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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Le Monde: Hollande se antecipa e diz que reconheceria governo provisório da nova Síria


François Hollande
François Hollande, discreto sobre questões internacionais em sua campanha eleitoral, durante a qual ele havia decidido não pronunciar discursos de política externa, apresentou nesta semana, sua visão de mundo e do lugar que a França deve ocupar nele. Uma visão que pode se assemelhar a uma forma de síntese entre as diferentes correntes de pensamento existentes dentro da esquerda sobre as questões internacionais, sendo que o mundo mudou radicalmente desde os anos Mitterrand, ainda citados como referência por parte do PS.

Mas aparentemente o chefe do Estado se empenhou em fazer um gesto de grande impacto a respeito da Síria, ao anunciar, antes mesmo que fosse formado, que a França reconheceria o "governo provisório da nova Síria" assim que este for criado - o que não é pouco, considerando as diferenças que ainda há entre os opositores a Bashar Assad. Hollande estabeleceu condições, e disse querer "um governo provisório inclusivo e representativo" para "se tornar o representante legítimo da nova Síria".

Toques "sarkozyanos" parecem ter entrado nesse anúncio, repetindo o dramático reconhecimento, em março de 2011, do Conselho de Transição Líbio de Benghazi. Alguns diplomatas disseram em off que o anúncio havia sido "precipitado". Hollande na verdade estava respondendo a um pedido feito pela oposição síria, que ele recebeu ao voltar de férias, tendo também em mente as críticas da direita francesa que o atacaram este verão, sem esquecer Bernard-Henri Lévy, a respeito de sua suposta covardia sobre essa questão.

De qualquer forma, no plano da diplomacia pública a França se colocou como líder no terreno da oposição síria. Nem os Estados Unidos, nem os parceiros europeus, árabes ou turcos até agora indicaram publicamente sua intenção de tomar a iniciativa de um "reconhecimento", mas diálogos parecem estar programados.

Mas o presidente também adotou claramente uma abordagem "ocidental" da questão, em se tratando de armas químicas sírias: ele seguiu a administração Obama e os britânicos, que já haviam declarado que o emprego dessas substâncias pelo regime de Damasco seria motivo para uma intervenção externa.

Quanto à síntese, havia no discurso do chefe do Estado inflexões onde cada um podia se beneficiar de alguma forma, fossem os partidários de um "gaullo-mitterranismo" defendido pelos amigos de Hubert Védrine, fossem aqueles que pendem para um caráter mais "atlantista", reunidos, durante os debates internos da campanha presidencial, em torno de Pierre Moscovici. A distância entre essas duas correntes certamente não deve ser exagerada, mas a busca por uma combinação certamente estava lá, nesse discurso pronunciado diante dos embaixadores franceses reunidos no Eliseu durante sua "conferência" anual.

A França deixa assim de ser exclusivamente um membro da "família ocidental" apreciada por Nicolas Sarkozy, mas ela deve ser, segundo Hollande, uma "ponte entre o Oriente e o Ocidente", e exercer um papel de "mediadora do diálogo entre as civilizações" - expressão que Jacques Chirac certamente não teria renegado. Os princípios "característicos da ONU" da França, sem terem sido abandonados por Nicolas Sarkozy, são brandidos com veemência, uma vez que a França só deve participar das "intervenções de manutenção da paz ou de proteção da população em virtude de uma missão e, portanto, de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas".

Hollande retratou uma França decidida a "levar mais em conta a emergência de um mundo multipolar que ela tantas vezes defendeu", retomando ali também os ímpetos chiraquianos. Mas o chefe do Estado, ao mesmo tempo em que procura manifestamente introduzir diferenças em relação a seu antecessor no Palácio do Eliseu - como fizeram todos os presidentes da 5ª República ao chegar ao poder -, não se afasta tanto das alianças fundamentais, muito pelo contrário. Ele chega a proclamar uma, aparentemente distinta e bilateral, com os Estados Unidos, vistos, sobretudo, através da relação com Barack Obama, a quem Hollande manifesta apoios implícitos para sua reeleição.

As "convergências" com Obama, presidente americano que integrou a recomposição das potências e a "relatividade" do peso dos Estados Unidos, são colocadas em evidência. Nenhuma retirada do comando integrado da Otan foi anunciado, ainda que o caminho de uma retomada da defesa pela Europa seja explorada, sem que Hollande dê muita ênfase a esse assunto.

Aqueles que parte da esquerda em torno de Hubert Védrine chama, com certa caricaturização, de "neoconservadores franceses", também poderão constatar com satisfação a preservação de escolhas feitas na era Sarkozy. A declaração de princípios francesa em matéria de combate à proliferação nuclear foi inteiramente mantida, uma vez que essa ameaça constitui "a mais grave das incertezas", segundo Hollande.

Uma nuance digna de nota: foram-se as ameaças estrondosas contra o Irã e a sugestão de que seu regime deveria ser derrubado. "Seria inaceitável que o Irã se equipasse com armas nucleares", disse Hollande, mas essa crise deve dar lugar a um "acerto diplomático", e a França está disposta a aumentar as sanções.

Em relação aos anos Sarkozy, a mudança promete ser mais na relação com a Turquia e o Japão, países agora valorizados. O princípio europeu pretende se balizar em "um reforço do Eurogrupo" e na busca de "cooperações reforçadas", uma vez que a relação com a Alemanha é "fundamental", mas "não exclusiva". Hollande sabe que sua grande obra será a recuperação econômica em uma Europa atormentada pelas incertezas e cujo isolamento anuncia uma era de contenção nas "aventuras" externas.

Mas o perigo do "terrorismo que não desapareceu", mencionado brevemente pelo presidente ao passo que Sarkozy fazia disso um grande tema de mobilização dos democratas ocidentais, levará a França a "agir" no Sahel, mas somente "em apoio" aos países da região.

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