Social Icons

https://twitter.com/blogoinformantefacebookhttps://plus.google.com/103661639773939601688rss feedemail

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

EL País: América Latina busca seu lugar no mundo

Logo da UNASUL (União de Nações Sul-Americanas)

Entre os títulos publicados por motivo da próxima comemoração em Cádiz dos 200 anos da promulgação de La Pepa [A Constituição de Cádiz - 1812], chama a atenção a obra "Era cuestión de ser libres" [Tratava-se de ser livres], de Miguel Ángel Cortés e Xavier Reyes Matheus, que estabelece interessantes paralelos na evolução política do liberalismo hispânico nas duas margens do Atlântico, quando hoje a América Latina, mas também a Espanha, busca seu lugar no mundo.

O liberalismo político luta para se estabelecer na península e suas antigas colônias durante os séculos 19 e 20, sem que se possa dizer que essa trajetória, que percorre, também em ambos os casos, graves episódios ditatoriais, chegou ao fim. A América Latina está vivendo uma tentativa de redefinição entre populista e revolucionária, que algum de seus protagonistas batizou de bolivariano, e na própria Espanha a animosidade nacional da Catalunha constitui não só uma aspiração independentista, como uma proposta de reestruturação do Estado espanhol.

A única coisa em que provavelmente concordam todos os que são legalmente espanhóis é na manutenção da seleção de futebol.

Pelo menos três concepções, basicamente incompatíveis entre si, se postulam diante da cidadania latino-americana. Uma, de corte clássico, à qual é possível chamar de renovação, tem como objetivo estabilizar a versão pós-europeia da América, com todos os matizes diferenciadores do caso como seria a substituição do Atlântico pelo Pacífico como mar de futuro, e o chamariz da China como plataforma econômica para modernização. Colômbia, México, Peru e Chile são os grandes catecúmenos dessa redefinição, tanto fiel quanto renovadora da relação fundamental entre Europa e América Latina.

No segundo bloco se inclui o que caberia chamar de inovação, embora seus adeptos prefiram o termo muito mais concludente de "revolução". São os bolivarianos, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua, sob o nebuloso patrocínio de Havana, que em seu empenho para criar o "socialismo do século 21", mas sem erradicar por completo um liberal-capitalismo obediente, parece querer impor o que o cientista político argentino Juan José Sebreli qualificava na obra citada de "ideia autoexótica" de si mesmos.

O instrumento pelo qual supostamente se instalaria esse socialismo com data seria a "democracia participativa", por meio da qual o presidente venezuelano, Hugo Chávez, espera congregar todos os poderes em sua mão, sem por isso desmantelar estruturas de caráter democrático como partidos, eleições e uma certa margem de liberdade de expressão. Algo assim como um governo autoritário por aparente consentimento do eleitor.

E finalmente uma autêntica revolução apoiada novamente na eloquência do sufrágio, como era a defendida por Evo Morales na Bolívia, e que consiste em uma reinvenção do indígena, que no livro mencionado se qualifica de "tão falsa quanto o índio criado pela fantasia do conquistador europeu no século 15"; uma construção que nega as consequências da mestiçagem e de toda a hibridação ocorrida, especialmente no mundo andino, durante os séculos de colônia e independência.

Alguns de seus protagonistas podem inclusive sentir "a arrogância do ódio de si mesmo", do branco ou do apenas meio indígena, o que quem quiser fazê-lo poderia apreciar em figuras como a do vice-presidente boliviano, Álvaro Garcia Linera, um descendente de europeu ("criollo") que aposta em "meter-se a índio".

Se o estadista conservador espanhol Antonio Cánovas del Castillo, como também afirma a obra, disse que "a política é a arte de aplicar aquela parte do ideal que as circunstâncias tornam possível", o que o líder chavista pretende é, acima de tudo, criar essas circunstâncias, e o presidente boliviano, destruir as que o tornem impossível.

O legado hispano-europeu que se mantinha com retoques no caso da renovação; que não desaparecia apesar dos notáveis implantes realizados pelo chavismo no campo da inovação, se transforma no caso da revolução em categoria a extinguir.

O livro é um discurso, um panfleto como gênero político-literário, uma apologia irrestrita do liberalismo político e econômico, defensor de um eurocentrismo hispânico contrário a todo multiculturalismo, que aspira, finalmente, a ver o triunfo absoluto das ideias liberais nas duas margens do Atlântico. O momento para isso pode ser determinante com as eleições de 7 de outubro na Venezuela, nas quais a renovação de Henrique Capriles enfrenta a inovação de Hugo Chávez, e na Europa o neoliberalismo exacerbado deve ter algo a ver com os desastres econômicos que vivemos. Um paralelo de ação-reação comove todo o mundo hispânico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário