Vago há oito meses, o posto de secretário-geral da Frente de Libertação Nacional (FLN), o partido do governo na Argélia, está com novo detentor. Amar Saadani, 63, ex-presidente da Assembleia Popular Nacional, assumiu seu cargo oficialmente no domingo (1º), após uma tumultuada eleição antecipada em três dias.
Como todos os candidatos à disputa se retiraram antes da votação, Saadani foi eleito pela maioria presente como líder do partido histórico. Boa parte da imprensa viu essa designação como uma estratégica "retomada de controle" dos partidários do presidente Abdelaziz Bouteflika, a alguns meses da eleição presidencial, prevista para março de 2014. Um "golpe", como chegaram a colocar em suas manchetes os jornais francófonos "El Watan" e o "Liberté".
"É um pouco mais complicado que isso", explica um observador do cenário político argelino que prefere manter o anonimato. "É uma operação conjunta para perpetuar o status quo por não haver um consenso sobre uma alternativa. Mas todos os chefes de Estado, inclusive os militares, como Boumediene e Chadli, foram endossados candidatos à eleição presidencial pelo FLN."
Segundo esse interlocutor, abatido, que não hesita em descrever o clima da Argélia como "uma Síria de Bashar Assad sem a violência", nada teria sido possível sem o aval das outras forças do governo argelino, tanto policiais quanto militares. É isso que sugerem as condições rocambolescas da eleição de Saadani. O comitê central do dia 29 de agosto, contestado por parte de seus membros, foi realizado após uma queda de braço administrativa com o Ministério do Interior dando o aval à reunião, e depois o Conselho de Estado o anulando, até que por fim foi validado.
De qualquer forma, a eleição de Saadani prova que, embora exista uma luta de clãs dentro do governo argelino, o de Bouteflika, que diziam estar enfraquecido após o acidente vascular cerebral do qual ele foi vítima na primavera, não perdeu sua influência. Amar Saadani é próximo do chefe do Estado, que não apareceu em público desde que voltou de sua internação no dia 16 de julho.
Eleito deputado em 1997, reeleito em 2002, o novo líder do FLN havia sido levado à presidência da Assembleia argelina em junho de 2004, dois meses após a reeleição de Bouteflika, que termina hoje seu terceiro mandato. A biografia oficial de Saadani também explica que ele foi "coordenador geral dos comitês de apoio ao programa do presidente da República".
"Lobby judeu" no Partido Socialista
Para muitos, sua eleição é interpretada como um bloqueio contra possíveis candidatos à sucessão de Bouteflika rejeitados pelo governo. Isso visaria particularmente Ali Benflis, ex-secretário-geral do FLN e candidato derrotado em 2004, determinado a tentar a sorte novamente dez anos depois.
No domingo, Saadani dirigiu uma mensagem de conciliação a seus adversários dentro do FLN. O partido "teve pontos positivos e negativos que assumimos", ele declarou, citado pela agência de notícias argelina APS, antes de convocar os militantes a "se afastarem de tudo que pudesse dividi-los" e de insistir na "necessidade de unir seus membros". Mas a personalidade desse personagem-chave é controversa.
Durante uma visita à Argélia em 2006, o presidente francês, François Hollande, então primeiro secretário do Partido Socialista, havia sido recebido com frieza por Saadani na Assembleia, quando este último o questionou diretamente sobre o "lobby judeu" dentro do PS.
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