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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Entre pressões de Putin e da Otan, Merkel considera suas opções

Na reunião da última segunda-feira (31) entre os líderes da União Democrática Cristã (CDU) em Berlim, Angela Merkel falou extensivamente sobre guerra e paz, incluindo uma análise detalhada sobre a crise na Ucrânia.

A chanceler também falou sobre suas conversas de telefone com o presidente russo Vladimir Putin bem como sobre o papel desempenhado pelo presidente dos EUA Barack Obama. Quando voltou sua atenção para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), muitos esperavam uma leve reprovação dirigida à ministra de Defesa Ursula von der Leyen.

Com seus comentários publicados na Spiegel há uma semana, nos quais ela urgia a Otan a mostrar uma presença maior nas fronteiras externas da aliança, von der Leyen dominou o noticiário da Alemanha naquele fim de semana.

Muitos interpretaram sua demanda como uma escalada retórica no impasse atual com a Rússia e houve muitas críticas, inclusive por parte do vice-chanceler Sigmar Gabriel, dos Social-Democratas de centro-esquerda.

Mas em vez de censurar sua ministra da Defesa, Merkel elogiou-a, louvando o desempenho de Leyen num 'talk show' no domingo (30), dizendo que ela havia se mostrado competente e no controle.

A mensagem para os críticos de Leyen foi clara: ela está certa, a Otan deve mostrar uma presença maior. Numa aliança, isso significa soldados e equipamento.

O conflito em torno da Ucrânia e da Península da Crimeia, anexada pela Rússia no início deste mês, está entrando numa nova fase. No começo da semana, a Otan deve enviar um sinal militar inicial com o objetivo de transmitir uma mensagem mais forte do que as sanções políticas e econômicas limitadas que a União Europeia impôs.

"Muitos aliados veem o curso de ação da Rússia como um ponto de virada histórico e o começo de uma nova era para a arquitetura da segurança euro-atlântica", escreveu o embaixador alemão para a Otan Martin Erdmann num relatório confidencial. "Estamos sendo observados de perto", disse.

Apoio suficiente
Dentro da Otan, o tema das preparações atuais é "oferecer apoio", principalmente aos Estados-membros do leste europeu, na esperança de que uma resposta clara seja suficiente para acalmar os temores na região.

Não está claro se o presidente russo Vladimir Putin também está interessado em dar um passo para trás no sentido de diminuir a tensão. Também parece improvável que a calma prevalecerá no parlamento alemão quando as primeiras unidades do Bundeswehr, as forças armadas alemãs, forem enviadas.

Já ficou claro o quão cética está uma ala significativa do SPD, parceiro mais novo da coalizão de Merkel, em relação ao curso da chanceler em relação à Ucrânia. A desaprovação de Gabriel em relação ao pedido de von der Leyen por uma presença maior da Otan no leste europeu não deve ser a última expressão de crítica.

Ainda assim, von der Leyen tem apoio suficiente em toda a Europa, como ficou aparente durante o encontro de ministros estrangeiros da Otan na terça-feira (1º) em Bruxelas.

Um foco da reunião será impedir o trabalho do Conselho Otan-Rússia depois de suspender a "cooperação funcional" na semana passada. Além disso, a cooperação militar com a Ucrânia deve ser "consideravelmente" expandida, dizem fontes na Otan.

A aliança também tem intenção de sinalizar solidariedade para com os estados bálticos e com a Polônia, pelo menos dobrando os chamados voos de "policiamento aéreo" - missões de vigilância para guardar o espaço aéreo.

Atualmente, há duas aeronaves constantemente em prontidão ou no ar, um número que deve aumentar para quatro ou seis.

Os aeroportos em Amari, Estônia e Siauliai, Lituânia, são o foco do programa de Policiamento Aéreo Báltico.

Além disso, deve haver um aumento no número de voos de vigilância das Awacs. Eles devem acontecer "exclusivamente sobre territórios da Otan", dizem fontes, mas essas aeronaves têm a capacidade técnica de monitorar eventos no interior da Ucrânia.

Por fim, a unidade naval da Otan deve realizar manobras no leste do Mar Báltico.

Membros do leste europeu que pertencem à aliança vêm pedindo essas demonstrações de solidariedade desde o começo da crise na Ucrânia. Só agora, entretanto, que os EUA concordaram. Washington estava inicialmente cético, mas agora se tornou uma força propulsora do movimento, escreveu o embaixador alemão na Otan.

