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terça-feira, 23 de abril de 2013

Opinião: Mali teve sorte em contar com intervenção francesa


A atual intervenção militar francesa em Mali não apenas salvou a nação indefesa da África Ocidental da ocupação quase completa por terroristas estrangeiros, saqueadores e jihadistas, mas também reacendeu um debate sobre os riscos e custos da dependência africana da caridade internacional para sua sobrevivência.

Muitos países desenvolvidos estão enfrentando dificuldades econômicas urgentes e há um crescente cansaço dos eleitorados com a assistência das nações doadoras. Somado a isso, os países africanos, em geral, ainda sofrem de vulnerabilidades desestabilizadoras, então não seria prematuro começar a ponderar as consequências de outra crise ao estilo de Mali em outras partes na região.

Será que a França retornaria ou algum outro país sairia em seu resgate? E é certo uma nação externa ter de entrar para reforçar os Estados africanos, que muitos acreditam não terem ninguém a culpar se não a si mesmos por sua pobreza, fraqueza e instabilidade?

Muitos africanos concordam com Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, que disse em seu livro de memórias recém-publicado "Intervenções: Uma vida em guerra e paz", escrito com Nader Mousavizadeh, que as lideranças e políticas internas africanas-- e não o colonialismo ou outros fatores externos--, são os maiores responsáveis pelo declínio do continente. Ele exorta os africanos e não africanos a "crescerem" e se concentrarem em encontrar soluções que funcionem – não em quem deve fornecê-las.

Ao mesmo tempo, contudo, muitos africanos têm boas razões para passarem a depender da ajuda estrangeira.  

Nos últimos anos, tornou-se corrente a doutrina da "responsabilidade de proteger", que pede que forças externas intervenham quando os civis de uma nação são ameaçados de massacre. Isso talvez tenha levado alguns países africanos a uma falsa expectativa que, caso se tornem vítimas de forças nefastas, outros membros da comunidade internacional os assistiriam rapidamente. Enquanto isso, a globalização tornou o mundo menor, dando a alguns africanos um falso sentido de segurança, uma sensação que seus "vizinhos" globais sempre poderiam vir ao seu resgate.

Mali, por exemplo, é um país democrático e pobre que dedicou seus parcos recursos a melhorar a qualidade de vida de seu povo, em vez de construir um amplo estabelecimento militar. O país foi vítima de uma invasão terrorista poderosa, na qual os combatentes islâmicos chegaram perigosamente perto da capital, Bamaco, antes das tropas francesas deterem os invasores. Ainda assim, Mali teve de sofrer sozinho por quase um ano, uma experiência que serviu de alerta contra a ilusão de uma ordem internacional mais nova e justa de união promovida pelos defensores da globalização.

No final, Mali teve sorte. Os astros políticos se alinharam e o novo presidente francês teve seus motivos para querer intervir. Mas nem toda nação da África terá tanta sorte da próxima vez.

A natureza delicada da saga de Mali fornece uma lição para o resto do continente: só a independência e a preparação para a dura realidade da ordem internacional ainda rachada por divisões familiares, desigualdades e contradições é que vai salvar os africanos. Até mesmo depender dos parceiros multinacionais tradicionais do continente, inclusive a União Africana e a Organização das Nações Unidas, pode levar a consequências fatais no evento de uma crise importante. O primeiro não tem os meios e o segundo, antes de agir, precisa garantir o apoio dos membros permanentes do Conselho de Segurança, que podem estar mais preocupados com seus próprios interesses e prioridades nacionais.

No final das contas, os países africanos têm a responsabilidade primária tanto para com os problemas do continente e quanto por sua eventual e, sim, inevitável renascença. Outras nações, em particular as grandes potências, podem ser úteis evitando enviar mensagens conflitantes ao continente e, em vez disso, ajudando a cimentar o movimento ainda frágil de mudança reformista que está gradualmente se estabelecendo.

Com este fim, a comunidade internacional deve considerar a necessidade de uma representação adequada para a África no Conselho de Segurança da ONU e ajudar o continente a combater a corrupção, o que talvez seja o fator mais corrosivo a contribuir para a pobreza e instabilidade da região e sua dependência da caridade.

Enquanto a crise africana continua a dominar o trabalho do Conselho de Segurança, a inclusão de um membro permanente africano permitiria ao continente assumir a posição de condutor na busca por iniciativas nativas com apoio internacional para impedir ou resolver os conflitos africanos. Como nem um único país africano tem tanto poder ou riqueza quanto os atuais membros do Conselho, uma representação coletiva pode ser considerada para a África, talvez oferecendo a vaga permanente para a Comissão da União Africana. Um passo audacioso e inovador como este ajudaria a pôr fim ao padrão de reação africano de culpar as pessoas de fora por seus problemas e forçar o continente a assumir seu papel e trabalhar com outros para encontrar soluções sustentáveis.

De forma a aumentar os recursos financeiros da África, a comunidade internacional deve ajudar os reformistas africanos a combater a corrupção transnacional e assistir ao retorno dos fundos roubados aos países africanos de origem. Como a maior parte das centenas de bilhões de dólares ilegalmente desviadas dos tesouros africanos pelas elites africanas é transferida para o exterior, a comunidade internacional tem um papel vital a cumprir. A África precisa de um plano a prova de brechas que impeça a transferência de fundos roubados do continente para outras nações no exterior.

Sem dúvida que há um reconhecimento crescente na África que uma segurança firme e duradoura deve ser fornecida por uma boa governança interna e boas relações de vizinhança.

Enquanto os africanos continuam a enfrentar ameaças terroristas crescentes, a comunidade internacional deve enviar um sinal claro que a intervenção francesa em Mali não foi uma exceção e sim um precedente – e uma advertência a outros grupos de terroristas que estejam contemplando aventuras similares em Mali ou em outras partes do continente.

*Sammy Kum Buo, natural dos Camarões, foi diretor para assuntos da África do Norte, Central e Ocidental do Departamento de Assuntos Políticos da ONU, em Nova York, de 2007 a 2012.

2 comentários:

  1. Caridade internacional?
    KKKKKKKKKKKKKKKKK
    A França vai mais uma vez consegue impor seu poder sobre um país, e foi um ato de caridade internacional?
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
    E cada texto ridículo que lemos por ai.
    Al Nusra na Síria pode, um generico dele no Mali não?
    Engraçadissimo isso
    Ass: Elton

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  2. Prezado Elton , data venia creio que vc não conseguiu entender o texto leia novamente
    "No final, Mali teve sorte. Os astros políticos se alinharam e o novo presidente francês teve seus motivos para querer intervir. Mas nem toda nação da África terá tanta sorte da próxima vez."
    Nações se movem por interesses, a caridade citada é referente a ajuda que os miseráveis e refugiados recebem da comunidade internacional, vc ja deve ter ouvido falar de doações que a populações recebem em países onde existe guerra civil.
    Não vejo motivo de achar engraçado em um pais atacado por jihadistas estrangeiros, que ja possui inúmeros problemas internos ter que precisar de ajuda externa para subsistir.
    Abraços

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