Os ministros das Relações Exteriores do e Irã e da Arábia Saudita se reuniram em Nova York no domingo (21) à noite. Seu encontro é apenas mais um dos muitos que ocorrem às margens da Assembleia Geral da ONU. Mohamad Javad Zarif e o príncipe Saud al Faisal representam as duas potências regionais cuja rivalidade bloqueia a solução da maioria dos conflitos no Oriente Médio. Agora ambos os países enfrentam a ameaça compartilhada do EI (Estado Islâmico). Talvez não seja suficiente para reverter décadas de desconfiança, mas pode ser um primeiro passo para reduzir a tensão.
"Tanto meu homólogo saudita como eu acreditamos que esta reunião pode ser a primeira página de um novo capítulo nas relações entre nossos países", declarou Zarif, citado pela agência de notícias estatal iraniana, Irna. "Esperamos que esse novo capítulo sirva para estabelecer a paz e a segurança na região e no mundo e para salvaguardar os interesses das nações islâmicas", explicou.
É a reunião de mais alto nível entre Teerã e Riyad desde a chegada à presidência de Hassan Rohani no ano passado. Na primeira aparição pública depois de sua eleição, ele mencionou o desejo de se aproximar dos vizinhos árabes e especialmente da Arábia Saudita. Era mais que um gesto. A vontade iraniana de se reintegrar ao concerto internacional passava por melhorar antes as relações com seu entorno. O Irã xiita e o conservador reino sunita estão há quase quatro décadas competindo pela influência regional. Seus diversos interesses os colocaram em frentes opostas na maioria dos conflitos, do Líbano ao Iêmen, passando por Iraque, Bahrein e Síria.
Mas o esforço iraniano foi subestimado pelo sauditas, temerosos de que seu rival estivesse prestes a alcançar um acordo nuclear com o Ocidente. A irrupção do EI constitui, entretanto, uma ameaça para ambos. A República Islâmica se preocupa com o perigo que o grupo jihadista sunita representa para seus aliados no Iraque e na Síria, uma parte de cujos territórios conseguiu controlar. A monarquia saudita, por sua vez, teme a alternativa de governo teocrático que significa o autodenominado califado.
"Somos conscientes da importância e da delicadeza dessa crise, e da oportunidade que nos apresenta", manifestou o príncipe saudita na saída da entrevista. "Consideramos que devemos evitar os erros do passado para enfrentar com êxito o atual desafio", acrescentou, segundo a Irna, o único meio que divulgou uma imagem do encontro e as declarações posteriores.
Essa é a opinião compartilhada por numerosos analistas. "Derrotar o Estado Islâmico exige um compromisso iraniano-saudita", escreveu Lina Khatib, do centro de estudos Carnegie, no início deste mês. Essa estudiosa condiciona a vitória da coalizão que os EUA estão montando para frear os jihadistas a que "Arábia Saudita e Irã consigam chegar a um acordo". Entretanto, a possibilidade de cooperação entre os dois governos se vê seriamente limitada pela desconfiança recíproca.
Desde a revolução de 1979 que deu lugar à República Islâmica, a família real saudita está convencida de que os aiatolás tentam exportar seu modelo para os xiitas da região e vê sua mão em cada protesto destes (não se deve esquecer que os xiitas representam quase 10% da população saudita e são a maioria no vizinho Bahrein, aonde Riyad enviou tropas para apoiar a monarquia). Os responsáveis iranianos olham por cima do ombro para o reino, que consideram uma marionete de seu arqui-inimigo EUA, e nunca lhe perdoaram o fato de apoiar o Iraque durante os oito anos de guerra que manteve contra o Irã.
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Chegou a hora de pensar no agora, não no passado....
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