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segunda-feira, 12 de março de 2012

Análise: O último mandato de Putin


Vladimir Putin
Em 7 de maio, dia de sua posse, Vladimir Putin se instalará no Kremlin, de onde ele nunca realmente saiu. Ele então assumirá a toga presidencial das mãos de Dimitri Medvedev, o presidente em final de mandato, que, está confirmado, será então nomeado primeiro-ministro.

Assim se realiza a metáfora da ampulheta. Agitado por um manifestante durante os grandes protestos de dezembro de 2011 contra as fraudes nas eleições legislativas, um cartaz resumia assim a situação: no alto, Dimitri Medvedev; embaixo, Vladimir Putin, com a cabeça dos dois compondo a figura de uma ampulheta, “a ser virada a cada seis anos”, duração do mandato presidencial.

Marcada por fraudes, a vitória no primeiro turno do “líder nacional” pode manchar um pouco mais sua imagem junto à classe média urbana (30% da população), que saiu às ruas nos últimos meses para declarar como está farta da “democracia dirigida”. Nascida do milagre econômico dos “anos Putin”, a “classe criativa”, como é chamada em Moscou, foi alimentada por viagens ao exterior, chats na internet e conversas em cafés.

Cansada do modelo de gestão ineficaz e corrupto imposto pela elite político-militar no poder, a juventude urbana está com sede de mudanças. Fim do Homo sovieticus: ela pede por abertura política, pelo surgimento de um poder judiciário independente e pelo adeus às mentiras.

Vladimir Putin tem escolha. Ele pode fazer concessões ou endurecer o tom, como fez ao longo de toda a sua campanha, uma hora comparando seus oponentes a macacos, outra a traidores a mando do Ocidente. Por enquanto, ele tem apostado em uma desaceleração do movimento de protestos.

A “classe criativa” definitivamente lhe virou as costas, mas não importa: o ex-tenente coronel da KGB ainda recebe o apoio da maioria dos russos. Oficialmente, 63% dos eleitores votaram nele; 53%, segundo observadores independentes da Liga dos Eleitores, uma ONG especializada no registro de fraudes.

Embora o eleitorado a favor de Vladimir Putin seja numeroso, sua motivação é fraca, comparada com a da oposição. “Os milhões de russos impregnados de paternalismo --funcionários públicos, aposentados, operários de conglomerados estatais-- contam com o Estado-providência para manter a estabilidade e melhorar seu nível de vida”, lembra o cientista político Igor Bunin.

Essas expectativas deverão ser satisfeitas. Durante sua campanha, Putin prometeu aumentos de salários aos policiais, aos militares, aos professores, aos médicos, bem como uma chuva de ouro --quase 600 bilhões de euros-- sobre o setor de armamentos, correndo o risco de jogar o orçamento no vermelho. A reforma crucial do sistema de aposentadorias, bem como os aumentos de tarifas de gás, de eletricidade, dos serviços públicos foram adiados para o verão de 2012.

Para o sociólogo Lev Gudkov, diretor do centro de pesquisas Levada, “essas generosidades não terão o mesmo efeito que em outras vezes, elas correm o risco de serem rapidamente corroídas pela inflação (...), além disso os aumentos das tarifas só estimularão o descontentamento que pode surgir logo no outono”. Segundo estudos sociológicos recentes, os russos da periferia votaram em Putin, mas eles estão tão insatisfeitos com o sistema quanto seus compatriotas urbanos. De Kaliningrad a Vladivostok, é o mesmo lamento: “Não há justiça, o Estado nos despreza.”

“Sejamos francos, a vida na Rússia não é um mar de rosas. Tanto os pró quanto os anti-Putin concordam com isso. A corrupção, a estagnação, o nível de vida não são os únicos problemas, há também o fato de que as necessidades fundamentais da população são ignoradas, não existe um estímulo para uma autorrealização, não há uma possibilidade de participação nas grandes decisões políticas”, afirma o jornal “Nezavissimaia Gazeta” em seu editorial de terça-feira (6).

Até hoje, não se fala em associar a população às grandes decisões. Desde 2004, os governadores não são mais eleitos, há muito tempo o Parlamento se limita a aprovar sem debater, e os partidos são feitos e desfeitos no Kremlin. No entanto, desde que ocorreram as manifestações, tem prevalecido o sentimento de que as coisas estão mudando.

Sob a pressão do povo, o presidente Medvedev iniciou reformas. Em breve será mais fácil criar um partido, e os governadores voltarão a ser eleitos pela população. Embora Vladimir Putin tenha falado em um “filtro” para os candidatos, selecionados primeiramente por ele mesmo e pelo FSB (agência russa de inteligência), a demanda por mudanças é tanta que ele não poderá escapar de uma verdadeira liberalização política, correndo o risco de perder o apoio de seu clã, essa nova oligarquia.

A segunda onda de reivindicações virá das regiões. Desde já, os jovens observadores que correram para os postos de votação, no domingo (4), para conter as fraudes, consideram colocar seu ativismo a serviço das eleições regionais. Novas cabeças que surgirão podem abalar o sistema arcaico de “lealdade em troca de remunerações” instaurado nos 12 últimos anos. É esse o paradoxo dessa eleição: Vladimir Putin foi eleito, mas seu sistema de poder está moribundo.

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