A revelação pública mais detalhada da história dos gastos americanos em inteligência mostra um papel surpreendentemente dominante da CIA (Agência Central de Inteligência), uma crescente ênfase em ciberoperações tanto defensivas quanto ofensivas e lacunas significativas no conhecimento do governo, apesar do grande aumento de verba após os ataques terroristas de 2001.
O pedido orçamentário confidencial para o atual ano fiscal foi obtido pelo jornal "The Washington Post" junto ao ex-funcionário terceirizado da Agência de Segurança Nacional (NSA), Edward J. Snowden, e publicado em parte em seu site na quinta-feira. O jornal disse que reteve informações de grande parte do documento de 178 páginas a pedido das autoridades do governo, por causa de "detalhes sensíveis" na descrição de seus programas de espionagem.
O documento mostra que o pedido orçamentário das agências para o ano que termina em 30 de setembro foi de US$ 52,6 bilhões, uma pequena diminuição em comparação ao pico em 2011 de US$ 54,6 bilhões, após uma década de rápido aumento de gastos. Desse dinheiro, a maior fatia ficou com a CIA, que realiza espionagem humana tradicional e análise de inteligência, mas também realiza os ataques com aeronaves não tripuladas contra os suspeitos de terrorismo no Paquistão e no Iêmen.
A CIA pediu US$ 14,7 bilhões, superando significativamente as duas grandes agências de espionagem tecnológica, a NSA, responsável pelo programa de interceptação de comunicações, que pediu US$ 10,8 bilhões, e o Escritório Nacional de Reconhecimento, que opera satélites de vigilância, que pediu US$ 10,3 bilhões. Apesar de o documento refletir os dólares pedidos para o ano fiscal de 2013 e não o que de fato receberam, o registro de gastos anteriores sugere que os gastos reais neste ano provavelmente estão muito próximos do valor requisitado.
As 16 agências de espionagem americanas empregam cerca de 107 mil pessoas, mostra o documento. O número não inclui as dezenas de milhares de terceirizados que trabalham no apoio às agências de inteligência, em alguns casos superando em número os funcionários de fato, disse Jeffrey T. Richelson, um prolífico escritor sobre inteligência.
Richelson disse achar que o número do orçamento da NSA não representa o custo real de sua vigilância eletrônica, porque omite grande parte do apoio que recebe os militares que realizam a interceptação de comunicações em seu nome.
A mais recente revelação ressalta o impacto extraordinário dos vazamentos de Snowden, que aceitou o asilo temporário na Rússia enquanto tenta evitar um processo nos Estados Unidos por acusações de espionagem.
Os documentos que obteve em seu emprego como prestador de serviços à NSA e fornecidos aos jornais "The Guardian", "The Post" e outras publicações, provocaram um debate público mais significativo em décadas sobre vigilância e coleta de dados pelo governo. As partes do novo documento orçamentário publicadas pelo "The Post", apesar de não conterem grandes surpresas, oferecem a melhor visão até o momento de como os bilhões destinados à coleta de inteligência são gastos. ("The Guardian" compartilhou recentemente alguns dos documentos de Snowden com o "New York Times")
Por décadas, governos de ambos os partidos políticos escondem os gastos em espionagem no que é popularmente conhecido como "orçamento negro", alegando que permitir que os adversários saibam o quanto os Estados Unidos gastam tornaria o país menos seguro. Apenas desde 2007 é que o total anual de gastos no que é chamado de orçamento de prioridades de inteligência nacional passou a ser público; outros US$ 23 bilhões são gastos a cada ano em um orçamento separado para a inteligência militar.
Steven Aftergood, que dirige o Projeto sobre Sigilo do Governo da Federação dos Cientistas Americanos e que há muito faz campanha por uma maior transparência do orçamento, disse que o documento "destaca a ascensão da CIA", que antes do 11 de Setembro recebia cerca de 10% dos gastos em inteligência e agora se aproxima de um terço do total. O presidente George W. Bush deu início à rápida expansão da força de trabalho da CIA em resposta aos ataques terroristas e em apoio às guerras no Afeganistão e no Iraque.
"A CIA conta com presença em muitos lugares onde não estava há 15 anos", disse Aftergood. Além disso, ela assumiu um grande papel paramilitar no combate ao terrorismo, notadamente realizando ataques com mísseis com aeronaves não tripuladas em lugares onde os Estados Unidos não estão oficialmente em guerra.
O documento revela que a CIA gasta cerca de US$ 2,5 bilhões em operações secretas no exterior, que incluem o programa de aeronaves não tripuladas.
O orçamento inclui US$ 4,3 bilhões para ciberoperações, uma parte relativamente nova e cada vez mais central dos programas de segurança nacional. Isso cobre tanto as invasões a computadores estrangeiros para obtenção de inteligência quanto a preparação para um possível ciberataque, e gastos para prevenir espionagem eletrônica e ataques de hackers contra os Estados Unidos.
Segundo o jornal "The Post", o pedido de orçamento incluiu um relato franco das lacunas remanescentes no conhecimento do mundo pelo governo, apesar da espionagem agressiva. Os governos da China, Rússia e Irã são difíceis de penetrar, mas a Coreia do Norte pode ser o alvo mais difícil de todos, sugere o documento.
Aftergood diz que o documento sugere que as agências podem ser seguramente muito mais transparentes a respeito de suas prioridades e gastos sem prejudicar a segurança nacional. "Nós não precisamos deste documento para nos dizer que a Coreia do Norte é um alvo difícil", afirma.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário