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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Após ataque na Argélia cresce preocupação com segurança em empresas de petróleo


O complexo de gás argelino que foi atacado na semana passada, assim como dezenas de outros campos de petróleo e gás ao redor do mundo, ficava muito isolado do país que o rodeava --era um oásis de relativo luxo em um país que está emergindo da pobreza.

A segurança era uma preocupação constante, assim como ocorre em outros campos localizados nas várias regiões politicamente instáveis do mundo, onde empresas de petróleo estrangeiras correm grandes riscos para obter grandes lucros: Iraque, Nigéria e Líbia, para citar algumas dessas regiões. O exército argelino escoltava os trabalhadores sempre que eles deixavam o extenso complexo --no trajeto para o aeroporto ou quando eles se dirigiam a poços distantes onde, por vezes, viam-se nômades vestidos com túnicas esvoaçantes cruzando o deserto sobre camelos.

Agora, a utilização desses postos avançados por parte das empresas produtoras de energia -- cujas equipes são formadas por expatriados -- será mais analisada do que nunca. A tomada de reféns e o cerco sangrento de quatro dias às instalações de In Amenas, localizadas no leste da Argélia, levaram pelo menos um trabalhador que conseguiu fugir do complexo a questionar se medidas adicionais poderiam ter sido adotadas para evitar o ataque. E analistas dizem que essa falha catastrófica poderá mudar o modo como a indústria do petróleo protege esses complexos em toda a região --onde militantes islâmicos que insultam o Ocidente estão em atividade. Além disso, a carnificina de In Amenas ocorre num momento em que o Departamento de Estado dos EUA precisa reavaliar suas práticas de segurança após o ataque ao complexo diplomático em Benghazi, na Líbia.

O ataque ao complexo argelino também poderia levar algumas empresas a sair de países onde o clima é especialmente volátil, embora analistas afirmem que esse evento provavelmente não irá remodelar de forma relevante o modo de atuação das empresas desse setor, que têm um longo histórico de lucrar muito em países em conflito ou até mesmo em nações em guerra (incluindo a Argélia), onde os trabalhadores que gostam de viajar o mundo --e apreciam o adicional de insalubridade que recebem-- há muito deixaram de lado os temores de serem sequestrados ou mortos.

"Esse ataque ressalta de forma terrível as preocupações relacionadas à segurança da infraestrutura das empresas de energia globais das quais o mundo depende", disse Daniel Yergin, historiador que estuda o petróleo. "A segurança tem sido uma preocupação muito grande nas duas últimas décadas e, agora, a segurança é uma preocupação ainda maior. Mas isso não significa que o trabalho deles vai parar".

O ataque no deserto abriu uma rara fresta de observação para um mundo que poucas pessoas de fora da indústria do petróleo conhecem: as dezenas de campos de petróleo e gás ao redor do globo, onde trabalhadores locais e estrangeiros se misturam --às vezes, de maneira desconfortável-- em amplos complexos rodeados por cercas reforçadas que são uma estranha mistura de privilégio e privação.

Muitos desses trabalhadores vivem em partes do mundo onde os problemas políticos fora dos muros da empresa somam-se aos riscos representados pelas forças da natureza: violentíssimas tempestades de areia, invernos rigorosos que quebram metais e doenças tropicais em áreas onde a assistência médica é fraca, para dizer o mínimo. Para manter seus funcionários enclausurados e focados no trabalho, as empresas costumam fazer propaganda das amenidades disponíveis, como piscinas no meio do deserto (o complexo de In Amenas tem uma), bifes de filé servidos no almoço e academias de ginástica com ar-condicionado.

Em alguns desses campos de petróleo e gás, as empresas japonesas que se especializam na construção desse tipo de instalação implantaram banhos comunitários ao estilo japonês e importam seus alimentos frescos, por via aérea, diretamente do Japão. In Amenas não possuía instalação para banhos comunitários, mas os trabalhadores japoneses que viviam e acabaram morrendo lá comiam separadamente dos trabalhadores locais e de outros estrangeiros --e dispunham de um chef especializado em cozinha japonesa só para atendê-los.

"É uma maneira de viver melhor do que em um hotel, mas não é como estar em casa. E nunca será", disse Pat Campbell, executivo que atua há muito tempo na Superior Energy Services e que, desde a década de 1960, já trabalhou no norte da África e no Oriente Médio. Campbell foi um dos técnicos responsáveis pelo controle dos incêndios nos campos de petróleo do Kuwait após a guerra do Golfo. "Não dá para não sorrir por dentro quando você está tomando um Bourbon caseiro à beira da piscina. Mas você está lá no deserto".

Os homens (e algumas mulheres) que se inscrevem para trabalhar nos campos de petróleo geralmente são aventureiros, pessoas capazes de tolerar bem o estilo de vida nos campos - e até mesmo de prosperar e se desenvolver profissionalmente. O salário e a rápida ascensão rumo ao sucesso corporativo que esses postos de trabalho podem proporcionar não são de se jogar fora; especialistas do setor dizem que gestores sêniores da área chegam a ganhar US$ 250 mil ou mais por ano. E essa quantia também pode durar bastante, pois durante os seis meses de trabalho anuais desses profissionais (eles geralmente trabalham 28 dias seguidos e ficam de folga outros 28 dias) alimentação e hospedagem são totalmente pagas pela empresa.

