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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Jovens sérvios enterram a guerra

As novas gerações de um país com 20% de desemprego dão as costas a Mladic e olham para a Europa

O ex-presidente da antiga Iugoslávia, Milosevic, no tribunal de Haia em 2002; o ex-líder político da república sérvio-bósnia, Radovan Karadzic, em Haia, em 2008; e Ratko Mladic, em Belgrado, em 1992
Em 1389, o exército sérvio enfrentou no território de Kosovo as tropas turcas que tentavam conquistar a região. A batalha foi cruel e ambos os lados ficaram dizimados. Mais de seis séculos depois, 1389 é o nome de um grupo nacionalista extremista sérvio e o símbolo da dificuldade de enterrar o passado nos Bálcãs. Jovens simpatizantes deste e de outros movimentos semelhantes provocaram distúrbios em Belgrado no domingo à noite em protesto contra a captura de Ratko Mladic. Apesar de ainda ser lamentavelmente visível, o radicalismo parece estar em retrocesso.

Vista em perspectiva, a reação à captura do militar acusado do genocídio de Srebrenica dá motivos para pensar que a sociedade sérvia esteja lentamente aderindo a uma mudança de atitude e que os ódios do passado vão tendo menos protagonismo na vida do país. Cerca de 70 mil pessoas participaram de uma manifestação de protesto por questões políticas e dificuldades econômicas convocada em Belgrado em fevereiro; no domingo passado, só 10 mil gritaram sua raiva contra a detenção de Mladic, apesar de ser um assunto com uma carga simbólica extraordinária.

Os jovens são o principal motor dessa transição silenciosa. São o coletivo mais castigado em uma sociedade com um índice de desemprego que beira os 20%. Em 2008 eram 14,7%. Muitos deles reclamam que a política se concentre no futuro e a má conjuntura econômica reforça sua exigência. Na Sérvia, o PIB por habitante caiu de US$ 6.600 para US$ 5.200 entre 2008 e 20010, segundo o FMI.

"Os problemas do passado são insolúveis. Deveríamos cortar já com tudo aquilo e nos concentrarmos nas dificuldades do presente: no desemprego dos jovens, nas aposentadorias dos idosos. Deveríamos olhar mais para o futuro", diz Katarina Nedelkovic, 25 anos, em seu minúsculo quarto dividido em um imóvel da Nova Belgrado, a zona oeste da capital. Nedelkovic, penteada com as tranças típicas de sua cidade natal (Topola, no centro do país), formou-se no ano passado em economia agrária com 9,32 sobre 10. Apesar de seu excelente currículo, está desempregada: "Não se trata só de que não haja trabalho: é que não me chamaram nem para uma única entrevista!"

As opiniões que Nedelkovic expressa são recorrentes nas conversas com os jovens de Belgrado. "Estou cansado de toda a herança das guerras", concorda Aljosha Martinovski, 23, formado em fisiologia, sentado em um terraço de um bar na animada rua Mihailova. Seu discurso define bem um sentimento que não é tanto de condenação ao passado, quanto de cansaço.

Essa atitude encontra um reflexo no cenário político. O nacionalismo radical e antiocidental ficou progressivamente isolado nos últimos anos. O partido radical não chega a 5% nas pesquisas. Uma formação nacionalista de discurso um tanto mais moderado e que apoia a adesão à UE - o partido progressista da Sérvia - atraiu consensos antes dirigidos para grupos mais duros e beira os 20% nas pesquisas.

A UE em geral é vista como uma ferramenta para avançar em questões econômicas, na eficiência da administração. É difícil encontrar jovens que se digam contrários à adesão, apesar de a retórica antiocidental continuar presente na Sérvia. Mas o desejo de entrar na Europa costuma ser acompanhado de certo ceticismo e mal-estar pelas condições que Bruxelas impõe.

Muitos deles não veem com bons olhos que o governo sérvio tenha capturado Mladic. "Não posso dizer que sinta raiva. Mas também não me é indiferente. Me afeta", diz Martinovski. De maneira significativa, parece se exaltar mais quando é perguntado sobre a corrupção e o clientelismo que corroem a sociedade sérvia. "Não é que isso aconteça de vez em quando. É a regra!", exclama.

Esperamos que sua geração consiga enterrar para sempre 1389 nos livros de história.

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