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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Guerra civil da Síria impõe novo perigo ao frágil Iraque

Soldados curdos Peshmerga vigiam a fronteira iraquiana com a Síria na região da província de Ninawa 

A guerra civil na Síria está testando a frágil sociedade e a jovem democracia do Iraque, agravando as tensões sectárias, empurrando o Iraque mais perto do Irã e apontando suas falhas de segurança, apenas nove meses após a o término da longa e custosa ocupação dos EUA.

Temendo que os insurgentes iraquianos se unam aos extremistas na Síria para travarem uma batalha de duas frentes pela dominância sunita, o primeiro-ministro Nouri Al-Maliki recentemente ordenou aos guardas da fronteira ocidental que impedissem a entrada no Iraque de homens adultos, até mesmo maridos e pais com suas famílias, junto  com milhares e refugiados que buscam escapar da dura guerra ao lado.

Mais ao Norte, as autoridades iraquianas têm outra preocupação, também relacionada com as batalhas do outro lado da fronteira. Aviões de guerra turcos aumentaram seus ataques contra os esconderijos dos insurgentes curdos nas montanhas, ressaltando a incapacidade do Iraque de controlar seu próprio espaço aéreo.

O endurecimento das posições antagonistas da Síria -que reverberam pelo Iraque- ficou claro para a Organização das Nações Unidas, quando o novo enviado especial para a Síria, Lakhdar Brahimi, fez uma avaliação fria do conflito ao Conselho de Segurança e disse que não via a perspectiva para uma melhora tão cedo.

Os efeitos da guerra na Síria chamaram a atenção para fatos inconfortáveis para as autoridades norte-americanas: apesar de quase nove anos de engajamento militar, um esforço que continua hoje com um programa de venda armas de US$ 19 bilhões, a segurança do Iraque ainda é incerta e sua aliança com o governo teocrático em Teerã está crescendo.

O governo iraquiano dominado pelos xiitas está tão preocupado com a possível vitória dos sunitas radicais na Síria que se aproximou do Irã, que compartilha um interesse similar e apoia o presidente sírio, Bashar Assad.

Já houve indicações que insurgentes sunitas no Iraque tentaram coordenar-se com combatentes sírios para gerar uma guerra sectária regional, segundo os líderes tribais iraquianos.

"Combatentes de Anbar foram para lá apoiar sua seita, os sunitas", disse o xeque Hamid Al-Hayes, líder tribal na província de Anbar, no Oeste do Iraque, que liderou um grupo de antigos guerrilheiros que trocou de lado e uniu-se aos americanos para combater a Al-Qaeda no Iraque.

Em resposta, os EUA tentaram assegurar seus interesses. O governo norte-americano pressionou o Iraque sem sucesso para que impedisse os voos do Irã que atravessam o espaço aéreo iraquiano para levar armas e combatentes para o governo de Assad, apesar de um porta-voz do governo iraquiano ter dito no final de semana que o Iraque ia começar a fazer buscas ao acaso de aeronaves iranianas, segundo a Associated Press.

Enquanto alguns líderes do Congresso ameaçaram cortar a ajuda ao Iraque se os voos não parassem, os EUA estão tentando apressar suas vendas de armas ao Iraque para garanti-lo como aliado, disse o general Robert L. Caslen Jr., comandante responsável pelo esforço dos EUA. Com a degradação da segurança regional, os EUA estão tendo dificuldades para entregar as armas -especialmente os sistemas antiaéreos- com rapidez suficiente para satisfazer os iraquianos, que em alguns casos estão procurando em outras partes, inclusive na Rússia.

"Eles querem uma parceria estratégica com os EUA, mas reconhecem a vulnerabilidade e estão interessados em se aproximar da nação que puder supri-los em suas necessidades o mais rápido possível", disse Caslen, que dirige um escritório do Pentágono aqui, sob a autoridade da embaixada norte-americana, que intermediou a venda de armas para o Iraque.

Os Estados Unidos estão fornecendo ao Iraque armas recauchutadas, gratuitamente, mas só chegarão em junho. Enquanto isso, os iraquianos pegaram os mísseis da Guerra Fria que encontraram em um ferro-velho na base aérea ao Norte de Bagdá e estão tentando consertá-los. Além disso, o Iraque está negociando com a Rússia para comprar sistemas de defesa aérea que possam ser entregues mais prontamente do que os comprados dos EUA.

"Os iraquianos reconhecem que não conseguem controlar o espaço aéreo e estão muito preocupados com isso", disse Caslen. Cada vez que jatos turcos entram no espaço aéreo iraquiano para bombardear alvos curdos, as autoridades iraquianas "veem, sabem e se ressentem" do fato.

Iskander Witwit, oficial reformado das forças aéreas iraquianas e membro do comitê de segurança do Parlamento, disse: "Se Deus quiser, vamos suprir o Iraque com armas que possam derrubar esses aviões".

Os militares norte-americanos se retiraram no final do ano passado, após o fracasso das negociações para a prorrogação de sua permanência, porque os iraquianos não concordaram em estender as imunidades legais. Quando os americanos partiram, o Iraque celebrou sua soberania, enquanto os oficiais nos dois países se perguntavam como suprir as deficiências militares iraquianas e procuraram formas de trabalhar juntos que não exigissem um debate público sobre imunidades.

O Iraque e os EUA estão negociando um acordo que possa resultar na volta de pequenas unidades de treinamento norte-americanas. A pedido do governo iraquiano, uma unidade de soldados de Operações Especiais foi recentemente enviada para o Iraque, segundo Caslen, para aconselhar sobre o combate ao terrorismo e ajudar com a inteligência.

