Netanyahu e Mitt Romney |
Em Jerusalém, ele costuma ser chamado de “Bibi, o americano”. Binyamin Netanyahu usa e abusa de seus talentos linguísticos: voz grave, um pouco abafada, ao estilo dos locutores de chamadas da CNN, ele fala um inglês americano melodioso, perfeito, quase untuoso. E supõe-se que todos saibam disso. Na antecâmara do gabinete do primeiro-ministro, “muitas vezes se ouve falar mais inglês do que hebraico”, nos dizia um jornalista do jornal “Haaretz”.
Nascido em 1949, o chefe do governo israelense passou quatorze anos nos Estados Unidos. Ali ele concluiu seus estudos secundários, antes de servir cinco anos em uma unidade de elite em Israel. De volta aos Estados Unidos, ele foi admitido no prestigioso Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde fez mestrado. Passou por Harvard, antes de trabalhar para uma das consultorias mais renomadas, a Boston Consulting Group. Ele logo entrou para a vida pública: dois anos na embaixada de Israel em Washington, antes de dirigir, entre 1984 e 1988, a delegação de seu país na ONU, em Nova York.
Ele se sente em casa, na Costa Leste. A mídia o disputa. Ele é o israelense mais conhecido nos Estados Unidos, o político estrangeiro mais à vontade em um estúdio de televisão. Em Jerusalém, Bibi Netanyahu se faz de especialista em política americana, aquele que conhece os Estados Unidos como pessoa, aquele que pode chamar pelo primeiro nome qualquer presidente de comissão na colina do Capitólio.
No entanto, ele acaba de cometer uma enorme gafe, um deslize sem precedentes. Mais do que uma falha, um gesto muito feio que poderia pesar muito no futuro de suas relações com o governo americano. Na semana passada, Bibi interferiu na campanha eleitoral dos Estados Unidos. Ele quis usá-la para fazer pressão sobre Barack Obama, procurou se aproveitar do fato de que o candidato republicano, Mitt Romney, criticou a suposta fraqueza de Barack Obama na questão iraniana, para obter concessões do atual presidente.
Não muito elegante, por si só. Mas, mais grave, isso equivale a tomar partido abertamente de Mitt Romney, a desejar a derrota de Barack Obama, ou seja, desafiar um homem que de qualquer forma tem chances de passar mais quatro anos na Casa Branca. Também não muito hábil.
Netanyahu pede por duas coisas. Ele quer que o Irã seja colocado diante de “linhas vermelhas”: a República Islâmica não deve poder ir além de um certo limiar no caminho da nuclearização militar. Se ela o ultrapassar – e, para Bibi, já é o caso - , então Israel deve receber sinal verde de Washington para uma operação militar ou, ainda melhor, conduzi-la juntamente com os Estados Unidos.
Obama não quer se comprometer com “linhas vermelhas”. Ele já deixou clara sua posição: os Estados Unidos não aceitarão que o Irã obtenha a arma nuclear. Ele recomenda paciência a Israel – por enquanto.
O primeiro-ministro israelense o refutou brutalmente: “Aqueles que se recusarem a estabelecer linhas vermelhas ao Irã não terão nenhum direito moral de brandir um sinal vermelho a Israel”, lançou Netanyahu, dirigindo-se a Obama.
Vários premiês israelenses já tiveram diferenças com a Casa Branca. Nos anos 1960, Levi Eshkol passou por cima da oposição de John F. Kennedy e de Lyndon B. Johnson ao programa nuclear israelense. Ronald Reagan não queria que Menahem Begin atacasse o reator nuclear iraquiano Osiraq em 1981.
Mas nenhum desses conflitos se deu em praça pública, relata Ari Shavit, no jornal “Haaretz”. Pelo contrário: até Bibi, cada chefe de governo israelense sempre tomou o cuidado de cultivar um apoio bipartite a Washington.
Já Netanyahu procurou mobilizar a opinião pública a seu favor. Ele apareceu na televisão americana para defender sua posição – o que equivalia a atacar a de Obama. Em plena campanha eleitoral. No momento em que Mitt Romney estigmatiza a fragilidade da política iraniana do presidente; no momento em que o republicano acusa o democrata de ter faltado com empatia por Netanyahu!
Por qualquer um dos lados que se veja a história, ela se resume a uma fórmula: Bibi “vota” em Mitt. E Mitt retribui à altura. Isso porque as posições de Romney sobre o conflito israelense-palestino são as de Netanyahu. Diante dos financiadores de seu partido na Flórida, Romney explicou, em meados de setembro, que a criação de um Estado palestino ao lado de Israel não era possível.
“De qualquer maneira, acredito que os palestinos não querem a paz”, disse o candidato republicano às eleições do dia 6 de novembro. “Eles querem a destruição e a eliminação de Israel (...) Vocês precisam reconhecer que isso vai continuar sendo um problema sem solução”.
A conclusão de Romney é a mesma de Bibi. Este garante que não tem interlocutor palestino. Ele continua ativamente com os assentamentos nos territórios ocupados, e acredita que a desestabilização atual do mundo árabe lhe proíbe qualquer iniciativa em relação aos palestinos. Ele defende esse falso statu quo que consiste em aumentar continuamente as colônias israelenses na Cisjordânia.
Obama não cedeu à ofensiva do primeiro-ministro sobre a questão das “linhas vermelhas” iranianas. O caso não melhorou as relações dos dois. Eles não se entendem desde o começo: Bibi recusou o pedido de Obama por uma suspensão dos assentamentos na Cisjordânia. A Casa Branca, contrariada, não muito corajosa na circunstância, deixou de lado a questão israelense-palestina. Barack Obama nunca fez nenhuma visita oficial a Jerusalém.
Mas tudo isso não impediu em nada os Estados Unidos de Obama de se comportarem como fidelíssimos aliados de Israel. Pelo contrário. Eles levaram a cooperação militar a um nível inédito. “Não me lembro de um apoio tão grande como esse no plano estratégico”, garantiu recentemente o ministro israelense da Defesa, Ehud Barak. A administração Obama lutou contra qualquer deslegitimização de Israel na ONU.
O “voto” de Bibi em Mitt não é só surpreendente. É também tão ingrato quanto arriscado.
quando um politico faz gafe é quando está a dizer o que realmente pensa, nao o que esta a ler num papel.
ResponderExcluirÉ mesmo! Partilarmente não gosto nem um pouco do Mitt,ele tem cara de cabra de pêia! Mas mesmo assim ele fala aquelas asneiras todas em troca de voto! Em mim há dúvidas se ele estivesse no lugar do Obama hoje, ele faria mesmo os gostos de cretino aí! Todos temem, pelo o que eu sei, dos lados envolvidos(os dois Is)um conflito entre eles, até mesmo generais renomados, só esse Bibi que acha que pode! Sem falar que se confia muito nos EUA, pois é a única maneira de vencer o Iran, penso que fôsse o contrário já teriam feito, assim como na Síria e Líbano!
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