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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Putin se esforça para se transformar no super-patriota da Rússia (3ª Parte)


O novo caminho nacionalista está ameaçando a elite política a que Putin tem tradicionalmente recorrido: magnatas financeiros, empresários e funcionários públicos. Se a Rússia se isolar do restante do mundo mais uma vez, isso significará o fim de seu modelo de negócios, que se baseia na globalização. Mas Putin também se distanciou de seu próprio partido governista, o Rússia Unida, que foi contaminado por fraudes.

'Nós temos manipulado as eleições para você e amordaçado a oposição. Tudo isso foi feito sob suas ordens. O que vai acontecer com a gente agora?' Isso é o que os membros do partido de Putin vão perguntar a ele", diz o ex-deputado Gennady Gudkov, de 56 anos. Recentemente, o próprio partido de Gudkov, o Rússia Justa, que foi fundado pelo Kremlin como um pseudo grupo de oposição, o expulsou do Parlamento em circunstâncias que pareceram duvidosas até mesmo para o Tribunal Constitucional russo.

O crime de Gudkov: num discurso proferido pouco antes das eleições parlamentares, ele alertou para a intenção do Kremlin de manipular os resultados das eleições. Posteriormente, ele participou das manifestações de massa contra Putin. Atualmente, Gudkov é membro do movimento de protestos Conselho de Coordenação da Oposição.

Essa decisão custou a Gudkov uma parcela de seus negócios, uma vez que o Kremlin prontamente suspendeu as licenças de operação de várias de suas subsidiárias. Em seguida, ele foi destituído de seu mandato parlamentar e, em março passado, expulso do seu partido. Seu filho Dmitry, que também é membro da Duma, também foi expulso do partido.

"Esta abordagem é basicamente um retorno à repressão stalinista", diz Gudkov. "O sistema judiciário está suspenso. A diferença é que as pessoas ainda não estão sendo enviadas para os gulags nem sendo baleadas".

Outros, incluindo Navalny e o ativista político de esquerda Sergei Udaltsov, se estabeleceram melhor como figuras de oposição durante o ano passado. Por que, então, tanta energia foi gasta para neutralizar politicamente Gudkov, que antes era visto como um defensor do governo?

"Porque eu era uma pedra real no sapato deles e eu não me encaixava no padrão de propaganda do Kremlin", diz Gudkov. "Eu não tenho nada a ver nem com os antigos líderes da oposição liberal nem com os novos e mais selvagens, que vestem jeans". Gudkov bufa de indignação, como se tivesse acabado de desabafar, de soltar algo que estava entalado em sua garganta há muito tempo. Então ele se inclina para trás, sentado em seu escritório nada modesto, localizado em uma antiga mansão a leste do centro de Moscou.

Sistema baseado no medo
A mansão é a sede do Grupo de Segurança Oskord, que agora supostamente pertence à esposa de Gudkov, Maria. A empresa possui 25 filiais no país e emprega 7.000 pessoas, a maioria das quais são ex-militares, policiais e agentes dos serviços de inteligência. Entre os clientes da Oskord estão empresas como IKEA, IBM, Adidas e Lufthansa.

Depois de trabalhar como professor de Inglês, Gudkov decidiu mudar o rumo de sua vida e frequentou a Escola Militar da KGB. Ele trabalhou no serviço de inteligência até 1992. Atualmente, ele é coronel aposentado da KGB, assim como Putin. Na Duma, atuou mais recentemente como vice-presidente do Comitê de Segurança.

Na Rússia é raro ver alguém que já esteve do lado dos governantes do país e gozou de seus privilégios durante décadas migrar para a oposição. Por isso, o Kremlin considera o ex-agente da KGB alguém mais perigoso do que os membros da oposição extra-parlamentar – alguém que poderia acelerar a erosão do regime a partir de dentro.

E como é que Gudkov vê o novo Putin?

"Ele está exausto e não vai conseguir fazer nada de novo", diz Gudkov. "O sistema dele é amoral e depende inteiramente do medo".

