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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Evangélico ameaça queimar Alcorão

Ato de pastor, marcado para o próximo 11 de setembro, provoca críticas de líderes religiosos, civis e militares

General Petraeus diz que imagem poderá colocar em perigo a segurança de tropas que lutam no Afeganistão 

O plano de um pastor evangélico da Flórida de queimar cópias do Alcorão no aniversário do 11 de Setembro, no sábado, despertou protestos de líderes civis, militares e religiosos.

A polêmica chegou até o Afeganistão, de onde o general David Petraeus, que comanda as forças dos EUA no país, alertou que queimar o livro sagrado do islã ameaça a segurança das tropas e colocará cidadãos americanos no exterior em perigo.

"Estou muito preocupado com as possíveis repercussões que este caso por ter", declarou Petraeus.
Segundo o general, um vídeo que mostrasse a queima do Alcorão em solo americano rodaria o mundo e seria usado como pretexto por extremistas para ataques.

O porta-voz do Departamento de Estado, PJ Crowley, disse que a imagem seria potencialmente tão poderosa para extremistas quanto as fotos da prisão de Abu Ghraib, no Iraque, que mostravam abusos contra prisioneiros por soldados dos EUA.

Aproximadamente 500 afegãos indignados com os planos já protestaram ontem em Cabul queimando um boneco do pastor responsável, Terry Jones, e com brados de "morte à América".

Jones, da igreja Dove World Outreach, na cidadezinha de Gainesville, tem cerca de 50 seguidores e afirma desejar "expor o islã" como religião "violenta e opressiva".

Apesar dos apelos e sem ter recebido autorização pública para o ato, ele não deu sinais de que desistirá.

Embora reconheça que a ação poderá provocar oposição violenta, disse que "os EUA devem parar de pedir desculpas por suas ações e de se dobrar diante de reis".

O episódio chega num momento de alta de ofensas e ataques contra a religião muçulmana nos EUA, muitos dos quais devidas à oposição a um plano de construir uma mesquita a dois quarteirões do local do ataque do 11 de Setembro às Torres Gêmeas, em Nova York.

CÚPULA

Marchas anti-islã, depredação de mesquitas e episódios de assédio a muçulmanos pelo país levaram ontem um grupo de 35 líderes de várias denominações cristãs e judaicas a se unirem à Sociedade Islâmica da América do Norte (Isna) em uma cúpula contra o preconceito em Washington.

Batistas e evangélicos foram duros em condenar o plano de Jones, que chamaram de "antiamericano", "pecado" e "abominável".

"Ele não representa os evangélicos", disse Richard Cizic, presidente do grupo Nova Parceria Evangélica para o Bem Comum.

"Mas não estou surpreso. Digo desde 2001 que muita gente no mundo evangélico quer fazer do islã o próximo "império do mal'".

O arcebispo católico de Washington, Theodore McCarrick, afirmou pretender levar ao mundo a mensagem de que o pastor Jones "não simboliza o pensamento dos EUA real".

Já Ingrid Mattson, presidente da Isna, pediu a muçulmanos no exterior que não revidem a ofensa da queima dos livros. "Não acreditem que os americanos odeiam o islã."

À Folha, ela se disse profundamente abalada pelo clima antimuçulmano atual.

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