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terça-feira, 1 de novembro de 2011

Novo presidente do Quirguistão defende estreitamento de laços com Moscou

Almazbek Atambayev
O primeiro-ministro Almazbek Atambayev venceu, logo no primeiro turno, realizado no último domingo (30), a eleição presidencial no Quirguistão, república instável da Ásia Central, ex-soviética, vizinha da China. Considerado o grande favorito do pleito, esse político liberal e próximo de Moscou obteve 63% dos votos, segundo apuração não definitiva.

A eleição presidencial, que estava sendo disputada por 16 candidatos, era uma experiência inédita para a região, dominada por presidentes vitalícios: Nursultan Nazarbayev, presidente do Cazaquistão desde 1991, Islam Karimov, presidente do Uzbequistão desde 1990, Emomali Rakhmonov, presidente do Tadjiquistão desde 1994, sem falar no líder turcomeno Gurbanguly Berdymukhamedov, no comando há muito tempo.

Será a eleição de Atambayev, próximo da presidente interina Roza Otunbayeva, que tinha a confiança de Moscou e dos ocidentais, suficiente para apagar as divisões e os riscos de revoltas que ameaçam esse pequeno Estado instável, que se tornou o ponto fraco da Ásia Central?

A votação do domingo era um teste. Desde sua independência em 1991, o Quirguistão nunca teve uma transferência pacífica de governo. Em 2005, e depois em 2010, o país viu revoluções sangrentas, pontuadas pelo exílio de presidentes execrados.

Em abril de 2010, a deposição do presidente autoritário Kurmanbek Bakiev resultou em centena de mortes. Em seguida, houve atos de violência étnica no sul do país (470 mortos, 2 mil casas destruídas, centenas de milhares de desalojados), visando sobretudo a minoria uzbeque.

Desde então, a tensão permanece viva no sul entre os quirguizes criadores de animais e os uzbeques comerciantes. E mais viva ainda pelo fato de que os uzbeques, principais vítimas dos massacres de junho de 2010, foram parar no banco dos réus. Cinco mil investigações foram conduzidas sobre as matanças interétnicas, mas 83% dos acusados eram uzbeques. Em maio de 2011, o Parlamento declarou como persona non grata o político finlandês Kimmo Kiljunen, cuja comissão de investigação independente revelou a cumplicidade das forças de segurança quirguizes com os autores do massacre.

"Um ano atrás estávamos à beira do abismo. Agora conhecemos o preço da unidade", declarou Roza Otunbayeva, no domingo. Alguns dias antes, a presidente interina, cujo mandato termina em dezembro, havia declarado que seu país não tinha outra escolha a não ser juntar-se à União Eurasiana idealizada pelo primeiro-ministro russo Vladimir Putin.

O novo chefe do Estado, Almazbek Atambayev, 55, segue a mesma linha. Recebido diversas vezes em Moscou antes de sua eleição, ele tem a confiança do Kremlin. A relação é tão cordial que o Parlamento quirguiz batizou recentemente um dos picos da cordilheira de Tian Shan com o nome de Vladimir Putin.

A estabilidade desse pequeno país montanhoso de 5,5 milhões de habitantes é importante para a Rússia e para os Estados Unidos, uma vez que cada um deles possui uma base militar em solo quirguiz. Agora que a coalizão internacional presente no Afeganistão planeja sua retirada a partir de 2014, o destino do Quirguistão, situado na rota do tráfico de ópio vindo do Afeganistão, preocupa russos e ocidentais.

A saída das tropas ocidentais do Afeganistão irá colocar o país, devastado pelas gangues criminosas e pela corrupção, diante de um perigoso vazio. A Rússia, que teme o contágio islâmico em toda a área, pretende ter um papel preponderante no plano militar, reforçando no local o papel do Tratado de Segurança Coletiva, uma espécie de Otan (menos eficaz) dos Estados pós-soviéticos.

O Kremlin já informou ao novo presidente que está fora de cogitação prorrogar a locação da base de Manas aos americanos depois de 2014. Atambayev se comprometeu com isso, e pretende integrar-se o mais rápido possível à União Aduaneira Rússia-Belarus-Cazaquistão.

Para o Quirguistão, cujo PIB por habitante (US$ 860) é dez vezes menor que o do rico Cazaquistão, fazer parte do clube alfandegário proposto pelo líder russo é uma chance imperdível. Esse projeto poderá fazer parte da estabilização da economia. Restaurar a confiança dos investidores estrangeiros é crucial, num momento em que empresas chinesas e sul-africanas acabam de sofrer ataques de bandos armados a suas concessões mineradoras.

Com o tempo, parece ser inevitável uma integração mais elaborada com a Rússia, uma vez que a saída da coalizão internacional do Afeganistão deixará o país vulnerável a ameaças. Não há dúvida nenhuma de que o presidente Atambayev fará de tudo para integrar-se à União Eurasiana sonhada por Moscou, esse “modelo de unificação poderosa e supranacional, capaz de se tornar um dos polos do mundo contemporâneo” e que um dia poderá “integrar a União Europeia”, escreveu Vladimir Putin em um ensaio publicado no dia 4 de outubro pelo jornal “Izvestia”.

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