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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Projeto de gasoduto no Brooklyn, em Nova York, gera uma série de preocupações


Nova York precisa de energia mais limpa e mais barata. Essa é a única coisa em que concordam todos os que estão acompanhando um gasoduto de gás natural proposto nas Rockaways. Mas o projeto –um duto vindo do Oceano Atlântico, passando sob a península de Rockaways e Jamaica Bay, e então seguindo para o sudeste do Brooklyn– tem provocado preocupação e oposição desde que foi anunciado neste ano.

O gás natural faz os consumidores economizarem dinheiro, diminui a dependência de petróleo estrangeiro e é mais limpo do que outros combustíveis fósseis (apesar da extração por meio de fratura hidráulica levantar outras questões). Mas diante dos recentes vazamentos e explosões em gasodutos, os defensores do meio ambiente e moradores do Brooklyn dizem temer que o gasoduto possa danificar ecossistemas frágeis, criar riscos à segurança e comprometer a maior área de parque nacional do distrito, o Floyd Bennett Field. E o próprio processo de planejamento tem atraído críticas de grupos comunitários, que disseram que ele não foi suficientemente aberto para revisão pública.

A National Grid, a empresa que fornece gás ao Brooklyn, diz que à medida que aumenta a demanda por gás natural, o sistema precisa ser ampliado. “O Brooklyn não vê um novo ponto de fornecimento há 50 anos”, disse John Stavarakas, o diretor de planejamento de longo prazo e desenvolvimento de projeto da National Grid. “Nós estamos no limite de nossa capacidade.”

Até que os estudos de impacto ambiental sejam concluídos –especialmente sobre o efeito do gasoduto no lado do oceano da península de Rockaways, onde o plano pede por escavação mais invasiva do que no lado da baía– muitos ambientalistas estão evitando dar apoio.

“Se não reduzirmos os gases do efeito estufa, então os pântanos de Jamaica Bay acabarão debaixo d’água de qualquer forma”, disse Glenn Phillips, diretora executiva do grupo ambiental New York City Audubon. “Mas as perturbações temporárias poderiam ser muito danosas ao local, que é de importância crítica para pássaros, límulos e peixes.”

No domingo (2), oponentes do gasoduto, liderados por um grupo chamado Coalizão Contra o Gasoduto de Rockaway, planejam realizar um comício na praia no Jacob Riis Park, em Rockaways, Queens.

O projeto de US$ 265 milhões, que levaria cerca de um ano para ser concluído, consiste de três partes: uma conexão de cinco quilômetros, construída pelas Williams Companies, entre o gasoduto Transco existente no Oceano Atlântico e a península de Rockaways; e um trecho de 2,5 quilômetros começando na Rockaways e passando sob Jamaica Bay e a Área Nacional de Recreação Gateway, até o Floyd Bennett Field, o aeroporto desativado que faz parte da Gateway; e uma estação de medição construída em um hangar desativado no Floyd Bennett Field.

Os defensores dizem que a construção geraria 300 empregos e que a estação concluída daria à cidade US$ 8 milhões anuais em impostos.

O governo Bloomberg, que pede pela ampliação do uso de gás natural em sua iniciativa PlaNYC 2030, encorajou os deputados Gregory W. Meeks, de Queens, e Michael Grimm, de Staten Island, a apresentarem em conjunto um projeto de lei federal, aprovado em fevereiro, autorizando o uso de terras do parque nacional para o projeto.

A Regional Plan Association, um grupo sem fins lucrativos que estuda questões de desenvolvimento local, apoia o gasoduto. “A cidade precisa de gás natural para substituir o óleo para aquecimento, uma meta ambiental importante”, disse Robert Pirani, vice-presidente da associação para programas ambientais.

Mas a Coalizão Contra o Gasoduto Rockaway e outros críticos apontam para o histórico de segurança das Williams Companies e expressaram preocupação com uma possível explosão em um parque nacional ou em um bairro densamente habitado. Desde 2008, os gasodutos da empresa sofreram acidentes –incluindo vazamentos, rupturas e explosões– em pelo menos sete Estados. A empresa e suas subsidiárias enfrentam “ordens de ações corretivas” do governo em dois casos, incluindo uma explosão no Alabama no ano passado, e multas em dois outros. Um porta-voz da empresa disse que todas as questões levantadas pelos acidentes foram tratadas.

Brian O’Higgins, diretor de engenharia das Williams Companies, disse que grande parte do gasoduto seria instalada usando um método relativamente não invasivo que envolve perfuração horizontal, que abre um pequeno buraco, perfura subterraneamente e então gradualmente alarga o buraco. Isso evitaria escavação nas praias da Rockaways ou em Jamaica Bay. Mas 3,58 quilômetros do gasoduto no oceano seriam instalados por métodos convencionais, exigindo grande escavação, disse a empresa. Um porta-voz das Williams Companies, Chris Stockton, disse que a rota planejada evita “hábitat sensível”.

Dois defensores do meio ambiente –Don Riepe, o Guardião de Jamaica Bay pela Sociedade do Litoral Americano, e Dan Mundy Jr., cofundador da Jamaica Bay Ecowatchers– disseram estar muito preocupados com a conexão no oceano.

“É uma escavação de um buraco imenso em uma área extremamente crítica”, disse Mundy. “Há muita vida ali –solha, linguado, lagosta.”

Dois conselhos comunitários, o Nº14 em Queens e o Nº18 no Brooklyn, também fizeram objeções ao projeto. Para o conselho do Brooklyn, o problema é a proposta de construção da estação de medição e da estação reguladora no Floyd Bennett Field.

Em uma reunião em 15 de agosto, organizada pela Coalizão Contra o Gasoduto Rockaway, várias pessoas disseram que a entrega de terras de um parque público para o setor privado estabelece um precedente preocupante.

O processo de planejamento também foi um problema. Em fevereiro, depois que o Congresso autorizou o Serviço Nacional de Parques a dar andamento ao projeto, ultraje e teorias de conspiração passaram a tomar conta dos blogs locais, listas de discussão online e jornais.

Stockton, o porta-voz das Williams Companies, disse que o uso de terras de um parque nacional exigia apoio do Congresso e da presidência apenas para que o processo pudesse ter início. “Esse ainda é um passo bem, bem inicial”, acrescentou O’Higgins, com muitos outros ainda necessários, incluindo os estudos de impacto ambiental e as aprovações da Comissão Reguladora Federal de Energia e do Departamento de Conservação Ambiental estadual.

Ativistas e ambientalistas se queixaram de que o plano parece fato consumado e de que o serviço de parques se manteve em silêncio, nunca mencionando a proposta durante as reuniões públicas para discussão do futuro do Floyd Bennett Field. A revelação de que Grimm recebeu um total de US$ 3 mil da National Grid e das Williams Companies para sua campanha para reeleição depois de apresentar o projeto de lei também causou controvérsia. Grimm disse que não houve toma lá, dá cá.

Caso o projeto avance, outra briga se pronuncia, em torno do dinheiro; todos os envolvidos parecem ter uma ideia diferente sobre quanta receita será gerada e para onde será destinada. Os defensores locais disseram que se tiverem que conviver com o gasoduto, o dinheiro deve ir para Jamaica Bay, e não desaparecer no orçamento geral do Serviço Nacional de Parques.

“Isso ao menos deveria fornecer algum dinheiro ao parque”, disse Riepe, acrescentando que o dinheiro seria altamente necessário para recuperação do pântano, que ele descreveu como “a força vital de Jamaica Bay”.

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