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terça-feira, 9 de abril de 2013

A dinastia Kim contra o mundo


Há mais de seis décadas, a Coreia do Norte é regida pela dinastia Kim. A República Popular Democrática da Coreia - nome oficial do país - foi fundada em 1948 por Kim Il-sung. Quando ele morreu, em 1994, assumiu o poder seu filho Kim Jong-il, que, depois de seu falecimento, em dezembro de 2011, foi sucedido pelo terceiro e mais moço de seus filhos, Kim Jong-un. Quase sem experiência política ou militar, o jovem Kim Jong-un - tem cerca de 30 anos - assumiu o comando de um país com um dos maiores exércitos do mundo, que confronta os EUA há mais de 60 anos.

Mas desde que chegou ao poder ele deixou sua marca, com o lançamento de dois foguetes - em abril e dezembro do ano passado - e a realização de um teste atômico, na linha do "militar primeiro" traçada por seu pai, o chamado "Querido Líder". É o estilo dos Kim.

Abraçado a seu programa de armas nucleares, o "Brilhante Camarada" -nome com o qual Kim Jong-un é venerado - mergulhou o país nas últimas semanas em uma espiral de retórica, ameaças e represálias, em reação ao contínuo estrangulamento das sanções da ONU e às manobras militares conjuntas anuais que Seul e Washington realizam na Coreia do Sul e que Pyongyang considera um teste de invasão.

Mas como a situação na península coreana chegou a esse ponto? Como a dinastia Kim conseguiu se manter no poder? Que perspectivas tem o regime? Kim Jong-un será diferente de seu pai e seu avô? Esse jovem educado na Suíça é um reformista? Que papel tem a China na continuidade do regime?

São perguntas feitas por diplomatas, serviços de inteligência, especialistas e acadêmicos estrangeiros, que muitas vezes não têm remédio senão recorrer a fontes como o livro escrito pelo ex-cozinheiro japonês de Kim Jong-il -Kenji Fujimoto -, o estilo da esposa de Kim Jong-un - Ri Sol-ju -, os espetáculos de temática Disney em Pyongyang ou o comprimento das saias das jovens norte-coreanas, em busca de pistas que projetem um pouco de luz sobre o que acontece no país mais isolado do mundo.

A tensão cresceu devido às sanções impostas ao regime em castigo pelo lançamento de um foguete para colocar em órbita um satélite em dezembro passado, que segundo Washington e a Coreia do Sul foi um teste disfarçado de um míssil balístico de longo alcance, e a execução em 12 de fevereiro passado do terceiro teste nuclear de sua história.

2013 é um ano importante para Pyongyang e para Seul. Em 27 de julho se completa o 60º aniversário da assinatura do armistício que pôs fim à guerra da Coreia (1950-53), e Kim Jong-un está tensionando a corda com o objetivo de forçar os EUA e a Coreia do Sul a sentar-se para negociar um acordo de paz definitivo, que encerre de uma vez o conflito, e assim poder estabelecer relações diplomáticas com Washington e obter o reconhecimento internacional e a ajuda de que precisa para realizar reformas e insuflar oxigênio em sua economia.

Ao mesmo tempo, o jovem Kim tenta polir suas credenciais diante do estamento militar e da população norte-coreana. Décadas de controle absoluto pela dinastia Kim construíram um país incrustado em si mesmo, baseado na ideologia Juche, formulada por Kim Il-sung, cujos princípios fundamentais são independência política, autossuficiência econômica e força militar. Mas o isolamento, o grande gasto militar - 5% dos 24 milhões de habitantes do país servem o exército - e as sanções internacionais asfixiaram a economia, que depende em boa parte do fornecimento energético e do comércio com a China. A última coisa que Pequim quer é um colapso do regime vizinho, já que poderia levar milhões de norte-coreanos a cruzar a fronteira comum ou situar a suas portas os soldados americanos -são 28.500 na Coreia do Sul.

