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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A estratégia do Taleban afegão


Infiltradas, forças do Afeganistão definham na medida em que não sabem em quem confiar entre seus camaradas

Militantes do Talibã 
As guerras nem sempre são ganhas com batalhas decisivas; muitas vezes, elas são conflitos nos quais qualquer ação que quebre a vontade de lutar do adversário é mais um passo para a vitória.

No Afeganistão, o Taleban mira justamente a vontade da comunidade internacional e do governo de Hamid Karzai, infiltrando-se de maneira sistemática nas forças de segurança afegãs com a finalidade de miná-las internamente.

Os ataques perpetrados por soldados e policiais afegãos contra membros das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - seus parceiros na coalizão - não constituem incidentes isolados. Ao contrário, refletem uma estratégia taleban profundamente arraigada na história do país.

Desde o início do ano, ocorreram 31 ataques, que deixaram 40 mortos. O brigadeiro Günter Katz, um porta-voz da Otan, disse recentemente aos repórteres que esses episódios eram em grande parte fatos isolados causados em geral por problemas pessoais, stress e fadiga decorrentes da batalha.

Entretanto, se a tendência persistir, 2012 registrará o dobro de incidentes em relação a 2011, apesar da redução do número de tropas da coalizão no Afeganistão.

Somente no caso dos Estados Unidos, essas ameaças internas representam atualmente 33% de todas as baixas. Os soldados estão expostos a um risco cada vez maior de serem mortos pelos colegas afegãos que eles deveriam treinar e assessorar.

O aumento dos ataques representa uma mudança catastrófica neste conflito. Os insurgentes estão perdendo terreno no campo de batalha. As bombas colocadas nas margens das estradas e os ataques contra personalidades de destaque, embora sempre mortais, deixaram de produzir um efeito chocante como antigamente. Submetidos a uma pressão cada vez maior, grupos como o Taleban procuram maneiras mais baratas para atacar a coalizão e as forças de segurança afegãs. As ameaças internas permitem aos insurgentes preservar seu poderio de combate empurrando ao mesmo tempo as forças internacionais para a saída.

Esses ataques atuam como uma espécie de cunha que se insere entre os assessores estrangeiros e seus parceiros afegãos. A infiltração quebra a confiança. Os ataques são uma forma de luta desgastante para os assessores estrangeiros, ao mesmo tempo em que prejudicam a qualidade do treinamento.

As forças afegãs vão definhando na medida em que os comandantes não sabem em quem confiar entre suas fileiras. A população tem a impressão de que seu Exército é uma força debilitada. A guerra de vontades torna-se uma guerra pela sobrevivência.

O Taleban não precisa ganhar no campo de batalha. Precisa apenas que os países estrangeiros e os afegãos reduzam o seu apoio ao governo.

A introdução de uma cunha entre os parceiros e a destruição de sua confiança favorece a realização do seu objetivo. O inimigo está se adaptando a essa necessidade. Por outro lado, a infiltração e o subterfúgio são aspectos persistentes da forma de guerrear dos afegãos.

A história afegã está repleta de histórias de intrigas e subterfúgios nos quais o adversário é enfraquecido internamente e os grandes exércitos acabam minguando.

O assassinato de Nader Shah Afshar, o xá da Pérsia de 1688 a 1747, por membros do sua segurança interna levou seu assessor mais próximo, Ahmad Shah Durrani, a fugir com forças leais e ele e a reunir ao seu redor as tribos afegãs em Kandahar, onde constituíram o antecessor do moderno Estado afegão, o Império Durrani.

Durante a Primeira Guerra Anglo-Afegã (1839-1842), os britânicos ajudaram Shah Shuja a retomar o poder do seu irmão, Mohammed Shah. Na Batalha de Maiwand, na Segunda Guerra Anglo-Afegã (1878-1880), frequentemente mencionada na propaganda taleban, os britânicos sofreram graves deserções das tropas afegãs.

A mesma tendência é evidente na história militar contemporânea do Afeganistão. As deserções em massa de unidades do Exército afegão das forças soviéticas foram frequentes durante a jihad anticomunista.

Durante a guerra civil afegã, as facções mudavam continuamente de lado para ganhar vantagem.

O caudilho usbeque, Abdul Rashid Dostum, trocou de lado três vezes. Em 1996, Gulbuddin Hekmatiar deixou de combater a Aliança do Norte, liderada pelos tajiques, para unir-se às forças destes e combater o Taleban. Karzai fez com que vários líderes tribais aderissem ao Taleban quando tomou Kandahar com o apoio da coalizão, em 2001.

Nesse contexto histórico, será fácil perceber que os ataques contra as forças da Otan não podem ser considerados incidentes isolados, e urge reconhecer a gravidade da situação ou a estratégia taleban.

Os insurgentes estão minando as forças nacionais de segurança afegãs em suas próprias fileiras.

Um adversário com grande capacidade de adaptação visa deliberadamente a confiança conquistada a duras penas entre os parceiros afegãos e as forças da coalizão. Portanto, o primeiro passo para debelar essa doença é o diagnóstico do problema.

* É PROFESSOR ASSISTENTE DA SCHOOL OF INTERNATIONAL SERVICE DA AMERICAN UNIVERSITY, NA QUALIDADE DE OFICIAL GRADUADO DA GUARDA NACIONAL DE MARYLAND, SERVIU NO AFEGANISTÃO


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