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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Governo russo usa "máquina de propaganda" para justificar ações na Ucrânia

Dmitry Konstantinovich Kiselyov, propagandista do Kremlin, defendeu a ocupação da Crimeia em horário nobre no domingo e ainda ameaçou os EUA com um ataque nuclear
Por ter ocorrido logo na sequência dos Jogos de Sochi, a operação especial das forças russas na Crimeia foi recebida pelos russos como uma vitória de sua equipe de futebol favorita, aos gritos de "A Crimeia é nossa" e "Nunca abandonaremos nosso povo".

Efetuada em 19 dias --as tropas russas intervieram no dia 28 de fevereiro e a Crimeia se tornou parte da Federação no dia 18 de março--, a anexação da península despertou o entusiasmo do público. Segundo o Centro de Estudos da Opinião Pública (VTsIOM), 90% dos russos a aprovam. Já a popularidade de Vladimir Putin chega a mais de 80% de opiniões favoráveis, contra 60% em janeiro.

A TV se alterna entre alarmismo e euforia. Todos as emissoras públicas --Rossia 1, Rossia 2, Rossia 24-- ou privadas --NTV, propriedade da Gazprom, Ren-TV e Canal 5, do bilionário e amigo de Vladimir Putin Yuri Kovaltchuk-- dão preferência ao pensamento único. A vitória do exército russo na Crimeia é incensada enquanto a Ucrânia é retratada como um "território" à deriva, extorquida por bandos criminosos, o culpado sendo o "governo fascista de Kiev" que ataca os russófonos, "nosso povo".

Rasmussen "legalizou o incesto"
Os comentaristas são curtos e grossos: "Os europeus são colaboradores dos nazistas, a Rússia se tornou o novo bastião do fascismo mundial", afirmou no domingo (23) Arkadi Mamontov, o âncora da Rossia 1. "Lembrem-se de que o secretário-geral da Otan, esse norueguês, legalizou o incesto na época em que ele era primeiro-ministro". Já no caso de Arseni Yatseniuk, o primeiro-ministro ucraniano, "o fato de ele pertencer à Igreja da Cientologia lhe garante o apoio dos americanos", assinalou dois dias depois o apresentador Boris Kortchevinikov na mesma emissora.

As reportagens sobre a Ucrânia não possuem nenhum conteúdo informativo. As imagens dos noticiários são misturadas a excertos de arquivos ou ficção: os comentários são exageradamente emotivos. "A Ucrânia está tomada por assassinatos, uma crueldade monstruosa, com armas para todo lado", resumiu, no dia 23 de março, a deputada Irina Yarovaya, do partido pró-Kremlin Rússia Unida, entrevistada pelo canal público Rossia 1. Vista de Moscou, a Ucrânia é povoada por russos e fascistas, jamais ucranianos.

Orientações para as redações
O discurso oficial é enviado direto do Kremlin. Toda semana a administração presidencial distribui pelas redações as orientações a serem seguidas ("temniki", em russo). O jornalista Ilya Barabanov publicou em seu perfil no Facebook as ordens transmitidas às redes de televisão para a semana do dia 28 de março a 6 de abril.

No capítulo "Linhas diretrizes do trabalho de informação sobre a Ucrânia", recomenda-se colocar a ênfase nos seguintes aspectos: 'ausência de lei, caos, nazistas nos postos-chave do Estado, polícia paralisada pelo medo, surto de criminalidade, economia à beira do colapso". Para a Crimeia, é diferente: "Fazer propaganda de férias de verão com o tema: é perto, é seguro, é em casa".

Comum na época da União Soviética, essa prática é coisa do passado na Ucrânia desde 2004, quando houve a "revolução laranja". Os jornalistas ucranianos, enojados com a censura, as ordens da presidência e os comandos dos oligarcas, refutaram as temniki, a subordinação e o medo. A Rússia seguiu o caminho inverso, voltando a adotar propaganda, desinformação e autocensura.

"Quinta coluna" e "cidadãos traidores"
Em Moscou, qualquer opinião dissonante é imediatamente estigmatizada. Prova disso são as campanhas de propaganda recentes contra o roqueiro Andrei Makarevitch, o comediante Viktor Chenderovitch, o professor de história Andrei Zubov, o canal de televisão alternativo Dojd, que perdeu seus direitos de transmissão a cabo por uma frase que foi considerada indevida sobre o cerco a Leningrado em 1941.

As alusões recentes do presidente russo à "quinta coluna" e aos "cidadãos traidores" não foram feitas para tranquilizar. "Depois da Ucrânia, ele atacará a nós, os intelectuais recalcitrantes", explica um professor de história que prefere não ter seu nome revelado. Um projeto de lei em fase de elaboração prevê condenações para jornalistas que se arriscarem a retratar de forma "negativa" as ações do Exército e do governo.

Fumando um cigarro antes de seu programa semanal na rádio Echo de Moscou, a cronista Evguenia Albats diz não se conformar: "As pessoas acreditam totalmente nessa propaganda. Até minha irmã gêmea, uma mulher informada, caiu feito um patinho. Não há um dia em que ela não me alerte contra o perigo fascista em Kiev."

Para Lev Gudkov, diretor do centro de estudos de opinião Levada, "a máquina da propaganda assumiu uma dimensão sem precedentes. No início, os acontecimentos na Ucrânia foram apresentados como um complô do Ocidente contra a Rússia, e depois o tema do vazio do poder e do Estado desagregado prevaleceu. Era preciso preparar a opinião pública para a eventual entrada das tropas vindas de Moscou na Ucrânia".

O mundo russo e o estrangeiro
Essa onda de propaganda procura reunir o público russo em torno de um consenso xenófobo e agressivo que coloca o "nós" (mundo russo) contra o "outro" (estrangeiro). Em seu discurso do dia 18 de março, dia da anexação da Crimeia à Federação, Vladimir Putin enunciou as duas novas prioridades de sua política externa: a defesa dos russos, onde quer que eles estejam, e a reparação da "humilhação" sofrida pela Rússia por parte do Ocidente após a queda da URSS.

Esses temas acertaram na mosca. "Vladimir Putin inflamou a Rússia e deve-se reconhecer que ela, de fato, está em chamas. Ele despertou na alma do povo russo a besta adormecida", explica Vladimir Pastukhov, professor de ciências políticas na St. Antony College of Oxford, em uma análise publicada pela "Novaya Gazeta" no dia 25 de março. "Essa besta se chama messianismo russo (…). Suas raízes remontam ao Império Bizantino, à Terceira Roma, ao Pan-eslavismo e à Internacional Comunista, afinal", diz o analista político, certo de que "o messianismo continuará sendo a força motriz da História russa".

2 comentários:

  1. A desinformação é um problema terrível, a globo por exemplo sempre tratou as tropas russas na Criméia como invasoras, sem reconhecer o fato de que há uma base militar ali... e também porque só houve uma morte. Mas é difícil ver a verdade no meio de tantas mentiras... por isso leio seu Blog, hehehe

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  2. CNN e BBC, vem fazendo isso por decadas . Nao e de asustar que um Ex KGB nao tenha visto vantagens nisso

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