O chamado reino ermitão é dirigido por um regime anacrônico, crítico e com frequência ameaçador, a ponto de ser percebido no Ocidente com uma mistura de inquietação e fascínio. Inquietação por suas provocações, desafios e o que alguns analistas e políticos consideram seu caráter imprevisível, em um mundo marcado pela liderança militar e econômica americana e a ascensão das grandes potências emergentes, em particular a China. Fascínio por seu sigilo, sua sociedade orwelliana e sua negativa a dobrar-se à pressão americana, o que lhe conquista sua parcela de defensores.

Diante do que considera contínuas provocações da Coreia do Norte, o presidente americano, Barack Obama, optou, depois dos fracassos de administrações anteriores, por uma política de "paciência estratégica", que rejeita a concessão de novos incentivos a Pyongyang até que suspenda seu programa de armas nucleares, combinada com demonstrações de músculo militar. Até agora com pouco êxito.

Depois da morte de seu pai aos 70 anos, de um ataque cardíaco, Kim Jong-un encontrou-se em uma posição que representava um grande desafio sem treinamento prévio. Enquanto o Querido Líder teve 20 anos para se preparar para dirigir o país desde que foi designado sucessor pelo Grande Líder (Kim Il-sung), o Brilhante Camarada só teve 15 meses. Seus dois meio-irmãos - o mais velho, Kim Jong-nam, e o segundo, Kim Jong-chul - foram descartados como herdeiros por Kim Jong-il; o primeiro depois que foi expulso do Japão por tentar entrar com um passaporte falso com sua família em 2001 para visitar a Disneylândia Tóquio; o segundo porque, segundo as memórias do cozinheiro Fujimori, Kim Jong-il o considerava afeminado demais e inapto para o cargo.

Embora Kim Jong-un careça de experiência, encontra-se sob as asas de dois mentores: sua tia Kim Kyong-hui - irmã de Kim Jong-il - e o marido desta, Jang Song-thaek, vice-presidente da Comissão Nacional de Defesa e considerado o número 2. O Querido Líder cuidou para deixar bem amarrada a sucessão dinástica.

A Coreia do Norte é um Estado policial, e a continuidade da dinastia Kim se deve em boa medida ao controle total que exerce sobre a sociedade. Kim Jong-un despertou esperanças de que fosse um reformista. Falou de mudanças econômicas e sobre a necessidade de melhorar a vida de seu povo, e nomeou primeiro-ministro Pak Pong-ju, um homem com experiência econômica. Mas ao mesmo tempo precisa ganhar a devoção dos generais dos tempos da guerra fria, que lhe lembram o que aconteceu no Iraque e na Líbia.

A sobrevivência política do Brilhante Camarada dependerá do êxito na transição do poder de seu pai para ele, segundo escreveu Andrei Lankov em dezembro de 20011 em "Foreign Affairs". Lankov, um pesquisador russo, é um dos maiores especialistas em Coreia do Norte, onde estudou na década de 1980. Na sua opinião, se Kim Jong-un se afiançar, analistas e dirigentes governamentais mostrarão esperanças de que abra caminho "para uma era de reformas", mas acrescentou que "se pretende continuar vivo e no comando, não terá escolha além de continuar as políticas de seu pai". "Para sobreviver, a Coreia do Norte não terá outra possibilidade senão continuar sendo o que é hoje, uma ditadura anacrônica, com armas nucleares, cuja população vive na pobreza abjeta."

Alguns especialistas se perguntam: se o Brilhante Camarada visse os EUA com os mesmos olhos que seu pai, teria permitido um espetáculo Disney em Pyongyang como o que assistiu no ano passado? Por enquanto, mobilizou um coquetel de medidas tímidas de abertura e o mesmo caráter desafiador típico da dinastia Kim, com cujo fundador, Kim Il-sung, tem uma assombrosa semelhança física.

Um comentário:

  1. A Disney faz shows na Norte coréia a preços módicos, o que fez protestar a administração Obama. A população vive na pobreza abjeta por quê a 60 anos se faz bloqueio econômico fenomenal contra o País (e vários outros) que não se curva a Democracia realizada por Bombas e Drones e exploração e entrega de suas riquezas como fez nos anos dourados aqui no Brasil, FHC e sua corja.

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