avizinham. O general Mauricio Santoyo, que foi seu chefe de segurança, está sendo processado nos EUA com excelentes possibilidades de pegar uma pilha de anos de prisão por conluio com os terroristas do paramilitarismo. Para um presidente que microgerenciava a marcha do país e se ufanava de ter tudo sob controle, parece estranho que não soubesse nada dos manejos de seu íntimo militar.

O incômodo da vida das Farc na selva, junto com a provável convicção de que não podem ganhar militarmente - o que se deve em grande parte a Uribe -, jogam a favor da negociação, mas a pretensão de reter seus mal havidos recursos exclui que pelo menos comandos médios e superiores estejam dispostos a se submeter à ação da justiça. Esse é o grande risco a que Santos se expõe: o presidente em exercício que cunhou com inteligente moderação o slogan "A paz é a vitória".

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