O presidente de uma grande companhia europeia de energia conta a anedota com um sorriso, para ilustrar os costumes em voga em Moscou, às vezes peculiares. Ele aguardava havia mais de uma hora na sala de espera no Kremlin quando lhe passaram o comunicado de imprensa relatando as conclusões de sua conversa com Vladimir Putin antes mesmo de ele ser recebido pelo presidente russo!
Quando o "tsar da energia" mostra seu poderio, as chancelarias ocidentais se preocupam com ameaças às empresas do setor e com a continuidade do abastecimento. E os mercados tendem a exagerar na reação e desembestar com os primeiros ruídos de botas russas: o preço do barril de petróleo subiu US$ 2, na segunda-feira (3), em Londres e em Nova York, e o do gás aumentou 10% em várias praças financeiras europeias.
É porque se esquecem da interdependência e dos interesses mútuos que ligam russos e ocidentais nesse setor, protegendo-os de uma política de exploração do medo. Os especialistas lembram que mesmo nos piores momentos da estagnação brejneviana, a Rússia continuou sendo uma fornecedora confiável. Salvo por 2006 e 2009, quando seus clientes europeus foram vítimas colaterais de seu conflito com a Ucrânia, por onde ainda transita 60% do abastecimento de gás russo ao Velho Continente.
As economias ocidentais têm uma necessidade vital dos hidrocarbonetos da Rússia, que exporta metade dos 10 milhões de barris bombeados a cada dia e 200 bilhões de metros cúbicos de gás por ano. Para Moscou, esse é de longe o principal recurso orçamentário e o motor de uma economia muito "petrodependente". Sem esquecer que as grandes companhias ocidentais lhe fornecem uma preciosa assistência tecnológica para extrair o ouro negro do mar ou produzir gás natural liquefeito (GNL) destinado à Ásia.
As companhias petroleiras ativas na Rússia estão diretamente expostas. BP é a primeira, que detém 19,75% da Rosneft após a cessão forçada de sua co-empresa TNK-BP à gigante pública em 2012. A atividade russa ainda tem muito peso nos lucros do grupo britânico (35% no último trimestre 2013), cujas ações caíram 2,3% na segunda-feira, em Londres. A americana ExxonMobil, a italiana ENI e a norueguesa Statoil assinaram grandes acordos (Ártico, Mar Negro) com a Rosneft. A anglo-holandesa Shell é parceira da Gazprom na produção de GNL em Sakhalin (Extremo Oriente).
Assim como a Total, presente na Rússia há 25 anos, que detém 16% da companhia de gás privada Novatek. As ações da companhia francesa não foram muito afetadas pelas atuais tensões na Criméia, ainda que o grupo esteja muito exposto a riscos. Junto com a Novatek, ela tem desenvolvido o projeto GNL, da península de Yamal (Norte), ao qual está associada a Technip, por um custo estimado em 20 bilhões de euros.
A Rússia continua sendo uma "prioridade estratégica" para a Total. Além da Yamal LNG e a jazida petroleira de Khariaga (território dos Nenets), ela tem explorado o campo de gás de Termokarstovoye também com a Novatek. A grande empresa francesa também quer investir junto com parceiras russas "no gás e sobretudo no petróleo de xisto", cujas reservas são "potencialmente enormes", afirmou recentemente ao jornal russo "Kommersant" Yves-Louis Darricarrère, presidente da divisão de exploração e produção do grupo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário