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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Expansionismo russo e sanções abalam o Leste Europeu

Manifestações, tensões étnicas, lembranças de um passado feroz... A guerra na Ucrânia e os atritos entre Moscou e Bruxelas marcam o ano no Leste Europeu. A região compartilha a preocupação diante de cortes de combustível e o fechamento da fronteira russa para suas exportações; entretanto, em cada país a crise gera problemas diferentes.

Estônia, Letônia e Lituânia, antigas repúblicas soviéticas, são as mais ansiosas diante da posição agressiva que a Rússia adotou para defender sua influência regional. Multiplicaram-se os protestos por um aumento da pressão militar russa em sua fronteira, e na sexta-feira o governo estoniano denunciou que soldados russos tinham sequestrado um de seus guarda-fronteiras.

Este medo, especialmente na Lituânia, alimentou uma ascensão dos nacionalismos radicais. Mais que uma invasão aberta, porém, os bálticos temem punições no abastecimento energético.
O dia a dia nesses países também é sobrecarregado por um problema de convivência com as minorias de língua russa, que carecem de muitos dos direitos de seus concidadãos e que as autoridades consideram um foco de instabilidade. A Lituânia inclusive flerta com uma lei que vete as televisões russas, para evitar a "desinformação" que incite ao ódio.

O veto de Moscou deixa o comércio regional muito afetado. Com produtos avaliados em 922 milhões de euros, dentro da UE (União Europeia). E, a Lituânia é a principal exportadora agroalimentar para a Rússia. E as empresas de iogurtes lituanas deixaram de comprar leite da vizinha Letônia porque não podem exportar sua produção. Essas conexões revelam que o Leste Europeu se ordena como uma linha de fichas de dominó, onde a queda de uma arrasta as demais.

A pequena Moldávia conhece bem esse jogo de espelhos. O vinho e a fruta do país mais pobre do continente estão vetados na Rússia desde o final de 2013, quando assinou um acordo com a UE que abriu a crise ucraniana.

Trinta por cento dos trabalhadores do país são agricultores afetados pelo fechamento comercial, e agora pedem para romper a cooperação com a UE. O descontentamento poderá decidir as eleições de 30 de novembro, explica Denis Cenusa, analista do grupo de pensadores Expert-Grup, de Chisinau. "O efeito é mais psicológico que econômico: um sinal de que o governo, uma coalizão pró-europeia, não sabe administrar a relação decisiva com a Rússia."

E a situação se agrava ao recordar que dentro da Moldávia existe um enclave independente pró-russo, a Transnístria, cuja secessão nos anos 1990 continua desequilibrando o país, além de seu principal vizinho; a Romênia investiu muito na Moldávia e lhe assusta que se agite o vespeiro da Transnístria, muito hostil a Bucareste.

Voltando ao econômico, a Polônia é o segundo país da UE mais afetado pelo veto russo (840 milhões em exportações), o que prejudica sua agressividade com Moscou. A sociedade polonesa vê com horror o clima bélico da região, justamente no 75º aniversário da invasão nazista.

Apesar de seu crescimento sustentado, Varsóvia vive como um drama a perda do título de maior exportador mundial de maçãs, a metade das quais ia para a Rússia. Para salvar a colheita, o governo tenta promover o consumo interno de sidra. Isto gerou um conflito entre ministérios, porque o da Saúde freia as facilidades para vender sidra em um país com graves problemas de abuso de álcool.

Enquanto isso, a Bulgária - pouco afetada pelo veto russo - vê seus mercados se encherem dos excedentes poloneses. O ministro da Agricultura de Sófia já disse que endurecerá os controles para evitar a ruína dos agricultores locais.

O aparecimento de fissuras regionais parece um risco mais real que a chegada de tanques ao coração do continente. Em relação à Hungria, o que não conseguiram todos os cortes em liberdades promovidos por seu presidente, Viktor Orban, está conseguindo sua campanha a favor de uma aproximação com Moscou. Suas declarações ("com as sanções nos demos um tiro no pé") estão lhe valendo puxões de orelha constantes.

Também na Eslováquia surgiram atritos com a UE devido às sanções. Seu primeiro-ministro, Robert Fico, se opôs na quarta-feira à nova rodada: "Não queremos romper a unidade europeia, mas defenderemos com firmeza nossos interesses econômicos".

Praga tem uma posição semelhante. Também ali se vive um conflito entre as razões da economia de mercado e a desconfiança da Rússia, que contamina todos os assuntos internos. Por exemplo, uma pesquisa recente mostra que a maioria dos checos (especialmente os mais velhos) quer recuperar o serviço militar obrigatório. São dias incertos no leste.

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