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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Correspondências de diplomatas revelam como estrangeiros subestimaram a ascensão de Hitler

 "A situação política está tão complicada agora e está sujeita a tantos fatores psicológicos que é impossível fazer qualquer previsão definitiva", escreveu George S. Messersmith, o cônsul-geral dos Estados Unidos em Berlim de 1930 a 1934, em um despacho para o Departamento de Estado de 3 de fevereiro de 1933.

Quatro dias antes, o chanceler do reich Kurt von Schleicher foi afastado apenas semanas após sua eleição. Seu substituto foi Adolf Hitler. "Pode ser aceito, eu acredito", escreveu Messersmith, "que se o regime de Hitler durar alguns poucos meses ou um período mais longo, será apenas uma fase no desenvolvimento de condições políticas mais estáveis e que este governo será seguido por um que exibirá maiores elementos de estabilidade do que os que a Alemanha teve nos últimos anos. As pessoas estão politicamente cansadas".

Juntamente com outros observadores, os diplomatas em Berlim em 1933 não reconheceram imediatamente que a nomeação do novo governo marcava um ponto de virada histórico. Naquele estágio inicial, ninguém previu que o regime nazista duraria 12 anos e terminaria com um desastre da escala da Segunda Guerra Mundial. O Gabinete de Hitler era visto como apenas outro de uma série de governos alemães de vida mais ou menos curta.

Um dia após os pronunciamentos de Messersmith, o embaixador americano Frederic M. Sackett notou que as tensões políticas estavam novamente visíveis e que "a composição do atual Gabinete, com seus elementos normalmente discordantes, cria um terreno fértil para problemas". Sackett não acreditava que os nacional-socialistas eram fortes o bastante para governar. Suas dúvidas pareciam ser confirmadas pelo número e descrições dos cargos ministeriais dentro do Gabinete –Wilhelm Frick foi nomeado ministro do Interior, Hermann Göring um ministro sem pasta.

Na opinião de Sackett, o verdadeiro poder estava nas mãos do vice-chanceler Franz von Papen e do ministro da Economia, Alfred Hugenberg. Era uma visão semelhante às observações iniciais de seus colegas americanos. Em 30 de janeiro de 1933, a embaixada em Berlim enviou um telegrama relatando a nomeação de Hitler e do novo Gabinete, enfatizando a "influência reacionária e monarquista" em ação no novo governo. Inicialmente, muitos diplomatas acreditavam que essa contenção conservadora de Hitler asseguraria que a agenda do governo não seria determinada pela ideologia radical dos nacional-socialistas.

Mas nas semanas subsequentes, o regime deu início à sua campanha de violência e terror –na esfera governamental e administrativa tanto quanto nas ruas. Foi apenas quando os consulados estrangeiros começaram a ver o aumento da demanda por vistos de imigração e um crescente êxodo para os países vizinhos que a importância dos eventos de 30 de janeiro começou a ser percebida.

Um golpe para a democracia
 Figuras influentes dentro do corpo diplomático –como o embaixador francês André François-Poncet, os embaixadores britânicos Horace Rumbold e seu sucessor, Eric Phipps, o emissário dinamarquês Herluf Zahle e o cônsul-geral Messersmith –apelidado de "George 40 páginas" em Washington por causa de seus longos relatos– relataram extensamente sobre a política nazista de "Gleichschaltung", a obrigação da conformidade política em todos os setores, da economia e associações setoriais até a mídia, cultura e educação.

"A democracia na Alemanha recebeu um golpe do qual poderá nunca se recuperar", escreveu Frederic Sackett após as eleições de 5 de março para o Reichstag, como o Parlamento alemão era chamado na época. "A Alemanha foi submersa sob a imensa onda nazista. O muito anunciado ‘Terceiro Reich’ se tornou uma realidade." No início de abril, André François-Poncet queixou-se de que os desdobramentos fracassaram em gerar "heróis ou mártires", e que a democracia alemã fracassou em salvar as aparências ou a si mesma.

Os diplomatas tentaram transmitir aos ministros de seus países o que significava viver em uma ditadura, que ainda tinha apelo para muitos como um "recomeço" após a crise dos anos anteriores. Ela encontrou apoio em um grande número de grupos sociais, incluindo ex-membros dos partidos dos trabalhadores da Alemanha. Os diplomatas se esforçavam para expressar que os oponentes políticos e as comunidades judaicas do país não eram os únicos que sofriam com a falta de lei e perseguição, mas também vários segmentos da população. O medo tomou conta da vida pública, com a maioria das pessoas aceitando o novo status quo devido à intimidação. Desde o início, os diplomatas também relataram sobre os comícios em massa para públicos fanáticos, incitados pela propaganda, com seu fervor radical aparentemente ofuscando até mesmo o do Partido Nazista.

As contradições em seus relatos não tinham nada a ver com suas posições políticas. A mesma confusão foi expressada por oponentes posteriores da guerra, potências neutras e até mesmo representantes da Itália fascista. Ela refletia a natureza do regime nazista. Desde sua criação, ele excluiu e perseguiu impiedosamente grupos demográficos ao mesmo tempo em que fornecia para aqueles que via como pertencentes à "Volksgemeinschaft", a "comunidade do povo (alemão)", incentivos materiais e ideológicos atraentes.

Perto do fim de março de 1933, o embaixador francês François-Poncet escreveu que, em muitos aspectos, "os nazistas demonstram uma dupla tendência. Alguns são destrutivos, gananciosos, ávidos por poder e dispostos a satisfazer as necessidades dos fanáticos revolucionários da SA", uma referência ao grupo paramilitar conhecido como "camisas marrons". Mas outros, acrescentou o embaixador, querem se apresentar como tendo moderação, razão e espírito de reconciliação política, e estão dispostos a conquistar os membros intelectuais da população.

Diante das circunstâncias, previsões confiáveis não eram possíveis naquelas primeiras semanas. Mas os ataques aos oponentes políticos dos nazistas –não conformistas e, acima de tudo, os judeus– se tornaram mais frequentes. Os observadores concordavam que a crescente violência e a "perseguição praticamente irrestrita de uma raça", como colocou Messersmith na véspera do boicote aos negócios judeus introduzido em 1º de abril, em algum momento levariam a atos de agressão internacional.

"Agora está claro que se trata do governo mais extremamente nacionalista que alguém poderia conceber", escreveu Messersmith em 9 de maio. "Apesar de desejar fervorosamente paz nos próximos anos para consolidar sua posição, há por outro lado todos os motivos para acreditar que assim que a consolidação for obtida, ‘a nova Alemanha’ lutará de todo modo para impor sua vontade ao restante do mundo."

Christoph Strupp é um pesquisador assistente do Centro de Pesquisa de História Contemporânea em Hamburgo (FZH).

Um comentário:

  1. Todos Subestimaram Hitler no começo, Mas ele era muito esperto e falava o que as pessoas presisava e queria ouvir. Numa epoca Dificil como aquela em que a alemanha estava ulmilhada por causa da primeira guerra mundia, e ainda com uma crise violenta trazendo desemprego em massa e muita Fome

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