O homem que é amplamente visto como o novo ideólogo e visionário de Putin recebe visitantes em seu instituto de pesquisa, localizado não muito longe do rio Moskva. As instalações são espartanamente mobiladas, como se Dmitry Badovski também as estivesse ocupando apenas como mais um visitante. Na verdade, o verdadeiro local de trabalho de Badovski fica a apenas algumas centenas de metros de distância – no departamento de política interna do governo, no Kremlin.

Badovski, 40 anos, é um cientista político que usa uma camisa branca bordada com suas iniciais. Seu cabelo já está começando ficar grisalho nas laterais. Ele olha para um mapa da Rússia pregado na parede: "a missão fundamental de Putin é evitar que o país se despedace e mantê-lo como um estado forte e soberano", diz ele.

O retorno do "Herói do Trabalho"
Badovski escolhe suas palavras com cuidado enquanto oferece um vislumbre dos pensamentos mais íntimos do presidente. Ele diz que Putin e sua equipe estão "conduzindo a Rússia durante um momento de instabilidade global" – referindo-se à instabilidade no Oriente Médio, aos radicais do Islã e à crise financeira nos Estados Unidos e na União Europeia, que Putin e seus assessores veem como endêmica para o sistema. "A democracia funcionou bem enquanto ocorriam aumentos no nível de prosperidade – mas esses dias acabaram", acredita Badovski.

A televisão em seu escritório está exibindo um debate no parlamento russo. No entanto, praticamente mais ninguém fora do Kremlin está interessado no órgão legislativo do país. A democracia partidária tradicional, diz o ideólogo de Putin, está se mostrando cada dia mais incapaz "de compreender todas as tendências sociais e fornecer respostas às questões de hoje".

Consequentemente, Putin está contando com novas ferramentas: uma plataforma na internet que visa a permitir que os cidadãos apresentem propostas relacionadas à legislação, além de sessões televisadas e mais longas de perguntas e respostas com o presidente e a Frente Popular, que há tempos tem sido vista como uma criação de Badovski. A aparição de Putin em Rostov-on-Don, diz Badovski, foi um exemplo bem-sucedido "do diálogo entre o governo e a sociedade".

Na realidade, Putin está minando as instituições do estado com seu populismo patriótico. Ele está se esforçando para se transformar na figura do pai supremo, que é independente de partidos e dos parlamentares, e é eleito diretamente pelo povo.

Em meados da década de 1990, Badovski escreveu sua tese de doutorado sobre a "Elite que governa a Rússia: tendências da transformação do modelo soviético", e ele é capaz de apontar, de modo bastante eloquente, as fragilidades do sistema atual. Por exemplo: eles diz que uma "mudança de governo na Rússia é sempre um processo difícil e o poder político é sempre sinônimo de controle da economia". Essa é uma maneira sutil de dizer que os governantes da Rússia acumularam riquezas descaradamente e que a elite aprendeu pouca coisa além da melhor maneira de utilizar sua proximidade com Putin para ganhar dinheiro.

No entanto, o ideólogo chefe do presidente russo continua convencido de que "Putin não é a causa dos problemas, mas sim sua solução".

Em 1º de maio passado, data que costumava ser um feriado dedicado à defesa dos direitos de trabalhadores e agricultores de todo o mundo, o presidente russo deu uma demonstração de como pretende resolver esses problemas no futuro. Putin convidou operários, mineiros e agricultores para irem até São Petersburgo e prendeu uma medalha de ouro em forma de estrela em suas lapelas: o prêmio "Herói do Trabalho". Essa homenagem foi introduzida durante os governos comunistas, e Yeltsin a aboliu por considerá-la uma relíquia da era soviética. Yeltsin pensou que ela havia sido eliminada para sempre.

Um comentário:

  1. começou com 10 anos de atraso......ele não esta a altura da Russia e de seu povo....mas vamos ver.....

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