Comunidade, que tem cerca de 150 mil membros, tenta preservar identidade
Maioria dos judeus do Irã deixou o país após a revolução islâmica de 1979; países mantêm elo comercial secreto
Israelenses protestam contra ataque israelense ao Irã |
Numa época que hoje parece perdida no tempo, os atuais arqui-inimigos mantinham relações diplomáticas e comerciais intensas -uma lua de mel com direito a futebol que teve fim em 1979, com a Revolução Islâmica no Irã.
Judeu nascido e criado em Teerã, Rabi não esquece: foi naquele dia que, aos 24 anos, decidiu deixar seu país de origem e emigrar para Israel.
"O clima era muito tenso, com o estádio lotado e a torcida gritando frases contra os judeus. Entendi ali que não dava mais para ficar no Irã."
Mas Rabi também guarda boas memórias. Membro de uma comunidade que reúne entre 100 mil e 150 mil judeus iranianos radicados em Israel, ele vive entre a nostalgia da terra natal e o temor de guerra entre os dois países.
A gastronomia, a cultura e o idioma são preservados com orgulho pelos "parsim" (persas, em hebraico), como os judeus iranianos são conhecidos em Israel.
A possibilidade de ataque israelense às instalações nucleares iranianas, porém, provoca divisões. Todos torcem pelo fim do regime dos aiatolás -a questão é se o ataque ajudaria nisso ou não.
"O ataque enfraqueceria o regime e daria coragem à oposição", diz Menashe Amir, judeu iraniano que há 50 anos apresenta programa em farsi na rádio pública de Israel.
Para Kamal Penhasi, que edita o jornal "Shahyad", em farsi, seria o oposto. "Uma agressão externa uniria a população e seria usada pelo regime para tentar recuperar o apoio das ruas", diz o morador de Holon, periferia de Tel Aviv, onde se concentra a comunidade iraniana de Israel.
Mesmo sob a demonização mútua dos governos e as adversidades técnicas, iranianos em Israel mantêm relações, na semiclandestinidade, com o país de origem.
E, apesar da intensa campanha israelense por sanções econômicas a Teerã, persiste também um comércio bilateral por baixo da proibição expressa dos dois governos.
No mercado de pulgas da charmosa Jaffa, antiga cidade portuária ao lado de Tel Aviv, a rua em que o comerciante Rabi tem sua loja de suvenires poderia ser confundida, por um momento, com um bazar iraniano.
O farsi é a língua corrente. A maioria das lojas da rua pertence a "parsim". Como David Porat, 57, que deixou o Irã dois anos depois da revolução, mas mantém as relações com o país até hoje.
Porat fala toda semana com amigos em Teerã. "Ligo do meu telefone, sem problemas", sorri, ajeitando a quipá (solidéu usado por judeus praticantes) na cabeça. "Eles é que são proibidos de ligar."
As conversas também tratam de negócios. Entre tapetes persas e belíssimos objetos de porcelana, muitos produtos que ele vende são trazidos do Irã por encomenda.
Porat não dá detalhes, mas em geral o comércio é feito numa triangulação com outro país da região, como Turquia, Jordânia e Emirados Árabes, ou da Europa.
MELÃO IRANIANO
Segundo reportagem publicada pelo "Yediot Ahronot", o jornal mais popular de Israel, dezenas de empresas do país mantêm relações comerciais secretas com o Irã.
"Apesar do que vemos na superfície, as relações secretas Israel-Irã somam dezenas de milhões de dólares por ano", disse ao jornal Yehoshua Meiri, presidente da Associação Israelense-Árabe, que encoraja o desenvolvimento de laços comerciais como alternativa a um processo de paz na região.
As exportações israelenses para o Irã têm foco na agricultura, diz a reportagem, incluindo fertilizantes e equipamentos de irrigação. Os iranianos vendem pistache, nozes, frutas e mármore.
"Outro dia vi num mercado um tipo de melão que só é produzido no Irã", diz Kamal Penhasi. Nem precisa ser iraniano como ele para saber a origem: a placa em hebraico informa "melão parsi".
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