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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Relações exteriores: análise e previsão


Otávio Frias Filho escreveu, recentemente, um ensaio sobre o decorrer da política diplomática do Brasil desde o Império de D. Pedro II até os dias de hoje, prevendo o horizonte geopolítico em 2050. O objetivo básico de nossa política diplomática foi preservar a integridade territorial imensa e mal ocupada no Império. Apesar de pacifistas, fomos à guerra três vezes pela disputa do Uruguai antes que Estado tampão entre Brasil e Argentina.

Proclamada a República, em 1889, o Barão do Rio Branco, ouvido Ruy Barbosa, fixou a estratégia perante os Estados Unidos, não muito diferente da mantida até então com a Grã-Bretanha, pelas elites do Império. Estabelecia um relacionamento estreito com a potência norte-americana. Ante o fascismo e o comunismo na 2ª Grande Guerra, o presidente Getúlio Vargas teve inicialmente uma relação ambígua com Washington, equidistante dos Estados Unidos e da União Soviética. O embaixador Sérgio Corrêa da Costa, que serviu na Argentina, revelou documentos preciosos do governo de Juan Perón, que se manteve comprometido com o fascismo até a véspera do armistício de 1945.

O plano de Perón era reconstruir o Vice- Reinado da Prata, ampliado com parte do Brasil, se os alemães vencessem a guerra. Por isso Getúlio simulou neutralidade até que nossos navios costeiros foram torpedeados por submarinos alemães e um italiano. Negociou com Roosevelt a utilização das bases aéreas de Belém e Natal para que suas tropas pudessem sobrevoar o Atlântico Sul, rumo a Dacar. Em troca, garantiu financiamento para a construção da siderúrgica de Volta Redonda.

Para demonstrar falso afastamento da política de aliança automática, fez aprovar a lei que criou a Petrobras, com o cuidado de enviar ao Congresso um projeto de lei que não adotava o monopólio da pesquisa, refino e exploração de petróleo, satisfazendo a apreensão das companhias internacionais que dominavam o mercado mundial do petróleo. Instruiu, em silêncio, seu líder na Câmara a votar a favor da emenda da oposição pelo monopólio da empresa estatal.

O advento da Guerra Fria separou o mundo ideologicamente em dois hemisférios. De um lado, a União Soviética; do outro, os Estados Unidos, em aliança com as democracias.

pós o golpe preventivo de março de 1964, o governo Castello Branco voltou ao alinhamento automático com a política externa americana. No governo Ernesto Geisel, o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha foi severamente combatido pelo presidente Carter. No dia imediato à sua posse, mandou oficialmente seu vice-presidente à Alemanha pressionar o primeiro-ministro social-democrata alemão para tentar denunciar unilateralmente o acordo, sem lograr êxito. Com o mesmo fim, determinou ao Departamento de Estado enviar ao Brasil o diplomata Warren Christopher. Não foi recebido. Igual desavença já ocorrera com a decisão do presidente Médici de decretar as 200 milhas de soberania marítima ao longo do litoral. Alta patente militar americana veio ao Brasil com a missão de pleitear junto ao presidente Médici a anulação do decreto. Não obteve acolhimento. Vários anos depois, o decreto foi modificado, mas o domínio econômico das 200 milhas foi mantido. Devido a isso, a Petrobras pesquisa off shores soberanamente.

Décadas se passaram desde então. O conflito ideológico da Guerra Fria desvaneceu-se com o colapso da URSS. Novas formas de antagonismo surgiram nas tensões do Leste-Oeste. O Brasil, a partir de 1985,consolidou autêntica democracia, venceu a inflação, equilibrou suas contas internas e eliminou o deficit da dívida externa. Venceu o vaticínio pessimista de Malthus, segundo quem o desencontro entre o aumento da população e a produção de alimentos será fatal. Frias contesta, afirmando que teremos em 2050, no que tange ao Brasil, uma população altamente miscigenada, de imigrantes africanos e latino-americanos, estabilizando-a perto de 250 milhões. No plano econômico, consolidou a oitava posição no ranking das economias do mundo e, segundo a previsão de Frias Filho, chegará a quarta ou quinta economia do mundo e a um PIB de US$ 12 trilhões. Alcançará o nível de potência tropical pacífica e sem armas nucleares, mas provida de recursos militares capazes de dissuadir potências superiores, se cobiçosas.

A China e os Estados Unidos disputarão a primazia econômica nos próximos anos. Correto será uma política de equidistância de ambos, pois são parceiros importantes de importação e exportação. No que tange ao desenvolvimento cultural, o Brasil do futuro imediato deverá voltar-se para incrementar o soft power, a cultura e a tecnologia essenciais a qualquer poder nacional na era digital de 2050.

As relações do Brasil com os Estados Unidos deixam uma lição para 2050. Desde as diretrizes do começo da República, nossa política externa com os Estados Unidos variou de alinhamento automático aos confrontos cordiais sem quebra da soberania. Pela primeira vez, o confronto chegou à beira da hostilidade diplomática, nos oito anos de governo petista de Lula, buscando conquistar, em oposição aos Estados Unidos, um lugar vitalício no Conselho de Segurança da ONU. Politicamente, prever o Brasil em 2050, só seria possível fazer se ouvido o Oráculo de Delfos, da Grécia antiga, que fazia profecias consultando a ondulação das águas e o sussurro das folhas das árvores.

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