Assim, apesar de o país se aproximar do Irã e contemplar a compra de armas da Rússia, ainda busca apoio militar dos EUA. Isso porque o Iraque está enfrentando uma insurgência potente, cujos ataques recentes levantaram questões sobre a capacidade das forças do Iraque de combate ao terrorismo de enfrentarem a ameaça.

O líder tribal de Anbar, Al-Hayes, disse que os insurgentes criaram unidades afiliadas à Al Qaeda sob o nome de Exército Livre do Iraque, para imitar a bandeira que os sunitas sírios estão usando. "Eles estão fazendo reuniões e estão recrutando", disse ele. O grupo também tem uma conta de Twitter e uma página de Facebook.

Unidades similares surgiram na província de Diyala e usaram uma exortação às armas da Síria como instrumento de recrutamento, de acordo com as autoridades locais. Quanto os combatentes morrem na Síria, as famílias locais fazem funerais em sigilo para não alertarem as forças de segurança dominadas por xiitas, que então saberiam que elas enviaram seus filhos para lutar na Síria. Um funeral recente para um combatente que morreu em uma batalha em Aleppo foi feito com o pretexto de morte por acidente de carro na Jordânia, de acordo com um membro da inteligência.

Enquanto os políticos ocidentais pensam em uma possível intervenção na Síria, a guerra do país gera preocupações pela possibilidade de se tornar um conflito sectário amplo, como o que envolveu o Iraque de 2005 a 2007.

Para os iraquianos que fugiram para a Síria e agora estão voltando, não por escolha, mas para salvar suas vidas, a Síria já é o Iraque.

"É exatamente como era no Iraque", disse Zina Ritha, 29, que voltou a Bagdá depois de vários anos em Damasco. Referindo-se ao Exército Livre da Síria, Ritha disse: "O FSA está destruindo as casas xiitas. Eles estão sequestrando as pessoas, especialmente os iraquianos e xiitas".

Em uma manhã recente, Ritha e sua sogra visitaram um centro de apoio aos iraquianos de retorno, onde famílias recebem um pagamento de 4 milhões de dinares iraquianos (aproximadamente R$ 7.000) do governo. Segundo disseram as pessoas no centro, não há segurança para os iraquianos na Síria. Os xiitas são atacados por rebeldes, os sunitas por forças do governo. E, a qualquer momento, podem ser alvos só por serem estrangeiros.

Abdul Jabbar Sattar, solteiro com 40 anos, é sunita. Depois de um bombardeio em Damasco que matou várias altas autoridades em julho, seu bairro aguentou bombardeios ininterruptos. Ele retornou ao Iraque com a roupa do corpo e pouco dinheiro, pois foi roubado quando fugiu.

"É a mesma situação que era no Iraque", disse ele. "Todos estão com medo uns dos outros".

4 comentários:

  1. Isso é uma prova do que vai acontecer quando atacarem o Iran.
    Os Iraquianos deveriam mesmo comprar baterias é Radares dos Russos,os EUA fazem muitas perguntas pedem muito em troca.

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  2. Amigo Felipe,fica sossegado! Se ataque ao Iran fosse tão fácil o quanto dizem, ele já seria um Iraque da vida! O pé-junto do Saddan confiou na política externa dos americanos e hoje descansa em paz! Quanto os americanos apenas defendem o que é de interesse deles, contra o Iran, Iraque em década de oitenta, foi financiando pelos americanos até com armas químicas,hoje a Síria argumentou que poderia usar tais armas se necessário, no Vietnã para levar vantagem contra as trincheiras nas florestas vietinamitas, os americanos usaram o "laranja", agora os mesmos ameaçaram intervensões bélicas se a Síria o fizer! Ou seja, bancam de "bonzinhos" mas são piores que víboras!

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  3. Anonymous - o Saddam não confiou nos EUA, os EUA que acabaram com ele que é diferente (a única hora q ele confiou foi quando os EUA disse q não tinha posição sobre a disputa do Iraque com o Kuwait lá ele caiu como um pato), e acabaram em 4 períodos com o Saddam e o Iraque: ¹° embargo econômico antes da guerra do golfo, 2° a própria guerra do golfo, 3° continuação do embargo pós guerra por causa das supostas armas de destruição em massa que nunca apareceram e 4° a invasão do Iraque em cima desse mesmo pretexto das ADM. Essa brincadeira levou o tempo de 13 anos, a principal diferença entre Iraque e Irã, que os EUA subestimou o Irã, agora o Irã está forte e perigoso pros interesses americanos, a pressão americana em cima do Irã e nada comparada ao que havia sobre o Iraque, nem equipamentos para redes de esgoto o Iraque podia comprar debaixo do embargo. Grupos de direitos humanos especulam que tenham morrido centenas de milhares de pessoas por causa do embargo, não caia nessa de revisionistas de NET, o embargo contra o Iraque foi devastador, quem acompanhou como eu ás noticias desde de 1990 sabe disso. Os EUA hoje não tem o mesmo poder que tinha entre 1990-2003, por isso o Irã se alivia um pouco, o Irã compra muita coisa para área civil da China, mantem negocios com vários países entre eles o Brasil que já não é tão submisso como era antes enfim é outra realidade.

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    1. Hum! O "confiar" que me referi, foi o do financiamento que os americanos cederam para o Iraque aniquilar o Iran nos anos 80! Os demais ralmente estás correto! Mas o Irã também tinha negócios com os americanos (pelo que sei da mídia manipuladora televisiva)só que ele usou a tática da faca de dois gumes! (entendo assim!

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