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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Der Spiegel: Massacre em mina da África do Sul explicita impopularidade do partido criado por Mandela

O lendário partido de Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano está se destruindo. A corrupção, o corporativismo, as divisões internas e, mais recentemente, o massacre da mina de Marikana estão drenando a base do partido – e destruindo a economia do país

Mulher que participa de grupo religioso lamenta a morte de 34 mineiros, assassinados pela polícia no dia 16, em mina de platina da empresa Lonmin, próxima à cidade de Rustenburg, na África do Sul
Ele ainda era criança, quando 18 anos atrás os racistas brancos perderam o poder e os sul-africanos negros se libertaram do apartheid. Hoje, Mhlangabezi Ndlelen está sentado diante de seu barraco de chapas de metal em Wonderkop, uma favela a cerca de 100 km de Johannesburgo. A minúscula cabana –de seis metros quadrados- abriga Ndlelen, a mulher e os filhos. Ndlelen tem uma cama e uma mesa, mas não tem água corrente.

Ele tira um contracheque da jaqueta. A empresa de mineração Lonmin paga a ele o equivalente a 600 euros (em torno de R$ 1.500 ) por mês para operar guindastes a 1.000 metros de profundidade. “Simplesmente, não é o suficiente”, diz ele. “Tenho que alimentar minha mulher e três filhos com o dinheiro.” Ndlelen estava entre os 3.000 funcionários que entraram em greve na mina de platina de Marikana, há mais de duas semanas.

Os trabalhadores estavam pedindo à Lonmin que dobrasse seus salários. Eles dançavam, cantavam e carregaram lanças e facas. Na quinta-feira dia 16 de agosto, a polícia finalmente perdeu a paciência e atirou contra a multidão com armas automáticas. No final, 34 dos colegas mineiros de Ndlelen estavam mortos.

Ou seja, policiais negros trituraram trabalhadores negros, exatamente como a política do apartheid fazia contra manifestantes negros. O banho de sangue é um desastre para o Congresso Nacional Africano (CNA), que governa o país desde 1994. Mas o partido do herói nacional Nelson Mandela já estava perdendo autoridade e credibilidade há anos e hoje em dia é visto como corrupto, incompetente e arrogante.

Como Ndlelen, uma grande parcela da maioria negra ainda vive em barracos. As escolas sul-africanas são tão miseráveis quanto o sistema de saúde; o desemprego entre os jovens é superior a 50%. O vão entre ricos e pobres hoje é ainda maior do que era no governo branco.

Além disso, a corrupção é praticamente inerente às estruturas do CNA. “Está comendo o país”, diz um membro sindicalista. A economia sul-africana está se enfraquecendo na medida em que o caos, o alto índice de crimes e o comportamento arbitrário das autoridades assustam os investidores. A África do Sul corre o risco de cair para o status de nação em desenvolvimento, apesar de as quatro novas potências econômicas do mundo –Brasil, Rússia, Índia e China- terem acabado de aceitar o país em seu clube, em 2011.

Partido em desintegração
Há muitos anos, que o que salva o CNA nas eleições é a vitória lendária sobre os brancos e a santidade que cerca os sucessores de Mandela.

Foi por causa de Mandela, hoje com 94 anos, que a revolução permaneceu pacífica. Ele passou mais de 27 anos na prisão e ainda assim instou seus compatriotas a se conterem. Ao fazê-lo, ele evitou uma campanha de represália sangrenta por negros contra os opressores brancos.

Mas agora os rivais do seu partido estão se tornando mais fortes. A Aliança Democrática, liderada pela ativista de direitos civis branca Helen Zille, critica fortemente o CNA por corrupção e desperdício. E o Congresso do Povo, uma cisão do CNA, está roubando votos do partido governante entre membros da classe média negra.

A população da África do Sul, de quase 50 milhões, vai votar novamente em 2014. O presidente Jacob Zuma, líder do CNA, planeja concorrer à reeleição. Mas o massacre de Marikana pode prejudicar suas chances.

“Por que ele não veio conversar conosco depois do tiroteio?”, pergunta Ndelen. “E por que, em vez disso, foi falar com a administração e alguns poucos feridos no hospital?”

Como Ndlelen, muitos trabalhadores não se sentem representados pelo CNA há muito tempo. As maiores autoridades do partido vivem uma vida de luxo obsceno. Envolvidos em suas intrigas e lutas pelo poder, ele s parecem ter se esquecido do bem estar dos partidários comuns do CNA.

