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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Le Monde: Comunidade internacional tem o dever moral de intervir na Síria, diz ex-premiê libanês


François Hollande and Saad Hariri
Líder da Corrente do Futuro, o principal partido de oposição libanês, Saad Hariri, 42, vive em Paris desde junho de 2011, depois de ter sido primeiro-ministro do Líbano durante dois anos. Ele luta por um maior apoio à revolução síria e pede que Paris, em uma entrevista ao "Le Monde", se envolva mais. Ele teve um encontro com o presidente francês, François Hollande, no Palácio do Eliseu, na última quarta-feira (12).

Le Monde: O senhor acredita que o regime sírio cairá?
Saad Hariri: O regime sírio vai cair no final desse conflito, com certeza. O importante é impedir a continuidade do genocídio que ele vem conduzindo contra seu povo. Quanto mais tempo levar sua queda, mais danos haverá, e mais demorada será a reconciliação.

Le Monde: De onde o senhor tira a certeza de que é o fim do regime?
Hariri: O regime não controla mais o país. A Síria é um Estado falido. Por que esse regime está usando aviões e helicópteros contra seu próprio povo? Porque ele está perdendo cada vez mais espaço para o Exército Livre Sírio (ELS). Assad gostava de repetir que Damasco e Aleppo nunca seriam afetadas pela insurreição e, hoje, ele está bombardeando essas duas cidades de cima. Não se deixem enganar por essas ações de efeito do regime. O povo sírio está vencendo. É preciso tentar que seu sangue corra o mínimo possível. É aí que a comunidade internacional tem o dever moral de intervir.

Le Monde: Intervir como? Diplomaticamente, militarmente?
Hariri: Hoje, existe um equilíbrio de forças entre o governo e a oposição, sendo que esta última não possui armas sofisticadas. Se lhes derem as armas das quais precisa, a oposição poderá vencer facilmente.

Le Monde: Quem pode ajudar a oposição síria?
Hariri: A França tem um papel muito importante. Ela deu declarações muito fortes desde o início da revolução. Se ela assumir a liderança dos aliados do povo sírio, terá no futuro um enorme papel na região. Hoje, existe um debate sobre as zonas protegidas (safe zones), que supostamente não permite interferência sem o aval da ONU. Se a França encorajar seus aliados a darem à oposição síria aquilo de que ela precisa, essa oposição poderá estabelecer sozinha zonas protegidas. Seria uma situação em que a França só sairia ganhando.

Le Monde: O senhor espera por novas deserções?
Hariri: As pessoas não estão com Bashar al-Assad porque querem. Se virem que a pressão internacional está aumentando, elas desertarão.

Le Monde: O senhor conhece Bashar al-Assad.  O que achou de sua última entrevista?
Hariri: Ela me deu dor no estômago. É um homem que vê seu povo se matando e que reage como se nada estivesse acontecendo. Ele trata crianças, mulheres e idosos como terroristas unicamente porque eles não têm a mesma opinião que ele. Ele só quer poder e dinheiro. Um homem desses precisa pagar, algum dia.

Le Monde: A guerra civil na Síria não beneficiará os islamitas?
Hariri: Na Líbia, houve uma guerra e foram esses liberais que venceram as eleições. Em todo o mundo árabe, no Egito, na Tunísia, os islamitas têm feito esforços para tranquilizar e agregar. Antes, eles só criticavam. Hoje, eles têm o dever de ser responsáveis. Eles prometeram muito e, se não cumprirem suas promessas, perderão muito.

Le Monde: O senhor confia na oposição síria?
Hariri: Durante quarenta anos, esse regime matou ou prendeu qualquer opositor. Com a "primavera árabe", as pessoas se revoltaram e uma oposição começou a emergir na Síria. Ela não é perfeita, isso é normal. Mas, quando fazem besteira, o Exército Livre Sírio tem a coragem de condená-los.

Le Monde: O senhor teme uma agitação no Líbano, por efeito de contágio?
Hariri: Não tenho medo de que uma guerra civil vá estourar no Líbano porque nenhum partido libanês quer isso. Quanto mais o regime sírio se enfraquecer, mais ele se esforçará para nos arrastar consigo em sua queda. Vimos isso com o caso Samaha, que foi um ato de guerra [o político libanês pró-sírio, Michel Samaha, foi preso no início de agosto acusado de ter transportado explosivos com o intuito de organizar atentados no Líbano, por ordem de Damasco]. Se observarmos a violência entre sunitas e alauítas que tem surgido em intervalos regulares em Trípoli, podemos ver que ela emana ou de aliados do regime sírio, ou diretamente de seus agentes. O regime sírio está tentando nos desestabilizar. Mas conseguiremos resistir a essas provocações.

Le Monde: O que o senhor pensa da atitude do governo libanês de Najib Mikati, que pretende "se manter afastado" da crise síria?
Hariri: Ser prudente é bom, mas não se deve ser submisso. Se a posição do governo libanês tivesse sido franca, não teria ocorrido o caso Samaha.

Le Monde: O Hezbollah está envolvido na repressão ao levante na Síria?
Hariri: Sim, e de todas as maneiras possíveis. Mesmo que negue isso, acredito que ele está enviando libaneses para a Síria.

Le Monde: O 14 de Março [aliança de partidos anti-sírios], do qual seu movimento faz parte, tampouco está inativo...
Hariri: Nós somos culpados de termos aberto nossa mídia aos opositores e de termos aberto nossas escolas para os refugiados, é só. O regime sírio tem concentrado seus ataques em nós, pois estamos frágeis. Ele jamais ousaria falar dessa maneira sobre a Turquia. Quem tem armas no Líbano é o Hezbollah, não o 14 de Março.

Le Monde: Como o senhor avalia a ação de François Hollande no Oriente Médio?
Hariri: No que diz respeito às relações franco-libanesas, tem prevalecido a continuidade. François Hollande viu Michel Sleimane [o presidente libanês]. Ele reafirmou o comprometimento de Paris com a soberania e a integridade do Líbano. Quanto à questão síria, as posições do presidente francês são claras, mas estamos esperando mais de Paris. É do interesse da França não somente tomar posições, mas também agir.

Le Monde: O senhor pensa em um dia voltar para o Líbano?
Hariri: Eu me mantenho fora do Líbano por razões de segurança. Nos últimos meses, dois líderes do movimento do 14 de Março, Samir Geagea e Boutros Harb, foram alvo de tentativas de assassinato. Mas vou voltar, é claro. Participarei das próximas eleições legislativas [programadas para a primavera] e vencerei, contanto que a votação não seja manipulada. Todos aqueles que apostam no fim de minha carreira política estão enganados.

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