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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Le Monde: Após 17 meses, população síria ainda é castigada pelos confrontos no país


Como os bairros do leste de Aleppo, as zonas rurais nas mãos dos insurgentes estão sujeitas a um bombardeio sistemático. Não há mais nenhum vilarejo, nenhuma aldeia do norte da Síria que escape do castigo do governo sírio. Casas destruídas, populações mortas: enquanto as forças governamentais continuam a enfrentar o Exército Livre Sírio (ELS) em Aleppo, a tática de terra arrasada conduzida pelas forças de Damasco se estende até as zonas onde se encontram os insurgentes.

Depois da cidade, o campo. Entre Aleppo e Idlib, e até Homs ou seus arredores, não são mais os bombardeios esporádicos dos meses passados, quando o ELS se instalava nas zonas rurais, mas bombardeios de saturação em toda uma região. Quem confirma é Donatella Rovera, da Anistia Internacional, que está voltando de uma viagem de várias semanas “pelas regiões de onde o exército sírio foi expulso pelas forças da oposição”, no noroeste da Síria.

Essa zona, segundo a pesquisadora, está sujeita a “uma política de bombardeios aéreos, com a ajuda de armas imprecisas, normalmente destinadas a campos de batalha, mas utilizadas contra zonas residenciais, com consequências desastrosas para a população civil. Em cada um dos vilarejos e cidades que visitei nas últimas semanas, os bombardeios aéreos, os tiros de canhão ou de morteiro se tornaram uma realidade cotidiana para a população. As vítimas são invariavelmente civis e muitas são crianças”.

Outras cidades insurgentes da Síria, ou seus arredores, de Deraa até Deir-Ez-Zor, também são bombardeadas. Mas no norte da Síria, da fronteira turca até a do Líbano, em um oval amplo onde o exército sírio, desde o mês de maio, foi progressivamente expulso, ele volta pelo céu, em todo lugar onde consegue bombardear. É o principal objetivo dessa campanha de bombardeamento estratégico: por não conseguir atingir o inimigo, é preciso destruir seus recursos vitais. Isso equivale a atingir a população com canhões, aviões e helicópteros. As forças leais ao governo têm o controle absoluto do céu, mas também dependem de posições militares no meio de zonas insurgentes.

Assim, helicópteros decolam da base de Meneg, bem próximo de Azaz, uma cidade onde a concentração de tropas do ELS é forte. Cinco minutos de voo lhes bastam para metralhar veículos nas estradas vizinhas ou bombardear mercados e casas aleatoriamente. O ELS tentou por diversas vezes tomar Meneg de assalto, sem sucesso. Assim como ele fracassou em tomar ou destruir os aeroportos da região de Aleppo e de Idlib. Sem falar de bases militares como a academia militar de Al-Ramoussa, ou do acampamento de Al-Mouchat, dos chamados “rangers”, logo ao norte de Aleppo, a partir do qual o exército sírio utiliza sua artilharia contra os vilarejos vizinhos mantidos pelo ELS.

Outras partes da Síria insurgente também se encontram sob bombardeios. Mas Aleppo é particularmente visada, porque ainda resta muito a ser destruído, e porque a resistência do ELS está estabelecida ali em uma longa faixa. Em Damasco, a capital, o ELS havia conseguido infiltrar armas e combatentes, mas suas forças se defrontaram com um exército determinado, capaz de retomar bairros casa por casa e permanecer ali.

Em Aleppo, o exército está estagnado, por falta de tropas sólidas que uma guerra urbana exige, e para preservar suas melhores unidades para a “Síria útil”, a começar pela capital. Quando o ELS entrou em Aleppo, por volta do mês de maio, a ideia era preparar terreno para unidades rebeldes constituídas... nos vilarejos da região, antes de lançar um ataque conjunto à cidade, por volta do dia 20 de julho. A grande batalha na capital econômica síria deveria fazer o regime vacilar. As katibas (brigadas) treinadas haviam viajado de Idlib, ou ainda de Hama. Com o apoio de combatentes estrangeiros, Aleppo se tornou um cruzamento da guerra.

No início de agosto, o exército anunciava uma grande ofensiva para retomar a cidade. Ele fracassou. Uma guerra de desgaste se instaurou, da qual o exército sírio tem tentado sair criando vácuo nas zonas insurgentes. Por não conseguir retomar a metade leste de Aleppo, o governo sírio continua destruindo-a metodicamente, estendendo esse método para o norte insurgente.

Os Comitês de Coordenação Local (LCC), uma organização de militantes que estabeleceram uma rede de correspondentes por todo o país, dizem ter registrado 167 vítimas por toda a Síria, no último dia 16, sendo 50 em Aleppo. Nos vídeos, é possível distinguir os mortos do dia, cadáveres irreconhecíveis, empilhados no chão, na frente de um dos hospitais de Aleppo.

O choque foi ainda mais duro pelo fato de que “a cidade se viu da noite para o dia no meio de uma guerra civil”, observa Thomas Pierret, pesquisador no centro de estudos sobre islamismo e Oriente Médio (Islamic and Middle Eastern Studies) na Universidade de Edimburgo. Qual é o estado de espírito dos habitantes, tanto nas zonas do ELS quanto na parte oeste da cidade, onde se encontram as classes mais favorecidas e a administração? Uma fonte familiar da cidade fala em membros da elite de Aleppo, que “deram verba para a oposição, em segredo”, mas começam “a se questionar, ao perceber que a guerra está se aproximando da casa deles e, junto com ela, a ameaça da destruição”.

A presença do ELS em uma zona agora implica sua destruição às cegas pelos bombardeios. Segundo Peter Harling, diretor do projeto para o Oriente Médio no International Crisis Group (ICG), “o regime sírio luta de uma forma que torna qualquer vitória impossível, ao realizar uma escalada das formas e dos níveis de violência, na esperança de restabelecer seu poder através do medo”.

Esse medo entre a população parece difícil de reinstalar dentro de um número cada vez maior de famílias, cujos parentes ou casa foram levados pelas bombas e que literalmente não têm mais nada a perder. Ao destruir parte do país, o governo não consegue convencer que cuidará da segurança de seus habitantes e de seu bem-estar em caso de vitória. Mas essa armadilha também espreita as forças do ELS, que não têm conseguido demonstrar que podem proteger as zonas onde operam.

Pode o ELS vencer a batalha da capital de uma economia devastada? A guerra de desgaste não descarta as reviravoltas. Enquanto isso não acontece, os bairros do leste da cidade continuam a se esvaziar, na direção de vilarejos agora bombardeados ou de bairros do oeste, ainda poupados. Segundo o Ministério da Educação sírio, atualmente há deslocados instalados em mais de 800 escolas de todo o país. A Unicef contou 2.000 escolas destruídas ou danificadas pelos combates ou bombardeios. Em Homs, meio milhão de deslocados estão vivendo em cem prédios públicos. A ONU espera distribuir comida para metade deles.

“Dezessete meses de banho de sangue e de destruição não foram suficientes para que o governo ou a oposição conseguissem encontrar uma solução que não implicasse na erradicação do outro”, analisa o último relatório do ICG sobre a guerra na Síria.

Um comentário:

  1. Que não vença ninguém, simplesmente escolham um novo governo, que seja nem o atual nem dos rebeldes.

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