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quinta-feira, 17 de abril de 2014

Der Spiegel: Setor Direito se prepara para possível invasão russa

Nos arredores de Kiev, há homens deitados no chão com rifles preparados. Por enquanto disparam contra papelão, mas em breve os alvos poderão incluir soldados russos ou separatistas do leste da Ucrânia. As bandeiras pretas e vermelhas dos nacionalistas ucranianos tremulam sobre eles --entre as árvores da área de treinamento militar onde outrora os soviéticos aprendiam a atirar.

Preparem, mirem, "respirem profundamente e pensem antes de atirar", grita Mykola Ishenko, 48. Duas décadas atrás ele era um sargento de treinamento do exército ucraniano. Hoje voltou a vestir um uniforme e quer fazer a transição de civil para combatente. Eles se exercitam, atiram facas, praticam combate manual. Devido à falta de sacos de areia, chutam e socam troncos.

Sua unidade se chama grupo dos "300" e é composta por dezenas de ligas de defesa civil que se formaram durante a insurgência na praça da Independência de Kiev, a Maidan. Seu ideal é o do guerrilheiro nacionalista, e eles se organizaram para defender o Estado ucraniano. Incluem estudantes cosmopolitas de mentalidade ocidental, mas também extremistas de direita empedernidos, que veem a derrubada do presidente Viktor Yanukovych como apenas o primeiro passo de uma "revolução nacional". Muitos ativistas da Maidan têm aparecido no campo de treinamento militar desde a anexação da Crimeia pela Rússia e cerca de 50 homens se apresentam no local em Kiev a cada dia.

Mais ucraniano que russo
O treinador Ishenko está aqui há duas semanas, mas também serviu como guarda durante os protestos da Maidan. Ele diz que não tem nada contra os russos --pelo contrário, até ganha dinheiro com eles. Trabalha como guia turístico e muitos de seus clientes são visitantes russos. Ao mesmo tempo, Ishenko diz que é um patriota ucraniano e que considera o presidente russo, Vladimir Putin, um ditador agressivo.

O fato de que Ishenko está treinando guerrilheiros hoje é uma fonte de conflito com sua mãe. Ela passou a maior parte de sua vida na União Soviética. Se os russos realmente enviarem soldados para a Ucrânia, ela diz que devem recebê-los com flores. Seu filho prefere lhes apontar uma arma.

Em termos de números, os grupos de direita eram apenas uma minoria durante os protestos na Maidan, mas formaram a espinha dorsal da revolta contra o governo Yanukovych. Quando os protestos inicialmente pacíficos se tornaram violentos, foram grupos de direita que defenderam as barricadas, atiraram coquetéis molotov e carregaram armas de fogo.

A propaganda russa tende a descrever esses grupos, em termos gerais, como "fascistas". Mas a direita é qualquer coisa, menos homogênea. Na região oeste do país há três facções diferentes. Há os civis patriotas como Ishenko, que consideram seu dever lutar pelo país. Há os anarquistas revanchistas que querem contestar as autoridades corruptas. E os radicais de direita da variedade ideológica e perigosa que querem se aproveitar do atual vazio de poder para tomá-lo. São defensores de um nacionalismo étnico totalitário com tons antissemitas.

O Setor Direito, um dos grupos mais importantes na Maidan, está entre os últimos. Em seu centro estão indivíduos que são claramente extremistas de direita, mas desde então também se tornou um ponto de encontro para os descontentes.

Nova fidelidade
Alexander Kolokolov, 37, é outro russo étnico que se identifica como ucraniano. Ele recentemente aderiu ao Setor Direito. Kolokolov vive em Kherson, cidade que fica a 12 horas de trem de Kiev e se situa perto da Crimeia. No início, muitos acreditavam que Kherson também seria ameaçada pela Rússia. A maioria das pessoas aqui fala russo na vida cotidiana. Mas a anexação da Crimeia reforçou a posição dos nacionalistas ucranianos locais. Eles derrubaram a estátua de Lênin da cidade e a substituíram por um memorial à "Centena Celestial", como os ucranianos chamaram as mais de cem pessoas mortas durante os recentes protestos na Maidan. Depois que os russos invadiram a Crimeia, a população local começou a usar faixas azuis e amarelas no braço em sinal de fidelidade à Ucrânia.

