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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Norte-coreanos reforçam poder da família do líder

Suposta foto de Kim Jong Un
Kim Jong Il, o líder supremo da Coreia do Norte, deu novos passos na terça-feira para assegurar que sua família permaneça no comando após sua morte, mas a maior mudança na liderança em uma geração produziu até o momento mais intriga política do que sinais de uma mudança real na Coreia no Norte, um dos países mais isolados do mundo.

Kim elevou sua irmã e um amigo próximo para o posto militar mais elevado e fez com que seu filho mais novo e aparente herdeiro, Kim Jong Un, se tornasse membro do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores do governo.

As promoções ocorreram um dia após o Kim mais jovem também ter se tornado um general de quatro estrelas, aparentemente visando assegurar uma sucessão na dinastia que daria a Kim Jong Un, que supostamente teria 20 e tantos anos, tempo para consolidar seu poder.

A elevação do completamente desconhecido Kim, e pistas de que outros membros do clã Kim exercerão o poder nos bastidores em um tipo de regência comunista, aumentam a incerteza em relação à Coreia do Norte. O país parece ter abandonado suas reformas econômicas incipientes e tem se recusado a participar de novas conversações internacionais a respeito de seu programa de armas nucleares, deixando seus vizinhos e os Estados Unidos alarmados com suas intenções.

Poucos analistas alegam entender plenamente o funcionamento interno das forças armadas norte-coreanas ou a dinastia Kim. Mas muitos que acompanham o país atentamente dizem ver poucos sinais de que a sucessão produzirá uma liderança estável e crível que, ao menos inicialmente, seria confiante o bastante para se engajar com o mundo exterior ou desviar recursos para o desenvolvimento econômico, e não para as forças armadas.

“Nós nos preocupamos com o Paquistão, mas isto é potencialmente tão desestabilizador quanto o Paquistão”, disse William R. Keylor, um professor de relações internacionais da Universidade de Boston. “A sucessão na Coreia do Norte seria apenas uma excentricidade se não fosse pelo fato de estarmos lidando com um país com armas nucleares e sistemas de entrega. Isto é o que torna isso sério.”

O temor de instabilidade também ocorreu após a morte de Kim Il Sung, o líder fundador da Coreia do Norte, e a ascensão de seu filho, Kim Jong Il, em 1994. O país não sofreu um colapso na época, apesar de seu desempenho econômico ter se deteriorado acentuadamente e milhões de norte-coreanos terem supostamente morrido de fome durante o governo errático de Kim Jong Il.

Desta vez o país parece menos preparado para uma transição. Kim Jong Il teve 14 anos entre sua introdução política em 1980 e a morte de seu pai, tempo que ele usou para desenvolver apoio internamente. Havia poucos sinais de que um processo sucessório tinha começado quando Kim Jong Il, atualmente com 68 anos, aparentemente sofreu um derrame há dois anos.

Alguns analistas preveem que os novos líderes podem se sentir compelidos a provar suas credenciais nacionalistas, realizando ações provocativas que poderiam piorar as tensões com a Coreia do Sul, Japão e o principal aliado destes, os Estados Unidos. Em março, a Coreia do Sul acusou o Norte de afundar um de seus navios de guerra, o Cheonan, o que alguns analistas disseram parecer ter sido uma demonstração de força, visando persuadir os militares a respeitarem o Kim mais jovem.

“A pergunta agora é se farão coisas perigosas como o Cheonan ou outra coisa para manter o regime unido”, disse Victor Cha, diretor de estudos asiáticos da Universidade de Georgetown. “Eles já são instáveis, mas esta questão da sucessão os torna ainda mais imprevisíveis.”
Na situação mais desestabilizadora, uma disputa interna de poder poderia levar ao colapso do governo. Mas muitos observadores descartam essa possibilidade, em grande parte devido ao apoio de outro vizinho, a China.

Pequim deixou claro que está determinada a evitar uma erupção política em suas fronteiras. Ela tem adotado medidas consistentes para ajudar a Coreia do Norte quando esta enfrentou escassez severa de alimentos e energia, assim como buscou assegurar que as sanções internacionais, visando punir o Norte pelo desenvolvimento de armas nucleares, não fossem debilitantes.

Kim Jong Il fez duas visitas à China nos últimos meses para reforçar seu apoio. A China disse que o Kim mais jovem não fazia parte da delegação de seu pai em visita ao país há um mês, mas autoridades americanas disseram acreditar que o filho esteve presente na viagem e pode ter se encontrado com as autoridades chinesas informalmente.

“O que preocupa mais a China é a estabilidade, a estabilidade da Coreia do Norte, da Península Coreana e do Nordeste da Ásia”, disse Xu Wenji, um especialista em Coreia do Norte do Instituto Nordeste da Ásia, da Universidade de Jilin. “Logo, a preocupação com a estabilidade está acima de tudo mais neste assunto para o governo chinês.”

Os motivos para a elevação da irmã de Kim Jong Il, Kim Kyong Hui, e Choe Ryong Hae, um velho amigo do líder norte-coreano e um membro de seu círculo interno, juntamente com a promoção de Kim Jong Un, são incertos.

Especialistas sugerem que os três, juntamente com o marido da irmã, Jang Song Taek, podem acabar formando um novo grupo de governo com poder para manter as forças armadas sob controle e dar continuidade à dinastia Kim, pelo menos até que o filho possa substituir plenamente seu pai.

A promoção da irmã pegou alguns analistas de surpresa. Cha, da Georgetown, disse que ela representou um reconhecimento público para alguém que já estava no poder nos bastidores da dinastia Kim. Ele disse que ela foi a confidente e a mulher mais próxima de Kim Jong Il, cujas esposas e mãe estão mortas, e que ela até mesmo cuidou do líder quando ele adoeceu.

Há pistas de que alguns moderados também ganharam poder. Kang Sok Ju, um vice-ministro das relações exteriores, foi batizado vice-primeiro-ministro, e Kim Kye Gwan, o negociador chefe do Norte nas negociações nucleares envolvendo seis países, assumiu o posto de Kang. Outro negociador, Ri Yong Ho, também foi promovido.

As autoridades americanas disseram não ter visto o suficiente para prever com confiança como a sucessão afetaria as ações e políticas da Coreia do Norte.

Kurt M. Campbell, um secretário assistente de Estado, disse aos repórteres em Nova York, na segunda-feira, que os Estados Unidos estavam “observando cuidadosamente os desdobramentos na Coreia do Norte”.

“Mas francamente”, ele disse, “ainda é cedo demais para dizer em termos de próximos passos, ou na prática, o que está acontecendo dentro da liderança do país”.

Reportagem de Martin Fackler, em Tóquio, e Mark McDonald, em Seul (Coreia do Sul). Andrew Jacobs, em Pequim (China), Choe Sang-hun, em Palo Alto, Califórnia (EUA), e David E. Sanger, em Washington (EUA), contribuíram com reportagem adicional.

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