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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Serge Brammertz, promotor chefe do tribunal de Haia: "O julgamento pode abrir a porta para a reconciliação na Bósnia"

Ratko Mladic
Aos 49 anos, o jurista belga Serge Brammertz, curtido na luta contra o crime organizado, o terrorismo e as violações da lei humanitária internacional, enfrenta o segundo momento estelar de sua carreira.

Como promotor chefe do Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (TPIY),está prestes a ler para o ex-general sérvio Ratko Mladic as 11 acusações de genocídio e crimes de guerra e contra a humanidade que lhe atribuem pela guerra da Bósnia.

Há três anos Brammertz fez o mesmo com Radovan Karadzic, ex-líder político dos sérvios da Bósnia, que está sendo julgado agora em Haia, sede do TPIY. Mladic era o braço militar do ideólogo Karadzic, e o promotor está pronto para pedir justiça em nome de milhares de vítimas bósnias.

El País: Mladic vai comparecer finalmente diante dos juízes. O que o senhor pensou quando soube de sua detenção?
Serge Brammertz: Quando detiveram Karadzic, em 2008, ficamos muito contentes. Também nos frustramos por não termos Mladic na época. Poderíamos tê-los acusado de formar uma associação de malfeitores que cometeu os piores crimes perseguidos pelo TPIY. Esperamos um pouco mais, mas Mladic já vem. Eu estava na Croácia quando soube, e pensei nas mães de Srebrenica. Muita gente o associa ao passado. É um erro. O julgamento deve se realizar para que haja uma possibilidade de reconciliação na Bósnia.

El País: O advogado de Mladic diz que ele não suportará o processo. Como evitar atrasos semelhantes aos registrados com Milosevic, que foi a juízo em 2001 e morreu sem sentença em 2006?
Brammertz: Estamos analisando todas as frentes legais possíveis. Há alguns meses emendamos as acusações contra Mladic, que incluem Srebrenica, o sítio de Sarajevo e a limpeza étnica na Bósnia. Quando ele chegar a Haia, tomaremos uma decisão. Muitos juristas teorizam sobre o rumo a seguir, mas quem está melhor situado somos nós. Logo tomaremos uma decisão.

El País: Seu último relatório sobre a cooperação da Sérvia para deter Mladic foi demolidor. Influiu na detenção?
Brammertz: Belgrado fez um bom trabalho. Como se viu, continua havendo sérvios contrários à captura. O encontraram tarde, é verdade, mas não demais para fazer justiça. Se nosso relatório influiu, a pressão internacional foi decisiva.


El País: É mais forte hoje a justiça internacional do que quando acusaram Mladic em 1996?
Brammertz: A comunidade internacional usa mais suas armas judiciais que antes. O principal problema são as ordens de prisão. Se não houver vontade política para executá-las, fazemos um exercício teórico. O êxito do TPIY com data de encerramento em 2014, mesmo que não termine seus processos, supera Mladic. Depende de que sejam investigados e julgados nos Bálcãs os demais casos contra criminosos de guerra. Não há alternativa, e a UE insiste nessa forma de estratégia nacional.

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