"Efeitos tangíveis"
Ele então faz uma pergunta decisiva: "Como a Alemanha se comportará na crise, que do ponto de vista das capitais do leste europeu é existencial?" A resposta terá "efeitos tangíveis" sobre o "papel da liderança alemã" em determinadas áreas da aliança, escreveu ele.

A Inglaterra e a França já se ofereceram para assumir os voos adicionais necessários para aumentar o policiamento aéreo no mar Báltico. Londres prometeu disponibilizar quatro jatos imediatamente. A Noruega ofereceu enviar um navio para liderar a manobra no Mar Báltico.

Berlim, de acordo com fontes do Ministério da Defesa, poderia imaginar assumir uma ou ambas as tarefas. Altos oficiais militares relembraram as palavras da ministra de Defesa von der Leyen na Conferência de Segurança de Munique em fevereiro quando ela disse que a indiferença não é uma opção para Berlim.

"Se você diz isso", disse um general, "você não pode ficar parado com as mãos vazias quando há uma missão pendente."

Na semana anterior à passada, as forças aéreas alemãs notificaram líderes do Ministério da Defesa de que seis Eurofighters poderiam ser disponibilizados imediatamente para voos de vigilância. Mas nenhuma decisão do governo veio imediatamente e a impaciência dentro do ministério cresceu.

Pouco antes do final de semana, um acordo parcial tomou corpo. "Duas coisas são essenciais", disse o ministro da Defesa alemão Frank-Walter Steinmeier à Spiegel. "Nesta situação extremamente difícil, a Otan precisa agir com a cabeça fria e evitar nos pressionar numa espiral de escalada militar.

Ao mesmo tempo, nossos parceiros sabem que estamos do lado da solidariedade com a aliança sem mas ou senão, e não só em tempo bom."

Os conselheiros de Steinmeier enfatizaram que a Alemanha fará parte do aumento de operações dentro da aliança quando isso fizer sentido. Steinmeier, entretanto, foi cuidadoso ao observar que a "crise na Ucrânia não pode ser resolvida por meios militares: isso só pode ser feito com esforços militares destinados à diminuição da tensão".

Os Estados Unidos, enquanto isso, estão avançando. Posicionaram seis jatos F-15C na Lituânia e planejam enviar 16 F-16 e quatro aviões de transporte C-130 para a Polônia. É provável que mais esteja a caminho. Na reunião da Otan desta semana, ministros de exterior podem concordar com um texto requerendo que todos os membros da aliança forneçam esse tipo de assistência bilateral.

A ministra da Defesa Ursula von der Leyen está preparada para fazer isso; o ministro de Exterior Frank-Walter Steinmeier, não.

Diferentes pontos de vista
Não está claro quanto por quanto tempo as unidades devem permanecer no Báltico ou em outros estados do leste europeu. Mas sua presença envia uma mensagem decisiva.

Após o colapso do Pacto de Varsóvia, os países do Báltico, que antes faziam parte do bloco oriental, começaram a se preparar para se juntar à Otan - e em 2004, eles também se tornaram membros formais desfrutando da proteção do Artigo 5, que trata um ataque contra qualquer estado-membro como um ataque à aliança como um todo.

Embora os três estados do Báltico tenham exércitos pequenos, a Otan desde então se eximiu de manter uma presença constante lá por consideração às sensibilidades russas.

Durante a Guerra Fria, a permanência de tropas estacionárias britânicas, francesas, norte-americanas, belgas, holandesas e canadenses na Alemanha Ocidental significou uma mensagem forte de que a Otan levava a sério o Artigo 5.

O risco agora é de estarmos retornando àquela era. É uma situação que pode alimentar ainda mais os temores de Putin em relação a um cerco - temores dos quais ele sabiamente tirou vantagem ao perseguir seus objetivos políticos.

A Otan está ciente do perigo, deixaram claro fontes em Bruxelas. Em seu relatório confidencial, o embaixador da Alemanha na Otan, Erdmann, trata do atual debate, escrevendo: "diferentes pontos de vista se confrontam - às vezes de forma conflituosa - no Conselho do Atlântico Norte".

E acrescentou: "Os reflexos dos efeitos estratégicos sobre a aliança apenas começaram."

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