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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Paquistão solta talebans para ter influência na reconciliação interafegã, mas dúvidas pairam


A libertação de 26 dirigentes do antigo regime afegão enfatiza o papel de Islamabad nas negociações que acompanham a retirada ocidental

A agitação diplomática em torno de um início de discussões sobre a paz no Afeganistão teve um novo episódio na segunda-feira, 31 de dezembro de 2012, quando o Paquistão anunciou a "libertação" de oito dirigentes talebans afegãos que fariam parte do esforço de um acerto político.

Em um comunicado divulgado em Islamabad, o ministério paquistanês das Relações Exteriores afirmou que tal gesto visava "facilitar o processo de reconciliação no Afeganistão", explicando que esta última série de solturas elevava para "26 o número de prisioneiros talebans libertados pelo Paquistão em um mês".

Entre esses dirigentes soltos na segunda-feira figuram quatro personalidades do ex-regime Taleban afegão (1996-2001): Nourouddine Tourabi, ex-ministro da Justiça, Mullah Daoud Jan, ex-governador de Cabul, Abdul Bari, ex-governador da província de Helmand (sul) e Allahdaad Talib, ex-ministro adjunto da Comunicação.

A primeira série de libertações havia sido anunciada em 14 de novembro, após a visita a Islamabad de uma delegação do Alto Conselho de Paz afegão, uma instituição originada do regime do presidente Hamid Karzai. O governo afegão vinha pedindo há meses que Islamabad libertasse esse tipo de personalidade do ex-regime Taleban para transformá-los em mediadores. O fato de que o Paquistão consentiu, portanto, parece consagrar o estreitamento das relações entre os dois países, normalmente complicadas, como mostra a frequência dos incidentes fronteiriços.

No entanto, o anúncio dessas libertações suscita um certo número de dúvidas. Os "26" talebans mencionados pelo ministério paquistanês das Relações Exteriores teriam estado realmente presos? Se sim, por quais razões? A questão surge porque o Paquistão de fato abrigou o estado-maior do Emirado Islâmico do Afeganistão --nome oficial do movimento Taleban-- depois que este último foi expulso do poder em Cabul no final de 2001 pela intervenção militar conduzida pelos americanos.

A partir dos anos 2003-2004, sob o olhar indulgente de Islamabad, esses talebans inicialmente derrotados conseguiram reconstituir livremente suas forças em seus santuários paquistaneses para lançar a insurreição contra o regime de Cabul e as tropas da Otan.

Em tal contexto, em virtude de qual lógica esses chefes talebans teriam sido "presos" no Paquistão? A hipótese mais verossímil é que eles estariam começando a se emancipar do jugo dos serviços secretos do Exército de Islamabad, particularmente ao tentar fazer contatos diretos com aliados do regime de Cabul a exemplo de seus padrinhos paquistaneses.

Ceticismo e desconfiança
Foi exatamente o que aconteceu com o mulá Baradar, ex-"número dois" da insurreição afegã, preso em Karachi em fevereiro de 2010. O mulá Baradar não faz parte dos "26" talebans soltos recentemente, mas sua libertação aparentemente é ativamente desejada por Cabul. O ritmo atual das solturas, embora seja um indicador de um ambiente mais favorável a negociações de paz, também enfatiza implicitamente o papel de obstrução exercido até o momento pelo Paquistão sobre a frente dessa reconciliação "interafegã".

A segunda dúvida diz respeito à credibilidade que esses chefes liberados poderiam ter depois de passarem vários meses, ou até anos, nos cárceres ou em prisões domiciliares no Paquistão. A maior parte dos especialistas no assunto consultados em Islamabad admite, de fato, que esses ex-prisioneiros são amplamente desvalorizados aos olhos dos insurgentes.

Eles passam a ser vistos como agentes obedientes de Islamabad, ou mais particularmente dos serviços secretos do Exército --o Inter Services Intelligence (ISI)-- suspeitos de quererem dirigir através de um intermediário o processo de paz afegão. Tal ceticismo que emana da base da insurreição, relatado por inúmeras fontes, diz muito sobre o grau de desconfiança que agora rege as relações entre o movimento Taleban e seus padrinhos paquistaneses cuja vontade de controle acabou ofendendo o nacionalismo da insurreição afegã.

Última dúvida: como será articulada essa nova dinâmica entre Cabul e Islamabad com as iniciativas de "reconciliação" em outros cenários como Doha, Chantilly ou mesmo a Arábia Saudita, que o regime de Cabul gostaria de ver exercendo um papel mais ativo? No momento em que a saída das tropas da Otan do Afeganistão, que deverá ser concluída no final de 2014, torna urgente o fechamento de uma solução política, os canais têm se multiplicado, ainda que possam se colidir em uma grande confusão.

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