Kolokolov costumava ser um investigador criminal, mas diz que se cansou da corrupção. Deixou o emprego e hoje caça criminosos juntamente com seus colegas membros do Setor Direito. A mudança que eles esperavam que ocorresse com o golpe deixou de se materializar e eles sentem que há muito poucas caras novas no governo. Agora eles querem assumir pessoalmente a responsabilidade pela ordem pública.

Seu maior adversário é o coronel Mikhail Fabrin, chefe das forças de segurança de Kherson. Ele está no cargo há apenas algumas semanas, mas sua nomeação foi promovida pelo partido do campeão mundial de boxe Vitali Klitschko. Kolokolov não confia no coronel porque Fabrin já esteve estacionado na Crimeia e disputou a eleição parlamentar regional em 2010 como candidato do partido União Russa, do novo presidente da Crimeia, Sergey Aksyonov.

"Guerreiros do Bem"
O capítulo local do Setor Direito mudou-se para um escritório embolorado no centro de Kherson, entre uma oficina de cópias e um salão de beleza. Ele também serve como centro dos guardas de Kolokolov, que atuam como cidadãos vigilantes de aspecto policial. Eles se espalham à noite para fechar casas de jogo e patrulhar as ruas. Já fecharam um posto de gasolina ilegal onde Kolokolov afirma que policiais corruptos vendiam gasolina confiscada.

O coronel não estava contente com esses acontecimentos. Seus oficiais revistaram o escritório do Setor Direito e procuraram armas, mas não encontraram. Kolokolov diz que não encontraram a pistola que estava escondida na impressora. Fora isso, diz ele, os vigilantes não andam armados.

O chefe local acaba de descobrir um iminente carregamento de drogas em Kherson e seus homens querem apanhar o traficante. Para preparar-se mentalmente, eles passam videoclipes em um computador. Nele, figuras imaginárias combatem com coquetéis molotov uma águia gigante, o animal heráldico da famosa força policial especial ucraniana Berkut. A música apresentada no vídeo é uma favorita do ambiente de direita e inclui o refrão: "Guerreiros da luz, guerreiros do bem". É assim que eles veem a si mesmos.

Algumas milícias da Maidan hoje estão atuando como bandos criminosos; muitos deles são grupos de nacionalistas avulsos --inclinados à violência--, embora não tão ideológicos quanto o Setor Direito. Na semana passada, milicianos mascarados atacaram uma fábrica de cimento depois de serem pagos para fazê-lo por empresários interessados em assumir a empresa. Houve outros relatos de incidentes semelhantes, como um ataque a uma destilaria de vodca.

Vastas ambições
O homem que a milícia de Kherson gostaria de ver na presidência da Ucrânia pode ser encontrado em um antigo bairro industrial de Kiev --ele vive na Moscow Prospect, um endereço um tanto irônico para um nacionalista. Dmytro Yarosh, de 42 anos, fundou um grupo de esportes marciais nos anos 1990 que deu origem ao Setor Direito. No passado ele preferia fazer aparições públicas em uniforme militar, mas nos recebe de jeans e com um suéter escuro de gola. Afinal, Yarosh tem vastas ambições. Ele se inscreveu como candidato para as eleições presidenciais de maio e está fazendo lobby para que o Setor Direito seja reconhecido como partido. Diz que seu movimento tem mais de 10 mil membros e espera que a atual onda de nacionalismo seja suficiente para levá-lo à presidência.

Quando Yarosh falou na Maidan, foi recebido com mais aplausos que sua adversária Yulia Tymoshenko, em parte porque seus homens impressionaram os ucranianos com sua disciplina e energia durante a rebelião. Até um documento secreto das autoridades russas comenta, com certa admiração, que o Setor Direito é "o único poder organizado" e que ele atrai "como um ímã" tanto extremistas quanto a população em geral.

Durante anos, Yarosh vem lutando pela "desrussificação" da Ucrânia e produziu manifestos que pedem a "disseminação da ideologia nacionalista por todo o território de nosso Estado". Hoje Yarosh nega que o antissemitismo faça parte dessa ideologia. No entanto, ele escreveu em um livro: "Eu me pergunto como é possível que a maioria dos bilionários da Ucrânia sejam judeus?"

Ele diz acreditar que poderes "anticristãos" estão atuando na UE e que Bruxelas força as pessoas a aprovarem estilos de vida como o casamento gay. Ele diz que é "uma variedade de totalitarismo". Não vê a Europa ou a Otan como um parceiro potencial e acredita que os EUA também fazem parte de uma "frente antiucraniana". Yarosh estudou linguística e é quase eloquente ao explicar que uma Kalashnikov pode ser o único aliado confiável de um ucraniano.

