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terça-feira, 23 de julho de 2013

Putin transforma a Rússia em estado policial, diz historiadora

O blogueiro Alexei Navalny desafiou Putin. Agora, ele enfrenta seis anos de prisão. Em entrevista à Spiegel Online, a ícono dos direitos humanos russa Lyudmila Alexeyeva explica por que o Kremlin está tentando amordaçar o líder da oposição - e por que o tiro poderia sair pela culatra.

Alexei Navalny ficou famoso como blogueiro e ativista anticorrupção antes de se tornar a figura mais proeminente no movimento de protesto contra o presidente russo Vladimir Putin. Mas agora Navalny tem 37 anos, e já está enfrentando o fim de sua carreira política. Se um tribunal na cidade russa de Kirov considerá-lo culpado nesta quinta-feira, ele não poderá, por lei russa, concorrer a cargos públicos.

A acusação é de peculato. Navalny foi assessor do governador liberal de Kirov em 2009. A promotoria o acusa de abusar de sua posição e se enriquecer com a venda de madeira proveniente de florestas de propriedade pública. Oficialmente, ele é acusado de roubar 16 milhões de rublos, o equivalente a cerca de 400 mil euros (US$ 528 mil).

Lyudmila Alexeyeva, 85, é historiadora, ativista dos direitos civis e ícone de longa data da oposição russa. Em conversa com a Spiegel Online, ela explicou por que o Kremlin quer silenciar Navalny.

Spiegel Online: As acusações, de que Navalny fraudou 400 euros do Estado quando era assessor de um governador, são verdadeiras?
Alexeyeva: Não há nenhuma prova disso. Trata-se de um julgamento político destinado a acabar com a carreira política de Navalny.

Spiegel Online: Qual é a punição que você espera?
Alexeyeva: Na Rússia, menos de 1% dos julgamentos terminam em absolvição. Nos julgamentos realizados por motivos políticos, essas chances são nulas. O procurador da República está pedindo seis anos de prisão. Se Navalny tiver sorte, a pena será reduzida à liberdade condicional. Eu odeio quando as pessoas são condenadas injustamente.

Spiegel Online: Que chances ele tem nas eleições para a prefeitura de Moscou em setembro? As pesquisas o colocam com 8%.
Alexeyeva: No fim das contas, o ex-vice-primeiro-ministro Boris Nemtsov, que atualmente é líder da oposição, teve 13% em Sochi, a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de inverno, dois anos atrás, apesar de que todo o aparelho de Estado estava contra ele e inúmeros obstáculos foram colocados em seu caminho. Mas mesmo que Navalny apele, o Estado provavelmente aprovará rapidamente uma sentença vinculativa. Então, ele não seria capaz de concorrer a nenhum cargo. 8% não está nada mal, por sinal, se você considerar que toda a mídia estatal está contra ele.

Spiegel Online: A popularidade de Navalny pode crescer enquanto ele estiver na prisão?
Alexeyeva: Foi o que aconteceu com o magnata Mikhail Khodorkovsky. Ele era apenas um oligarca na mente da maioria dos russos, mas sua prisão num campo de trabalho o transformou num mártir com uma imagem positiva. Na Rússia, temos uma longa tradição de compaixão pelas pessoas que foram colocadas em campos de trabalhos forçados ou na prisão. Se Navalny for condenado isso mostraria que o Kremlin e Putin não aprenderam nada com o caso Khodorkovsky.

Spiegel Online: Para onde Putin está guiando a Rússia?
Alexeyeva: Desde seu retorno ao Kremlin, sistematicamente para um estado policial.

Spiegel Online: Como o Ocidente deve reagir caso Navalny seja condenado?
Alexeyeva: Deve pensar em seus próprios interesses. Qual seria a sensação de ter uma espécie de União Soviética como vizinha novamente? Aqui, nós fazemos o que podemos. Estou orgulhosa de que nenhuma organização não-governamental se submeteu à ordem do Kremlin de se identificar como agente estrangeiro no caso de receber dinheiro estrangeiro. Achei isso heróico.

Spiegel Online: Quando Navalny anuncia que colocaria Putin e seus companheiros na prisão logo que chegasse ao poder, é o caminho certo para a oposição ou ele está apenas provocando uma reação forte do Kremlin?
Alexeyeva: Eu posso entender Navalny. Há muitas pessoas ao redor de Putin e seus governantes que, como resultado de seu lugar ao sol, tornaram-se bilionárias. Talvez seja melhor para enviá-las para fora do país com seus bilhões. A Rússia não ficaria pior. Pelo contrário! É importante evitar que a situação piore. Muito sangue já foi derramado em nosso país em revoluções e guerras civis.

Spiegel Online: Putin e sua equipe nunca vão parar com a repressão?
Alexeyeva: Isso me faz pensar em Napoleão, que uma vez disse algo no sentido de que tinha mais medo dos adversários estúpidos do que dos inteligentes, porque conseguia antecipar melhor o que os inteligentes fariam. O Kremlin é imprevisível.

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