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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Autoridades ocidentais e afegãs se dividem na nomeação do chefe da espionagem

Asadullah Khalid é o primeiro da esquerda para direta (sentado)

A determinação do presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, em tornar um importante aliado, Asadullah Khalid, seu próximo chefe de inteligência dividiu as autoridades ocidentais aqui, algumas dizendo estar perturbadas com as alegações de tortura e tráfico de drogas contra Khalid, e preocupadas que sua nomeação para um cargo poderoso possa ser um passo para trás para o país.

Com um estilo carismático e um histórico de combate ao Taleban, assim como laços estreitos com a CIA e com diferentes facções afegãs, Khalid poderia se tornar um poderoso aliado político e mantenedor da segurança para Karzai, disseram as autoridades ocidentais. E se ele for confirmado nesta semana como chefe da agência de espionagem afegã, o Diretório Nacional de Segurança, ele estaria em posição de ajudar Karzai a manter sua influência após o término de seu mandato em 2014.

Desde o assassinato do irmão do presidente, Ahmed Wali Karzai, no ano passado, Khalid se transformou quase em um membro da família –um pashtun com hábil habilidade política que provou ser fortemente leal, e uma ponte junto a ex-líderes da Aliança do Norte, que continuam importantes para o apoio a Karzai, mas desconfiam dos assessores da presidência inclinados ao Paquistão.

Em comparação, Khalid é visto como adversário do Paquistão. Amrullah Saleh, um ex-oficial da Aliança do Norte e ex-diretor de inteligência do Afeganistão que agora está na oposição ao governo Karzai, chamou Khalid de “um homem bom”, conhecido por sua coragem e laços incomumente fortes com diferentes facções.

“Ele conhece os líderes no Norte e os líderes no Sul, de modo que pode ligar os dois lados”, disse Saleh.

Mas sua indicação foi instantaneamente problemática para as autoridades de direitos humanos e outras autoridades do Ocidente e afegãs, que se concentram nas alegações persistentes de que Khalid supervisionou tortura na prisão quando foi governador da província de Kandahar, há vários anos. Essas autoridades, entre elas mais de 20 entrevistados que falaram sob a condição de anonimato, disseram que se ele empregar a agência de segurança como uma arma de repressão, ele poderia minar uma década de trabalho voltado ao país adotar direitos humanos ao estilo do Ocidente.

“Se as organizações de segurança afegãs puderem usar seus métodos mais escandalosos para combater a insurreição em nome da segurança maior, então nós sacrificaremos os elementos do estado de direito e prestação de contas que estão no centro do sucesso da transição”, disse um diplomata ocidental.

Khalid, que não respondeu a um pedido de entrevista, negou as alegações de corrupção e direitos humanos. Seus aliados disseram que em muitos casos as acusações têm motivações políticas, ou que ele nunca fez nada pior do que outras autoridades.

Com o fim do mandato de Karzai –e com ele, a missão da Otan no Afeganistão– em dois anos, a especulação sobre quais serão as próximas ações do presidente se transformou no jogo de salão favorito: ele poderia fazer um arranjo ao estilo Putin-Medvedev da Rússia, com um sucessor de confiança. Ele poderia tentar mudar a limitação de dois mandatos. Ou poderia apoiar seu irmão Qayum. (Karzai disse para alguns diplomatas que pretende deixar o poder e não fazer nada que possa manchar o processo, disse uma autoridade.)

O que é certo é que Khalid, se confirmado, seria de ajuda crucial em qualquer uma dessas situações. Na eleição de 2009, quando foi ministro da fronteira e dos assuntos tribais, Khalid “ajudou Kharzai significativamente”, e houve alegações de que ele usou “grande parte da verba de seu ministério para isso”, segundo um cabograma diplomático americano publicado pelo WikiLeaks.

E é difícil exagerar quanto poder e confiança Karzai depositou em Khalid no ano passado, disseram as autoridades.

Após a morte de Ahmed Wali Karzai, o presidente deu a Khalid o portfólio de segurança de seu falecido irmão no sul do Afeganistão e o encarregou de proteger os empreendimentos prósperos da família em Kandahar.

“Ele está absolutamente ligado à família”, disse outro diplomata ocidental, notando que a confiança em Khalid é suficiente para após a morte de Ahmed Wali Karzai, ele ter sido enviado para Kandahar “para assegurar a proteção dos interesses dos Karzai”.

