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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O fantasmagórico exército russo avança sobre sudeste da Ucrânia

Há coisas estranhas acontecendo em Kholodnoye. Nesse vilarejo tranquilo com poucas dezenas de casas, embalado pelas ondas do Mar de Azov, pela primeira vez foram vistos drones passando pelo céu. Era dia 24 de agosto, e ainda que a região até o momento tivesse se mantido prudentemente afastada da guerra e de suas bizarrices, Natalia e Galina não se espantaram.

Natalia passou para ver Galina, que cuida da loja desse vilarejo de fim de mundo, situado a 500 metros da fronteira russa. Uma se diz pró-ucraniana, a outra pró-russa. Mas as duas mulheres, corroboradas por uma terceira que não quis dar seu nome, fazem o mesmo relato dos acontecimentos da semana.

Estupefação e princípio de pânico em Kiev
Um dia depois da passagem dos drones, caíram projéteis perto do vilarejo, sobre as posições dos soldados encarregados de vigiar essa parte da fronteira do extremo sudeste ucraniano --na verdade, algumas trincheiras cavadas às pressas nos campos. Os soldados fugiram e, no dia seguinte, outros apareceram brevemente no vilarejo, depois de atravessarem a estrada principal. Jovens de capacete e todos vestidos com o mesmo uniforme impecável: nada que lembrasse os uniformes incompletos dos combatentes separatistas que se veem normalmente na região de Donbas.

"Eram soldados russos", afirmam as três mulheres sem hesitar. Entre 30 e 50, além de um blindado transportando tropas com o número de identificação recoberto de tinta branca. Eles deram "bom dia" ao passarem e seguiram seu caminho. À noite, outros habitantes viram tanques a algumas centenas de metros nos campos. Tropas e blindados vinham do lado russo e avançavam na direção do oeste, para Novoazovsk, a primeira cidade ucraniana da costa, a dez quilômetros de lá.

Nesse domingo (31), ainda eram visíveis os rastros das lagartas, que saíam do posto alfandegário situado dois quilômetros ao norte de Kholodnoye, antes de penetrar nos campos. O posto foi tomado na segunda-feira, mas os combatentes separatistas que hoje vigiam o local não sabem quem fez o trabalho. Eles simplesmente receberam ordens de se instalar ali.

Novoazovsk caiu no dia 27 de agosto. A tomada da cidade provocou estupefação e um princípio de pânico em Kiev. Essa zona ao sul da região de Donetsk havia sido até então poupada pelos combates, e a abertura repentina de uma nova frente, após semanas de avanço ininterrupto do exército ucraniano, mostrou a seriedade da contraofensiva separatista. Kiev acredita que essa reviravolta foi resultado de uma intervenção direta do exército russo.

"Nós tomamos esses tanques em uma base ucraniana"
Em Novoazovsk, não se vê nenhum sinal dessas colunas, somente sombras de uma presença russa, como a desses dois homens de uniforme que se esquivam rapidamente e cujo aspecto corresponde à descrição feita pelas mulheres de Kholodnoye. Há uma dezena de tanques visíveis, posicionados no centro e nas diferentes rotas de acesso que levam até a cidade. Principalmente tanques de design soviético T-72, sem pintura branca e não muito novos.

"Nós tomamos esses tanques em uma base ucraniana da região de Lugansk", diz Gyurza, um dos comandantes separatistas que estão dominando a cidade. Esse veterano da Legião Estrangeira afasta a hipótese de qualquer apoio russo. Os únicos russos que estão combatendo ao seu lado são voluntários, ele afirma. E faz várias semanas que não chega nenhum.

Então quem são os ocupantes desse jipe que parou pouco depois que Gyurza foi embora, e cujo condutor pôs a cabeça para fora da janela para perguntar em voz alta aos combatentes que descansavam à sombra: "Onde se pode trocar rublos por hryvnias aqui?"

Pouco antes da queda da cidade, projéteis caíram em frente à casa de Liouba, na entrada da cidade. A jovem se refugiou no porão com seus filhos; ela ouviu cinco ou seis explosões. A fachada de sua casa, toda esburacada pelo impacto dos estilhaços, dá toda para o leste, na direção da Rússia, a dez quilômetros de lá. É impossível saber se os tiros vieram do lado russo ou ucraniano da fronteira.

Algumas posições ucranianas, 200 metros abaixo, pareciam estar na mira. Encontramos na floresta vestígios de um acampamento improvisado, rações do exército americano que Washington fornece ao exército ucraniano. Esses soldados também fugiram sem combater, provavelmente para se refugiarem em Mariupol

Mariupol, próximo objetivo dos separatistas
A grande cidade da costa do Mar de Azov fica a 30 quilômetros dali. Cidade portuária sufocada pela fumaça das siderúrgicas, Mariupol é o próximo objetivo dos separatistas. Gyurza, o ex-legionário, chegou a pensar em convidar Marine Le Pen para lá, "porque é a única na França que entende por que estamos lutando."

Enquanto espera um possível ataque, Mariupol vai cavando. Foram pedidas escavadeiras das fábricas para instalar trincheiras e grandes blocos de concreto. Mas quase não se vê o exército ucraniano, deixando o terreno para os batalhões de voluntários, sobretudo o batalhão "Azov", no qual estão combatendo vários europeus. Esses homens não têm armamentos pesados: o que eles farão diante dos tanques dos separatistas, enquanto as posições ucranianas ao norte vão caindo uma após a outra?

Em frente ao principal "canteiro", no sábado, centenas de pessoas se reuniram para formar uma corrente humana com mais de um quilômetro de extensão. As pessoas agitavam bandeiras ucranianas, cantavam o hino nacional, encorajavam os combatentes e os operários que cavavam as trincheiras. Esses habitantes de Mariupol mostravam o rosto para as câmeras e as máquinas fotográficas. Se a cidade deles for tomada, eles correm um grande risco, assim como todos aqueles que, na "República Popular de Donetsk", ousaram exibir abertamente suas posições pró-ucranianas.

"Geralmente, em Mariupol multidões de operários são organizados em fileiras, a quem dizem o que fazer, em quem votar. Só pelo espetáculo desses cidadãos prontos a se levantarem por uma causa coletiva, estou disposto a assumir o risco", cochicha Taras, um metalúrgico desempregado.

Um comentário:

  1. Michel sou um antigo leitor seu no facebook me chamo Alex Miranda (conta temporariamente fora do ar)..recentemente montei uma pagina no fecebook chamada Flanker Brasil e gostaria de saber se eu poderia compartilhar algumas postagens suas e algumas URLs do seu Blog

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