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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Guerra civil na Síria obriga "russos" a voltar para região do Cáucaso

Filho dos "repatriados" sírios en Sujum, Abcásia

Carregada com uma sacola de brinquedos e roupas, a ativista cívica Tsiza Gumba é recebida como uma mãe pelos repatriados da Síria, crianças e adultos que se alojam na residência Aitar de Sukhum, capital da Abcásia. Às margens do mar Negro, na sede de uma missão fechada da ONU, dezenas de cidadão sírios descendentes dos makhadzhiri, como se chamam os refugiados da expansão imperial russa no Cáucaso na segunda metade do século 19.

Aqueles abcases compartilharam o destino com outros povos divididos pela conquista russa, como os ubijos, adigos ou shapsugs. Essas comunidades exiladas para o Império Otomano receberam o nome de cherquesos ou circasianos. A maioria dos cerca de 6 milhões de cherquesos vive na Turquia. Outros contingentes menores estão na Síria e na Jordânia. O ministro das Relações Exteriores da Abcásia, Viacheslav Chírikba, estima que entre 300 mil e 500 mil abcases de origem vivem na Turquia e menos de 10 mil na Síria.

Separada da Geórgia em uma guerra cruel (1992-1993), a Abcásia foi reconhecida como Estado pela Rússia e mais alguns países em 2008. Apesar de suas limitações internacionais econômicas, a Abcásia lançou um plano de repatriação baseando-se em leis que transmitem a nacionalidade via paterna. Nem sequer Moscou, inquieta pelo fator islâmico, atende de forma tão sistemática a seus cherquesos, que desde o início da guerra na Síria buscam refúgio no norte do Cáucaso.

Pela viagem, alojamento, manutenção e formação linguística, cada abcase-sírio repatriado custa 300 mil rublos (cerca de 7.600 euros) ao orçamento da Abcásia, segundo o chefe do comitê de repatriação, Zurab Adleyba. A sociedade local se mobilizou com doações, afirma Gumba.

Tudo começou quando vários ativistas se dirigiram em janeiro ao presidente da Abcásia, Alexandr Ankvab, explica Gumba. "O agravamento na Síria desperta preocupação entre os cidadãos de Abcásia devido à ameaça às vidas de nossos compatriotas, abcases étnicos (...), descendentes diretos dos refugiados que abandonaram o território histórico dos abcases (...) como resultado das guerras russo-caucásicas e russo-turcas e outros eventos do século 19", afirmavam em seu apelo.

As autoridades enviaram uma missão de reconhecimento à Síria, com ajuda russa. Seguiu-se uma primeira onda de cerca de 40 imigrantes, que com vistos de trânsito russos chegaram à Abcásia em maio partindo de Damasco, via Moscou. A Abcásia receberá um segundo grupo de 110 a 120 pessoas este mês.

Na residência Aitar, os sírios abcases esperam que sejam terminadas as moradias que ocuparão. Alguns têm trabalho e outros o procuram enquanto aprendem abcase, um idioma que sua geração não fala. Os repatriados receberam passaportes abcases com seus sobrenomes históricos, recuperados graças aos arquivos de associações de cherquesos da Síria, sobrenomes que diferem de seus nomes árabes na Síria.

"Os primeiros repatriados vieram da Turquia e da Síria no início dos anos 1990, antes da guerra. Uma parte foi embora durante os duros anos de bloqueio que se seguiram, mas ao todo restam cerca de 2 mil pessoas", afirma Chírikba, segundo o qual a imigração para a Abcásia aumenta por um motivo: "Nosso crescimento econômico é de 8%". Também voluntários abcases da Turquia e da Síria vieram combater os georgianos no início dos anos 90 e alguns, como Farid Ariutaa, morreram nessa guerra que culminou em 1993 com o êxodo de 200 mil georgianos.

Na época soviética, os georgianos chegaram a ser o grupo mais numeroso na Abcásia, quando era uma autonomia da Geórgia. Em 1989 a Abcásia tinha mais de 500 mil habitantes. Segundo o censo de 2011 tem 240 mil, dos quais 122 mil abcases e 43 mil georgianos. Campos abandonados e casas destruídas salpicam a paisagem despovoada, especialmente longe da costa. Mas as autoridades vetam o retorno dos georgianos. Alegam que colaboraram com a expedição militar enviada por Tbilisi em 1992 e que Stálin alterou a composição étnica da Abcásia.

Diferentemente de seus companheiros, Basel Marshán fala russo, porque estudou microeletrônica em Nalchik, no Cáucaso russo. Em Damasco trabalhava em um ministério e tinha carro oficial. Agora trabalha em uma empresa de telefones celulares. Seu irmão, Aus Marshán, dentista, fala inglês, mas não russo nem abcase e tem um trabalho provisório. "Nosso avô, que viveu 107 anos, foi embora da Abcásia em 1895, se escondeu nas montanhas de Karachayevo-Cherquesia, e dali fugiu para a Turquia. Sempre soubemos que éramos abcases. Da Turquia nossa família passou para a Síria. Até a guerra árabe-israelense de 1967 vivemos nas colinas do Golã, depois em um povoado perto de Damasco", conta Basel. "Criamo-nos entre os árabes, mas nunca nos adaptamos totalmente..."

Também não será fácil para Mogamed Gechba, que trabalhava na embaixada dos EUA na Síria e veio com sua família, exceto um irmão que ficou em Damasco. Parte dos emigrantes observa o Ramadã. Na Abcásia, de maioria cristã, não há mesquitas. E alguns se perguntam se os refugiados criarão raízes.

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