A família de Victor Lovelady, 57, prestador de serviços de Houston, acredita que ele foi um dos que morreram na batalha final travada pelos soldados argelinos em sua tentativa de retomar o complexo. Mike, irmão de Lovelady, disse que o objetivo de Victor era ganhar o suficiente em In Amenas para se aposentar mais cedo.

"Ele escolheu esse emprego pelo salário", diz ele. "Todos os trabalhadores do setor de petróleo vão para lá para poder se aposentar. Todo mundo sabe disso". Mas Mike Lovelady disse que seu irmão também foi atraído para esse tipo de trabalho após uma caçada na África, há 10 anos.

"Ele adorava a África, não sei por que, mas ele adorava", disse sua filha Erin, enquanto tentava segurar as lágrimas na casa de seu tio, localizada em Nederland, no Texas, onde a família realizou uma entrevista coletiva. "Ele estava muito animado em ir para lá".

Outro trabalhador que morreu, o japonês Rokuro Fuchida, gerente da JGC Corp, uma das empresas que operam em In Amenas, escreveu em sua página do Facebook há alguns meses que estava trocando a Arábia Saudita pela Argélia. "Eu rodo o mundo trabalhando para poder ver os céus noturnos e cintilantes das terras estrangeiras", escreveu ele. "Estou ansioso para ver o céu estrelado do deserto".

Um romeno chamado Liviu Floria, 45, que sobreviveu após uma fuga ousada, se empenhou, durante entrevista concedida para se diferenciar dos caçadores de aventuras que os campos de petróleo atraem. Ele disse que foi para a Argélia devido ao salário, que era cinco vezes maior do que o que ele ganhava na Romênia, e porque pretendia enviar sua filha para uma universidade no Reino Unido.

Floria falou sobre o que tornava a vida no campo divertida: os jogos de pôquer, que segundo ele, eram liderados pelos colegas britânicos, e as partidas de futebol, nas quais às vezes os britânicos enfrentavam os romenos e às vezes os expatriados jogavam contra os argelinos.

Como as empresas de petróleo têm dificuldade para descobrir onde precisam reforçar seus sistemas de segurança, analistas dizem que os líderes do setor vão ficar atentos agora, especialmente para tentar descobrir por que o complexo da Argélia foi invadido depois de anos em operação, num momento em que esse campo e outras instalações argelinas eram consideradas protegidas o suficiente para desencorajar ataques de militantes da região.

Um funcionário que trabalhava na instalação disse: "A segurança era ruim, não tinha o padrão exigido", mas a BP disse que o governo da Argélia era responsável por garantir a segurança do lado de fora das instalações.

Segundo David L. Goldwyn, ex-enviado do setor de energia do Departamento de Estado dos EUA, que atualmente tem uma empresa de consultoria, a Goldwyn Global Strategies, em Washington, caso os muçulmanos tenham ampliado sua capacidade de ataque, as companhias de petróleo terão que investir em sistemas de segurança mais caros, incluindo sistemas de detecção eletrônicos. Ele disse que o setor do petróleo levantará dúvidas e temores específicos sobre países como a Líbia, onde o governo era fraco e as empresas já perceberam que estão sozinhas.

"O setor está acostumado a atuar em locais perigosos, como a Nigéria", disse ele. "Mas há um limite. Se as empresas não acreditarem que são capazes de proteger suas equipes, elas irão embora, como fez a Chevron no Sudão".

Ainda assim, o setor do petróleo construiu sua reputação sobre a vontade de implantar operações em qualquer lugar do planeta, especialmente nos países onde se encontram os campos gigantes, conhecidos como os elefantes, apesar dos riscos políticos e outros perigos. A história é prova disso.

Em 1951, após o Irã nacionalizar sua indústria de petróleo, Teerã deu uma semana para que os últimos funcionários da petrolífera British Anglo-Iranian, que trabalhavam na refinaria de Abadan, deixassem o país. Como o historiador Yergin descreveu em seu livro "The Prize" (O Prêmio), os funcionários da empresa e suas famílias se reuniram em frente ao Gymkhana Club com seus animais de estimação, raquetes de tênis e tacos de golfe. Um cruzador britânico levou-os rio acima, para a cidade iraquiana de Basra, enquanto a banda do navio tocava, em tom de provocação, "Colonel Bogey March" (que posteriormente seria escolhida como música-tema do filme "A Ponte do Rio Kwai").

Apesar de esse evento ter marcado o início do fim da era de domínio europeu indiscutível sobre os campos de petróleo do Oriente Médio, ele não impediu a BP --sucessora da Anglo-Iranian-- de trabalhar com petróleo e gás em países como o Iraque e a Argélia.

E, enquanto as autoridades argelinas vasculhavam as danificadas instalações de In Amenas em busca de mais corpos, já havia alguns trabalhadores ansiosos para ajudar o complexo a se recompor e voltar a funcionar novamente.

"Eu estava pensando. Após passar por um ataque como esse, vai demorar muito tempo até que uma coisa dessas aconteça novamente", disse um veterano trabalhador do setor de energia, que pediu para não ser identificado, pois sua empresa solicitou aos funcionários que não falassem com a imprensa após a invasão em In Amenas. "Eu não acho que teria problemas para voltar a trabalhar lá".

* Colaboraram Clifford Krauss, de Houston e de Nederland, no Texas, e Stanley Reed, de Londres. Nicholas Kulish e Henrik Pryser Libell contribuíram com reportagem a partir de Bergen, na Noruega; Mihai Radu, de Bucareste; Martin Fackler, Makiko Inoue e Hisako Ueno, de Tóquio, e Ravi Somaiya, de Nova York.

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