No final da 2ª Guerra Mundial, o ditador nazista Adolf Hitler ainda tinha esperanças de que a tecnologia avançada pudesse virar a mesa a seu favor. Um desses projetos, o jato de guerra Messerschmitt, encontrou espaço numa região remota da Alemanha oriental. Mas já era tarde demais.
Levou quatro anos e meio, mas finalmente, em 20 de março de 1944, a 2ª Guerra Mundial - e mais especificamente a indústria de armamentos - se deslocou para um lugar remoto da Alemanha oriental chamado Lausitz. À medida que os aliados empreendiam um número cada vez maior de ataques aéreos contra os centros urbanos e industriais da Alemanha, as grandes fábricas de armamentos da Alemanha nazista começaram a buscar exaustivamente lugares apropriados para se mudar - quanto mais isolados e imperceptíveis fossem, melhor. De fato, em 1943, Hermann Göring, comandante da Luftwaffe [Força Aérea alemã], já havia feito planos para transferir a indústria de aviação para áreas que dificilmente seriam bombardeadas pelos aliados.
Levou um ano até que a Junkers, uma fabricante de aviões e motores de Dessau, se mudasse para uma fábrica que pertencia à companhia têxtil Moras Brothers, em Zittau, que hoje fica próxima à fronteira alemã com a Polônia e a República Tcheca.
Disfarçada sob o nome de Zittwerke AG, a companhia estava longe da mediocridade no que diz respeito à produção de armamentos. Zittau seria o lugar onde o primeiro motor de jato pronto para o uso do mundo seria montado, o mesmo motor que propulsionaria a arma secreta de Hitler, o jato de guerra Messerschmitt Me 262.
Jürgen Ulderup, da fábrica de Junkers em Dessau, foi encarregado de assumir o gerenciamento da produção em Zittau. Ele estabeleceu imediatamente uma rede de fábricas em toda a região, todas ultrassecretas. A chave para fazer o projeto deslanchar foi ele ter solicitado que 18 companhias têxteis há muito estabelecidas abrissem espaço em suas fábricas para a produção de armamentos. Algumas companhias tiveram de entregar totalmente suas fábricas. Isso foi um golpe para a indústria têxtil da região, que já estava com problemas e havia sido convertida para a economia de guerra.
Cerne do empreendimento
Mas vencer a guerra era prioridade, e a região remota da Alemanha nazista passou a produzir componentes para o motor de jato clandestino. Ulderup contratou 2.500 funcionários e colocou-os para trabalhar nas fábricas da Zittwerke, sob a direção de especialistas da indústria da aviação. Eles trabalhavam na fábrica Moras, na companhia têxtil Haebler Brothers em Zittau, no moinho de tecelagem mecânica Rudolf Breuer em Reichenau, na companhia Kreutziger & Henke em Leutersdorf, no moinho de tecelagem Ebersbach e em 13 outras fábricas localizadas em cidades e vilarejos da região.
Mas o centro do empreendimento funcionava num antigo campo de prisioneiros da 1ª Guerra Mundial, onde hoje fica a cidade polonesa de Porajów - um campo que tinha sido convertido para uso das forças armadas alemãs. A fábrica, guardada pelo 17º batalhão SS Totenkopf, simplesmente se instalou em vários alojamentos militares inacabados.
No lugar mais protegido do complexo, atrás de várias fileiras de arame farpado, estava o prédio da administração, onde uma unidade do campo de concentração de Gross-Rosen estava alojada. Junto com prisioneiros de guerra e dos chamados "trabalhadores do leste" - mão-de-obra forçada vinda de países como a Ucrânia - cerca de 850 prisioneiros do campo de concentração faziam a maior parte do trabalho nas fábricas Zittwerke.
Não muito tempo depois que a Junkers se estabeleceu, o som da indústria tomou conta do vale do rio Neisse, dia e noite. Rumores de uma "arma milagrosa" circulavam entre a população local, mas ninguém sabia exatamente o que a fábrica produzia. Só depois da montagem final o objeto em questão pode ser reconhecido: um motor turbo especial para um novo tipo de jato de guerra.
