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domingo, 1 de setembro de 2013

Túnis classifica o grupo salafista Ansar al-Sharia como terrorista

Lideranças do Ansar al-Sharia 
Foi cruzado um limiar com o reconhecimento oficial, pela primeira vez desde a mudança de regime induzida pela "primavera árabe", da existência de uma "organização terrorista" em solo tunisiano. As autoridades designaram assim, na quarta-feira (28), o grupo salafista radical Ansar al-Sharia (Os partidários da sharia), que surgiu após o levante de 2011. "A classificação do Ansar al-Sharia como organização terrorista significa que suas atividades constituem crime, bem como aderir a ela ou financiá-la,", explicou à imprensa o ministro do Interior, Lotfi Ben Jeddou.

Este último, ao receber o "Le Monde" no início de agosto, havia afirmado que essa classificação podia ser "perigosa" e que ela dependia de uma "decisão política". Fragilizado e assombrado pelo cenário egípcio, acusado de "indulgência" pela oposição no plano da segurança, o governo dominado pelos  islamitas do partido Ennahda por fim a tomou, "independentemente dos sacrifícios", ressaltou o primeiro-ministro Ali Larayedh. Túnis teme uma réplica sangrenta.

Na quarta-feira, as autoridades tunisianas alinharam as "provas" contra o grupo salafista radical suspeito de estar por trás dos dois assassinatos políticos que desestabilizaram profundamente o país: do opositor de esquerda Chokri Belaid, morto no dia 6 de fevereiro em frente à sua casa, e do deputado de Sidi Bouzid, Mohamed Brahim, assassinado com a mesma arma, no dia 25 de julho.

Até então, a polícia havia conseguido identificar vários membros do comando de 14 homens, entre eles Kamel Kadhkadi e Boubakeur El Hakim, um francês de origem tunisiana, suspeitos de serem os atiradores. A maior parte pertencia ao grupo Ansar al-Sharia, que sempre negou, nas redes sociais, sua responsabilidade nesses assassinatos. Mas, desta vez, o Ministério do Interior também divulgou as "confissões" gravadas de um homem apresentado sob a identidade de Mohamed Akkari, como um dos chefes do braço armado do Ansar al-Sharia. "Treinei o órgão de segurança que recolhe as informações (…). Vigiamos os políticos, os jornalistas, vigiamos os alvos", ele diz.

Personalidades na mira

Foi também publicada uma lista de aproximadamente vinte personalidades visadas por possíveis ataques, incluindo tanto homens quanto mulheres. Ali constam Mustapha Ben Jaafar, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte; a acadêmica Olga Youssef; o xeque Ferid El Beji, presidente da associação Dar El Hadith el-Zeitounia; Maya Jribi, única mulher co-dirigente de um partido de oposição, mas também Ameur Larayedh, presidente do escritório político do Ennahda e irmão do atual primeiro-ministro, Segundo a polícia, que divulgou um organograma da direção do Ansar al-Sharia, Mohamed Akkeri faria parte, juntamente com Mohamed Awadi e Adel Saida, dos três emires que respondem ao chefe Seifallah Ben Hassine, mais conhecido pelo nome de Abou Ayad.

Procurado desde o ataque à embaixada dos Estados Unidos no dia 14 de setembro de 2012, este último, libertado em março de 2011 embora tenha sido condenado a uma pena acumulada de 68 anos de prisão durante o regime de Ben Ali, se encontraria entre "a Tunísia e a Líbia", contou ao "Le Monde" Ben Jeddou. Na quarta-feira, a polícia afirmou que "muitos dirigentes" do grupo foram até lá "diversas vezes".

O mais surpreendente foi que, pela primeira vez, Túnis estabeleceu uma ligação direta entre o Ansar al-Sharia e o grupo jihadista Oqba Ibn Nafi, que vem enfrentando o exército há semanas no monte Chaambi, na fronteira com a Argélia, responsável pelo assassinato de oito soldados em julho. "Dirigentes do Ansar al-Sharia iam com frequência ao monte Chaambi para treinar, receber instruções ou participar das operações contra as unidades do exército", afirmou Mustapha Ben Amor, diretor-geral da segurança pública.

Seria o caso, particularmente, de Boubakeur El Hakim. Mas até então a polícia havia divulgado retratos dos jihadistas escondidos nessa montanha, parte deles de nacionalidade argelina, sem estabelecer uma conexão com o Ansar al-Sharia. Na quarta-feira, o Ministério do Interior exibiu um texto manuscrito apresentado como "o atestado de lealdade" de Abou Ayad da Al-Qaeda ao Magreb Islâmico (AQMI), dirigido pelo argelino Abdelmalek Droukdal.

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