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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Livreiro nazista preso difunde entre detentos obras revisionistas que lê o tempo todo


Hitler

Os papeis se acumularam na cela de Pedro Varela Geiss. O livreiro, que cumpre uma pena na prisão de Brians, em Barcelona, por difundir ideias genocidas, tem mais de mil cartas para responder de seus admiradores – e ele os tem – e continua recebendo livros de temática nacionalista, os mesmos que vendia na livraria Europa e que lhe valeram a condenação. Varela é um nazista convencido até a medula, que considera o Holocausto um “mito” e que contribuiu notavelmente para expandir a chamada doutrina do ódio. Suas maneiras, entretanto, são diferentes, próprias de um cavalheiro. Apesar de guardar um busto de Adolf Hitler em bronze como a joia da coroa de sua livraria, disse detestar a violência e os skinheads, que ignoram a “verdadeira” história do Terceiro Reich.

Sua influência como alentador ideológico do nazismo na Europa está fora de questão; sua trajetória de nacional-socialista fervoroso é longuíssima. A partir dos 15 anos, entrou para o Círculo Espanhol de Amigos da Europa (Cedade), criado em Barcelona e um dos grupos nazistas melhor organizados do continente. Varela se transformou numa referência do revisionismo e fez da negação da “Shoah” a razão de ser da Cedade, entidade que presidiu desde 1978. Seu encarceramento, há 13 meses, permitiu que ele se apresentasse diante dos seus quase como um mártir e um perseguido político, que vive mal numa cela só por vender alguns livros que contam uma realidade que o establishment e os judeus pretendem negar ao cidadão. Seu papel de vítima fez com que ele se comparasse, durante o julgamento em que foi condenado a um ano e meio de prisão, com personagens como Jesus Cristo, Joana D'Arc ou Indira Gandhi.

Varela passa seus dias respondendo cartas e lendo livros que chegam à sua cela porque, embora quisesse praticar esporte, “os funcionários não permitem que ele vá ao ginásio”, denuncia seu advogado. Sua voracidade pela palavra escrita e a falta de espaço fizeram com que ele concebesse uma ideia: e se pudesse compartilhar as obras de temática neonazista com o resto dos presos? Em outubro do ano passado, o livreiro depositou na biblioteca, sem autorização dos responsáveis, seis títulos - “Manual do Chefe da Guarda de Ferro”, “Provas Contra o Holocausto”, “O Pensamento Wagneriano”, “O Franquismo”, “A História dos Vencidos” e “O Bispo Williamson e o outro Negacionismo” – para “fazer publicidade entre os internos”, segundo o informe redigido pelos responsáveis de Brians que acordaram sua sanção.

Essa sanção “grave” imposta a Varela por proselitismo se soma a outras condutas que lhe impediram de desfrutar do regime aberto. Com toda probabilidade, o livreiro cumprirá até o último dia em sua cela – sua sentença expira no final de março – porque não se reabilitou nem quis se reabilitar. Na livraria Europa, registrada pelos Mossos d'Esquadra em 2006, Varela vendia dezenas de títulos que exaltam o nazismo, negam o Holocausto e menosprezam outras etnias. Para cada condenação, um tratamento. Os responsáveis da prisão pensaram que seria uma boa ideia que ele participasse de cursos e palestras com a comunidade judaica e organizações antiracistas. Varela, firme em suas convicções, mandou-os passear (educadamente, sempre) porque considerava aquilo quase uma lavagem cerebral.

O livreiro, nascido em 9 de outubro de 1957 numa família favorável ao franquismo, também participou de outros trabalhos sociais: ajudou a Cruz Vermelha e as Irmãs da Caridade de Barceloneta. As freiras ficaram encantadas com ele, cujo poder de sedução e maneiras gentis são reconhecidos até por seus detratores mais tenazes. Tanto que a madre superiora foi à prisão pouco depois, interessada pelo livreiro, que se define como católico praticante. “Há muita gente que se sente atraída pela sua cortesia, sua vasta cultura e seu 'savoir faire'. Tem um grande poder de convencimento, embora nunca o tenha visto usá-lo: ele não gosta de esquentar a cuca das pessoas”, diz Acacio Luis Friera, amigo íntimo do livreiro e criador do site que pede sua libertação.

Seu sobrenome materno, Geiss, de origem germânica, sugere uma ligação familiar que poderia ter despertado no jovem Varela uma simpatia para com a história alemã. Mas não há vestígios desse passado e, na verdade, é o único membro da família que abraçou os postulados do nazismo através da política e dos livros, com o apoio da editora Ojeda e a criação da livraria Europa (em 1991), por onde desfilaram personagens como Manfred Roeder – líder de ultradireita condenado na Alemanha por participar de atentados xenófobos –, David Irving – historiador negacionista – ou David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan. Seu primeiro impulso adolescente, entretanto, foi ser piloto de caça: desde pequeno era fascinado pela 2ª Guerra Mundial e os combates da Luftwaffe no céu europeu.

Seus amigos dizem que, na prisão, Varela mantém o caráter. E também a mesma obsessão pela leitura e o conhecimento. O livreiro tem duas carreiras (História e filologia alemã) e fala alemão, inglês, italiano e dinamarquês. O regime penitenciário está lhe causando alguns problemas: acostumado a uma dieta de “vegetariano radical”, Varela sofre “déficit de vitaminas”, razão pela qual, segundo seu advogado, está perdendo cabelo e suas unhas estão quebrando. Ele também se recusou a ser vacinado porque prefere a medicina natural.

Friera diz que Varela detesta a violência e que por isso não gosta dos skinheads. Em ocasiões, tentou “orientar” os cabeças-raspadas assíduos da livraria Europa, que apesar das investigações judiciais permanece aberta ao público no bairro de Gracia.

Varela, que é casado e tem uma filha de três anos que mora fora da Espanha, é recalcitrante e reincidente. Em 2008, a Audiência de Barcelona rebaixou para sete meses uma sentença depois que o Tribunal Constitucional determinou que apenas a negação do genocídio judeu não é um delito. E enquanto está na prisão, um tribunal de Barcelona o investiga por um suposto delito contra a propriedade intelectual: o livreiro editou e vendeu exemplares do “Mein Kampf” de Hitler sem permissão do Estado Livre da Bavária, que é proprietário dos direitos do autor.

Seu amigo Friera insiste: “Ele acredita firmemente em tudo o que diz. E tenho claro uma coisa: que nunca ninguém vai fazê-lo mudar de ideia nunca”.

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