Me 262s novos em folha
Os técnicos já haviam testado os motores. Um avião Messerschmitt, o Me 262-V1, com um motor de jato Junkers Jumo 004A-0, decolou já em 2 de março de 1943. O teste foi bem sucedido. E não demorou para que as fábricas de Zwittau dominassem todos os aspectos da produção do motor, desde a pré-montagem até o envio.
As fábricas tinham uma boa conexão com a rede ferroviária do Terceiro Reich, com vagões de transporte cobertos que carregavam os motores montados - depois de inspecionados - para o sul. Lá, nas florestas em torno das cidades de Regensburgo e Augsburgo, na Bavária, operários instalavam os novos motores nos jatos. Uma autoestrada das proximidades funcionava como pista, onde os Me 262s novos e folha decolavam para seu primeiro voo de teste. Só então eles seriam colocados em trens de carga para serem entregues à Luftwaffe.
Os nazistas tinham grande esperança nos novos jatos. No começo de 1945, com os russos cercando pelo leste e os EUA e a Inglaterra marchando a oeste, estava claro que a Alemanha estava prestes a sofrer uma derrota catastrófica, mas a liderança nazista se recusava a abrir mão da esperança. Em 28 de fevereiro de 1945, o ministro de propaganda Joseph Goebbles anunciou à nação que a "arma milagrosa" dos alemães em breve mudaria o rumo da guerra.
Em Zittau, entretanto, havia indícios de sobra de que era tarde demais. Um dia antes do discurso de Goebbles, a cidade de Görlitz, ao norte de Zittau, havia sido declarada como parte da frente de guerra.
Os trabalhadores das fábricas de motores de jato já podiam ouvir o estampido das armas inimigas.
Evacuação desesperada
Não demorou para que a desesperada evacuação da cidade começasse. Um contra-ataque da Wehrmacht [força de defesa alemã] próximo à cidade de Luba, na atual Polônia, nos dias 7 e 8 de março conseguiu afastar um pouco o Exército Vermelho. Mas depois de muitas baixas de ambos os lados, os soviéticos impediram o avanço alemão e as fábricas interromperam a produção.
Dada a importância do projeto do motor de jato, não levou muito tempo para que acontecesse a evacuação tanto dos trabalhadores quanto das máquinas. No começo de março, dois trens especiais, carregando os principais elementos da linha de montagem foram enviados de Zittau para o oeste, um no dia 6 e outro no dia 10. Eles foram parar na cidade de Nordhausen, localizada no Estado de Thuringia, a cerca de 100 quilômetros a oeste de Leipzig.
Soldados da Luftwaffe, que haviam guardado as várias fábricas da Zittwerke que produziam motores para o Me 262, também embarcaram no trem em Zittau. Dois trens com mais de 500 pessoas saíram diretamente das fábricas para Halberstadt, em Saxônia-Anhalt. Um último trem, que pertencia à Wehrmacht, saiu em 30 de abril, poucos dias antes do fim da guerra, supostamente carregando as últimas unidades militares.
Vala comum
Mas os nazistas não evacuaram completamente. Dentro da área militar restrita, permaneceram os trabalhadores forçados e os prisioneiros de campos de concentração. Muitos morreram. Um médico da fábrica expediu 70 atestados de óbito escritos à mão em abril e no começo de maio. As causas das mortes eram principalmente "insuficiência cardíaca aguda com astenia", "tuberculose pulmonar", "pneumonia" ou "escorbuto".
O papel que o gerente da Zittwerke, Jürgen Ulderup, teve nessas mortes ainda é um mistério. De acordo com seus próprios relatos, Ulderup fugiu de bicicleta de Zittau para Osnabrück, no oeste da Alemanha, nos últimos dias da guerra, com uma mochila lotada de barras de cobre. Seu motorista já havia desaparecido antes, com o carro da companhia, de acordo com o antigo gerente da fábrica nazista.
Hoje, apenas um túmulo coletivo no cemitério feminino de Zittau faz lembrar que a chamada "arma milagrosa" foi produzida no local. Um gramado bem cuidado cobre a área do cemitério, onde vítimas civis da 2ª Guerra Mundial estão enterradas. Entre elas, estão os prisioneiros e trabalhadores forçados que deram seu suor para a última tentativa da Alemanha nazista de virar a mesa durante a ofensiva destruidora da 2ª Guerra Mundial.
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