“A luta pelo poder na África do Sul não ocorre nas eleições. Está sendo travada dentro do CNA”, diz Gareth Newman do Instituto de Estudos de Segurança em Pretória. Isso porque o CNA ainda funciona como uma organização de combate.

Como se ainda tivessem que ser protegidas de espiões, as reuniões do partido são fechadas ao público. A lista de candidatos é decidida a portas fechadas, e algumas vezes as reuniões são violentas. Na última convenção do partido, os seguranças tiveram que usar spray de pimenta para separar delegados que estavam aos socos.

As disputas violentas não são surpresa, porque estão em jogo privilégios e muito dinheiro. Como governa sozinho, o CNA é livre para distribuir cargos e outras vantagens da forma que desejar.

Muitos membros do CNA são chamados de “empreendedores do governo”. Eles ganham contratos com o governo e pagam por eles com sua lealdade política. Um comitê investigador do tribunal de contas concluiu que, em 2009, três quartos de todos os contratos da província Eastern Cape foram dados a empresas de propriedade de membros do governo e seus parentes.

Desafios internos
Zuma enfrenta uma dura batalha para ser escolhido como principal candidato do CNA nas próximas eleições. Seus oponentes mais fortes são o atual vice-presidente Kgalema Motlanthe e o ministro de Assentamentos Humanos, Tokyo Sexwale, empresário bilionário. Zuma ficou enfraquecido desde que brigou com Julius Malema, ex-diretor da Liga Jovem do CNA.

Malema, 31, cultiva uma imagem de rapper. Ele gosta de usar camisetas e correntes de ouro grandes e dirigir carros vistosos. Ele tem patrocinadores ricos que preferem se manter discretos, dá grandes festas e gosta de beber Johnnie Walker Blue Label.

Contudo, o político populista capturou o espírito dos jovens negros esperando para finalmente se beneficiarem da mudança de regime na África do Sul. Malema tenta canalizar as frustrações e ódios deles contra os outros, pedindo a expropriação de fazendas de brancos e xingando “os imperialistas americanos” que estariam subjugando o país. Em uma medida rara, o CNA expulsou Malema do partido por causa de suas diatribes.

Após o massacre da mina, Malema imediatamente foi a Marikana. “Vocês não têm mais um presidente”, disse aos sobreviventes. Malema se vê como a voz da classe baixa, das pessoas que não se beneficiaram com o fim do apartheid. Ninguém sabe exatamente o que ele planeja fazer em seguida. Os sul-africanos especulam que ele pode estabelecer um partido próprio. Também é possível que ele volte ao CNA, agora que ele reforçou sua posição.

Moeletsi Mbeki, 66, irmão do ex-presidente Thabo Mbeki, um homem refinado e carismático que prefere falar em vez de ouvir os outros, é tido como a voz da classe alta crítica dentro do CNA. Ele usa ternos caros e investe em empresas de logística e da mídia. Pessoas como Mbeki são conhecidas como “diamantes negros”, porque sabem fazer dinheiro.

“Há algo de muito errado com a África do Sul”, diz Mbeki, “em particular em como a elite política está administrando o país”. Ele escreveu um livro sobre a classe governante corrupta no continente, como se ele mesmo não fizesse parte da casta dos poderosos. Ele se refere a muitos outros políticos negros como “arquitetos da pobreza” cujo “principal objetivo é maximizar seu próprio consumo e dos que os mantêm no poder”.

Mbeki teme que, “no longo prazo, o CNA perca o poder”. Ele prevê que novos grupos vão se desenvolver junto com o velho partido e que as pessoas vão começar a despertar.

Uma dessas pessoas é Mhlangabez Ndlelen, o operário da mina em Wonderkop. Há muito tempo que reclama do sindicato dos mineiros, que tem laços com o CNA. “Eles não fazem nada por nós, estão na cama com a administração, pegam os melhores cargos e vão embora –e nós ficamos para trás”, diz ele. Não foi o sindicato dos mineiros e sim um sindicato independente e radical que organizou a greve desastrosa em Marikana.

“Estávamos sentados em umas pedras quando eles apareceram e tentaram nos cercar com arame farpado e tanques”, diz Ndlelen. Ele correu mais rápido que em toda sua vida. “Havia helicópteros circulando no céu. E depois ouvimos os tiros”. Ele diz que nunca mais votará em Zuma.

3 comentários:

  1. E a televisão irresponsável a mostrar sem censura o video do massacre...

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    1. Sinceramente? Eu não achei a TV sul-africana irresponsável, muito pelo contrário, achei-a combativa.

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    2. Eu tava a falar das notícias daqui que poem esses videos sem censura.

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