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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

El País: Professores, universitários e vendedores formam exército de rebeldes na Síria


Um adolescente sorri com inocência na entrada do quartel da katiba (brigada) de Tel Rifat, cidade síria a cerca de 40 km de Aleppo, controlada pelo Exército Livre da Síria (ELS). Veste o uniforme rebelde por excelência: bota marrom, calças e jaquetas camufladas e camiseta cáqui. Isso, nas fileiras dos mais aguerridos, quase não falha. Carrega em seu frágil ombro direito um Kalashnikov, fuzil de fabricação russa que domina o arsenal de armas leves do ELS. No interior, os milicianos da katiba abrem lugar de um corredor a outro até o escritório de um dos homens no comando. Chama-se Emad Diwan e tem 37 anos. Oferece o assento antes de se sentar; inclina a coluna para frente e se prepara para escutar o que o estrangeiro possa lhe perguntar sobre a rebelião. Uma pergunta o faz erguer-se rapidamente. O que o senhor fazia antes de tudo isto? "Eu? Era eletricista."

Agora, Emad Diwan, membro do braço civil do ELS, organiza o abastecimento de "tudo o que as pessoas de Tel Rifat precisem". Tanto se estiver dentro como se tiver que trazê-lo de fora. Talvez por timidez, esse eletricista agora erguido contra o regime diz que seria melhor falar com o comandante da katiba. Ele não está. Uma última pergunta: Quantos anos é preciso ter para fazer parte do ELS? "Ah, a idade limite...", Diwan vacila, "é de 19 anos, sim, sim, 19 anos", responde (o ELS se comprometeu a não recrutar menores de 17 anos). Mas o guarda da entrada não tem essa idade. Não há resposta. Também não está ali o adolescente, que desapareceu com seu Kalashnikov em riste.

Quem não se esconde, embora os mais velhos os recriminem, são os jovens, muito jovens, que vigiam a entrada da prisão de Azaz, a 4 quilômetros de Tel Rifat. Apoiam seus sorrisos, depois da desconfiança inicial, nos rifles. Todos os têm. E se o assunto é armas, uns e outros, maiores e menores, se desinibem para mostrar... quais são suas virtudes. Qual é esta? "Esta? É um Kalashnikov", diz um dos mais jovens. Mas a do companheiro vigia é diferente, quase de brinquedo. "Ah, esta é de fabricação síria." Que não se feche o mercado. Um dos uniformizados traz o que chamam de rifle Otan (as forças da aliança o utilizam). Esses vêm da Líbia, não? "Sim, sim, vem de lá." Acabou-se o jogo. É hora de conhecer o homem que dirige a prisão, cujo interior encerra sete shabihas (capangas do regime).

"Meu nome é Abu Ahmed", diz o diretor da cadeia, um homem de meia idade com barba e cabelos brancos. Suas palavras saem devagar. Tenta ser muito claro. Não se veste de cáqui. Faz apenas dez dias que assumiu, e talvez por isso se mostre tão solícito. Onde estava antes da revolução? Muda o tom. "Eu era professor de matemática, me formei na universidade e dava aulas no secundário." Mas os colégios fecharam as portas, alguns deles para abri-las ao ELS, um gesto pouco afortunado em tempos de guerra. O professor Ahmed não é exceção. Tampouco o eletricista. Civis ou combatentes, os homens do ELS desempenhavam há 18 meses tarefas bem diferentes das que a guerra os obrigou a assumir. E sua história faz que a imagem dos rebeldes fogosos desça ao solo.

Abu Ali tem 25 anos. É de Azaz. Serviu quatro anos no exército regular, depois do que fez as malas e foi para a Arábia Saudita para administrar uma loja de computadores. Entra pela porta ajudado por duas muletas e se deixa cair sobre um dos colchões no chão. "Fui ferido em Saladino", relata, sempre risonho, "no ataque de um dos tanques do regime." Ali brinca com seu celular, ébrio de excitação diante da fila de amigos que se aproximaram para beijá-lo. É o herói por um dia que chegou de Aleppo. Todos querem tocá-lo. São inclusive mais jovens que ele, como a maioria dos 60 homens que comanda em Saladino.

Como chegou da loja de computadores à batalha de Aleppo? Ri ainda mais, mas rodeia a resposta. "Vocês querem ir para lá?", parece brincar. Mas não é uma piada. Um dia depois, Abu Ali não está mais lá. Voltou para frente. Quem afirma isso é Mahmud Abu Zaid, 22 anos, membro da mesma brigada. Ele anda armado com uma pistola, mas só para se defender. "Não sou combatente", esclarece com um sorriso. Começou no bando revolucionário como ativista para se ligar ao ELS como assessor de imprensa. Antes "estudava direito, até que fecharam a universidade".

A retaguarda deixa imagens e relatos diversos. Prostrado sobre a cama do hospital particular de El Bab, Mahmud Abdel Karim, 24 anos, se recupera - o ELS paga a conta - dos cinco tiros que recebeu em Aleppo. Foi um franco-atirador. Seu irmão Ahmed, 28, aguarda a sua vez. "Eu era professor escolar", relata Ahmed, "mas atacaram a escola e peguei as armas", continua esse jovem magro e encurvado. "Tinha que defender minha cidade e minha família." E o que vai fazer seu irmão? "Deixe-me perguntar", diz Ahmed. Não dá tempo. Mahmud ouviu a conversa. "Quero voltar agora mesmo a combater." Nascido ou não para isso, essa sim é a resposta de um rebelde.

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