A Alemanha apenas recentemente anunciou o fim de sua era de contenção. O presidente alemão, Joachim Gauck, a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, dos democratas-cristãos, e o ministro das Relações Exteriores Frank-Walter Steinmeier, dos social-democratas, afirmaram que está na hora de a Alemanha ter um papel maior no mundo.
Steinmeier não poderia ter esperado que tivesse de seguir tão rapidamente sua tese de uma "política externa agressiva". Mas a escalada dramática na Crimeia exige respostas rápidas e tornou-se um foco do governo da chanceler Angela Merkel.
"A Europa está sem dúvida em sua crise mais séria desde a queda do Muro de Berlim", disse Steinmeier na segunda-feira (3). "Vinte e cinco anos depois do fim do conflito entre os blocos, há um novo perigo real de que a Europa se divida mais uma vez."
Em parte como consequência do papel chave de Steinmeier em Kiev em fevereiro --quando ele, junto com seus homólogos francês e polonês, ajudou a forjar um acordo no último minuto para evitar um banho de sangue em Kiev--, mas também por causa do papel tradicional da Alemanha como mensageiro para a Rússia, muitos hoje olham para Merkel como uma intermediária potencialmente vital com o presidente russo, Vladimir Putin.
É um desafio enorme. E não são apenas os europeus que estarão observando Berlim com atenção. Os EUA também esperam que a Alemanha cumpra seu novo desejo de exercer influência. Segundo Fiona Hill, do Instituto Brookings, o atual relacionamento perturbado de Washington com a Rússia significa que não pode fazer muito --e que a Alemanha deve portanto exercer um papel mais importante.
Merkel mergulha na diplomacia
Os laços entre Berlim e Moscou tradicionalmente foram construtivos, apesar de Putin e Merkel terem um relacionamento pessoal difícil. Ainda assim, os dois continuam conversando, e a chanceler telefonou várias vezes para Putin nos últimos dias para expressar sua opinião de que a "inaceitável intervenção russa na Crimeia" é uma violação do direito internacional. Em paralelo, ela também tentou abrir um canal de comunicação entre Moscou e Kiev. Putin disse que está disposto a falar sobre a formação de um "grupo de contato", e uma missão para levantar fatos deverá determinar a situação em campo.
Assim como Merkel, seu ministro das Relações Exteriores também passou quase todo o tempo envolvido em diplomacia de crise, incluindo um jantar com o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, em Genebra na segunda-feira à noite. Steinmeier foi muito elogiado por seu trabalho, especialmente por seu papel em moldar um plano de paz em Kiev, enquanto as pessoas morriam na Praça da Independência.
Mas a dinâmica revolucionária afastou o presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, quase tão rapidamente quanto Steinmeier embarcou no avião de volta a Berlim. O Ocidente quase certamente tinha consciência de que isso poderia ocorrer. Mas Moscou - não totalmente sem razão - acusou Steinmeier de não pressionar a oposição em Kiev para manter seu lado do acordo. Em consequência, hoje Steinmeier tem ainda mais responsabilidade: se a violência irromper na Crimeia, seus esforços em Kiev terão se tornado inúteis.
Dúvidas internacionais
Nos EUA, hoje há dúvidas de que a Alemanha possa cumprir seu papel planejado. Um especialista em segurança da "CNN" tuitou no domingo que o silêncio alemão sobre cancelar a reunião preparatória para a cúpula do G-8 em junho em Sochi é "ensurdecedor". Os EUA, o Reino Unido, a França e o Canadá cancelaram primeiro. A Alemanha só aderiu mais tarde para dar a impressão de união. Uma ex-diplomata graduada americana disse em Washington no domingo (2): "A UE é disfuncional, mas Berlim é o problema real". Não ajuda o fato de Merkel ser uma líder hesitante, afirmou.
Em Berlim, essas acusações são amplamente consideradas banais e desgastadas. É claro que a diplomacia de crise europeia é difícil, eles afirmam, quando um país gigante como a Rússia cria fatos na Crimeia. Mas, apesar de a Ucrânia se situar do outro lado do mundo em relação aos EUA, são apenas três horas de voo de Frankfurt para Sebastopol.
Depois há a dependência da Europa do gás natural russo. A Alemanha recebe 35% de suas importações de gás natural da Rússia, e uma proporção semelhante de petróleo. Os europeus fariam bem em não atiçar as chamas com retórica da Guerra Fria, afirma o lado de Merkel.
Os EUA, é claro, avançaram na segunda-feira (3) para impor sanções contra as autoridades russas de alto nível e suspender laços militares com o país.
Relutância europeia
Os líderes europeus foram mais cautelosos: diplomatas holandeses afirmaram que não vão impor sanções e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que não apoiará medidas comerciais punitivas ou evitará o fluxo de dinheiro russo para o Reino Unido. E Merkel, em primeiro lugar, tenta ganhar tempo, na esperança de que as emoções esfriem. Ela acredita que Putin vai reagir acaloradamente a medidas punitivas, e por isso se opõe a sanções ou à exclusão da Rússia do G-8.
O jornal "The New York Times" relatou na segunda-feira o que Merkel realmente pensa do presidente russo: o jornal escreveu que ela disse a Barack Obama por telefone que não tem certeza se Putin está "em contato com a realidade". Berlim não confirmou oficialmente a citação, manifestando-a em termos mais diplomáticos -- que Putin e o Ocidente têm uma "percepção muito diferente" dos acontecimentos na Crimeia.
Os americanos, é claro, prefeririam que Merkel tivesse se expressado de modo um pouco mais enérgica. E o mundo observa para ver se ela o fará afinal.
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