A forma paternal como Karzai vê Khalid ficou clara para um ex-diplomata ocidental durante uma conversa com o presidente.

“Ele era como um pai com um filho que ele realmente espera que fique bem”, disse um ex-diplomata.

Avaliando a nomeação de Khalid, o diplomata acrescentou: “Se 80% do trabalho for cuidar da segurança, você vai querer esse cara. Mas se 80% do trabalho for tornar as instituições mais responsáveis e melhorar o estado de direito, ele provavelmente não seria a melhor opção”.

Khalid trabalhou para Abdul Rab Rasul Sayyaf, um sunita religiosamente conservador ligado à Arábia Saudita e um dos senhores da guerra que deixaram Cabul em pedaços na guerra civil de 1992-1996. Sayyaf continua sendo um apoiador e pressionou Karzai a lhe dar um cargo importante. Ele também ajudou Khalid a obter seu primeiro governo, na província de Ghazni em 2002.

Na época, “ele era um garoto inexperiente”, disse uma autoridade de Ghazni.

Mas ele amadureceu rapidamente e liderou ataques contra esconderijos do Taleban, disse a autoridade, que o descreveu como o melhor governador de Ghazni pós-Taleban.

Em 2005, Khalid foi transferido para Kandahar, o coração das intrigas da família Kharzai e território de Ahmed Wali Karzai. O presidente disse ao irmão para não interferir com Khalid, disseram pessoas ligadas ao irmão.

À medida que crescia sua estatura, o relacionamento mais estreito de Khalid com a família foi com Qayum Karzai, segundo algumas autoridades, que levou Khalid à Arábia Saudita há quatro anos para uma reunião com autoridades sobre as negociações com o Taleban.

Mas em Kandahar ele provou ser controverso. Ele obteve apoio das tropas das Operações Especiais da Otan para suas táticas, mas enfureceu alguns diplomatas ao alienar grande parte da população com medidas arrogantes, disseram duas ex-autoridades ocidentais.

E apesar de encantar os ocidentais, seu estilo às vezes ofende os pashtuns tradicionais. Um afegão de alto escalão disse que Khalid botava rudemente os pés na mesa durante reuniões com anciões. Em 2006, um alto funcionário afegão se queixou aos diplomatas de que ele tinha enfurecido os líderes tribais, por “não respeitar as tradições locais conservadoras”.

Khalid foi afastado de Kandahar em 2008. Segundo um cabograma diplomático vazado, o presidente Karzai “não ficou impressionado com a administração de Khalid de sua província natal”. Em outro cabograma posterior naquele ano, os diplomatas americanos foram sarcásticos ao avaliá-lo para um cargo ministerial, o chamando de “excepcionalmente corrupto e incompetente”.

Então, em uma audiência parlamentar canadense de 2009, algumas das acusações mais sérias imagináveis foram feitas contra Khalid por Richard Colvin, um ex-diplomata canadense no Afeganistão. Ele descreveu Khalid como um traficante de drogas que, enquanto foi governador, torturou pessoas em uma masmorra em Kandahar. Na época, as forças canadenses eram responsáveis pela segurança da região.

“Ele ordenou a morte de pessoas que estavam em seu caminho”, disse Colvin.

Ao voltar para Kandahar no ano passado, Khalid talvez tenha agido rápido demais em substituir as autoridades por seus aliados. O governador, Tooryalai Wesa, se queixou a Karzai, que pediu para que Khalid recuasse, disse uma autoridade de Kandahar.

Mas em pouco tempo ele também fez com que todo escritório do Diretório Nacional de Segurança no Sul prestasse contas a ele, disse outro diplomata. Ele agora também serve como os olhos, ouvidos e distribuidor de dinheiro de Karzai para os movimentos de levante anti-Taleban em Ghazni. Isso fortaleceu as relações com alguns membros do Hezb-e-Islami, um partido que, diferente de Khalid, tem fortes laços com o Paquistão.

Qualquer que seja seu passado, Khalid é astuto o suficiente para prestar atenção nos alertas de autoridades preocupadas com as implicações de suas ações, disse uma autoridade americana.

“Nós vamos encorajá-lo a ir na direção certa”, disse a autoridade. “Asadullah Khalid é alguém com quem já pudemos trabalhar.”

“Trata-se de soberania”, acrescentou a autoridade. “Ela pode ser complicada.”

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