O Setor Direito é a favor de legalizar a propriedade de armas para desenvolver "um país de homens armados e livres". Esta, acrescenta Yarosh, "é a única maneira como podemos nos defender dos caprichos do Estado e contra a Rússia". As palavras dele são uma ameaça, e não apenas contra Moscou. Mais que nada, seu alvo é o "establishment" de Kiev. E ele encerra com a declaração: "Nossa revolução ainda não está completa".

5 comentários:

  1. Essa cisma entre russos e ucranianos não devia estar acontecendo, acredito que mesmo que a Rússia demostre sua força perante a tentativa de crescimento da influencia americana da região em alguns casos específicos os altos membros do governo americano dão gargalhadas com noticias como essa, por conseguirem rachar ou pelo menos ferir a união que existia entre aqueles povos irmãos.

    Também acredito que a Rússia não vai simplesmente "invadir" a Ucrânia no máximo o que pode acontecer é a Rússia defender os povos da região pró-russa caso o exército e as milicias ucranianas venham a massacrá-los em algum combate, eu particularmente apoio o referendo pois se é vontade do povo ficar livres das garras do demônio sugador de almas (EUA) e continuar desenvolvendo a união com a Rússia, todos nós sabemos que a Rússia não nenhuma santa nem nada, mas tem que se defender deste eminente tentativa americana de ferir o orgulho nacional.

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    1. "Demonio sugador de almas" ??? Meu deus, mais um alienado. Você com certeza se esquece convenientemente das invasões russas do Afeganistão, da Chechênia, da Geórgia, Ossetia do Sul, das intervenções em Praga..Realmente , os americanos são o diabo em pessoa para fanáticos religiosos marxistas messiânicos como você. Que ridículo cara.Estamos no século 21, ninguém tem mais saco para autoritarismo. Mas você, parece ainda viver nos tempos dos gulags, quando os russos, a mando de Stalin, mataram de 1931 a 1932 APENAS UM ANO 7 a 10 milhões de ucranianos de fome, porra. Cria vergonha, moleque.

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    2. Ei, as opiniões nesse espaço são pautadas pela cordialidade. Não dê adjetivos pejorativos a ninguém!

      Sobre o que você falou: A Rússia atacou a Geórgia porque essa atacou as Forças de Paz russas e civis na Ossétia do Sul. A Chechênia não foi invadida porque ela é russa e todos nós sabemos, que independente da mão pesada russa, ela tinha razão.

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  2. Sempre os bobos mais fáceis de serem manipulados são os nacionalistas por se deixarem levar pelas emoções e rixas, o ódio deles pela Rússia é bizarro, será que esse setor direito não consegue entender que a Ucrânia daqui para frente será mais um capacho da UE e da OTAN, é difícil para esses bobo alegres neo-nazistas entenderem isso? É algo tão obvio para onde caminha a Ucrânia.

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    1. Sim, você tem razão. Da mesmíssima forma que o ódio de pessoas pelos Estados Unidos é ainda mais bizarro, visto que não fosse a luta e morte de milhares de soldados americanos para evitar que as forças do eixo se aproximassem das Américas, os nazistas tinham se aproveitado de colônias como as do Sul do Brasil e da Argentina para terem apoio logístico e trazerem a Wermacht e a Kriegsmarine para cá. Aliás, o Brasil era tão fraco, que existem fotos de marinheiro alemães tomando banho de sol em praias desertas do Nordeste.Se não fossem as mortes de milhares de soldados aliados, entre eles americanos, o teatro de operações teria vindo para cá, os aliados jamais permitiriam que esse gigante chamado Brasil dispusesse todos os recursos naturais imensos para os nazistas. Teria sido um inferno por aqui, muchacho. todos nós devemos aos americanos que lutaram, principalmente na Batalha do Atlântico, sem querer menosprezar outras importantes batalhas, pois se os nazistas tivessem se dado bem na África, esta seria um trampolim para a América do Sul assim como Natal-RN o foi para a África. Além do mais, com todos defeitos, jamais na história americana seus cidadãos foram submetidos no curto espaço de 80 anos, a tão horrenda ditadura, massacres, perseguição política, expurgos. Só Stalin matou num de seus expurgos, 30 mil oficiais do exército vermelho. Aí vem você, verdadeiro "gênio" falar sobre a Rússia. Por que você não pesquisa os países onde o simbolo do comunismo é proibido ? E tenta pesquisar o porque ?

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