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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Le Monde: Ucranianos de Donetsk apoiam separatistas, mas têm medo deles

A lojinha de Alexandre e Olga, no mercado Kontinent, provavelmente é uma das únicas de Donetsk a não ter fechado as portas no verão, mesmo no auge dos bombardeios sobre a capital do Donbass. Contudo, à primeira vista, as prateleiras da loja não parecem ter itens de primeira necessidade para uma cidade em guerra: ali encontramos como única mercadoria dezenas de novelos de lã. "Nós também salvamos gente!", se revolta Olga. "Tricotar é um santo remédio contra o estresse."
Seu marido também sorri. O mercado está quase com sua movimentação habitual, ainda que cerca de dois terços das lojas permaneçam fechadas. Mas as barracas estão cheias e a escassez do verão foi quase esquecida. Só falta o dinheiro vivo: os caixas eletrônicos estão vazios e Alexandre não tem a maquininha de cartão de débito. Um aposentado explica que não tem recebido sua pensão por não ter conta no banco.

A viatura de polícia passa por entre as lojas, exibindo o mais recente capricho dos dirigentes da "República Popular de Donetsk": agora os veículos andam com placas da autoproclamada entidade, e a inscrição "militsia" foi substituída por "politsia", que é usada na Federação da Rússia.

Táticas truculentas
O homem ao volante --à paisana, com uma AK-47 sobre os joelhos-- explica que já havia sido policial antes. "Nada mudou", ele diz, "exceto pelo fato de que a RPD paga melhor e de que há menos criminalidade aqui".

Os dirigentes separatistas nunca esconderam que haviam usado táticas truculentas para se livrar dos alcoólatras, dos vagabundos e dos ladrões --que são espancados e às vezes pegos para trabalhos forçados. Sem falar em seus opositores, forçados ao exílio ou vítimas de perseguições que chegavam à tortura e à morte.

"Esperemos que essas pessoas sejam honestas", suspira Alexandre quando vê a viatura policial, que parece ratificar a passagem definitiva da região para as mãos dos separatistas. Assim como muitos em Donetsk, Alexandre e Olga não acreditam mais em uma reconciliação com Kiev, assim como também não acreditam na hipótese de um cessar-fogo rápido, que voltou à tona na quarta-feira (3) após contatos entre Poroshenko e Putin, os presidentes da Ucrânia e da Rússia.

Algumas horas após o anúncio --logo negado-- de um acordo, cerca de 15 explosões foram ouvidas em Donetsk, aparentemente tiros de morteiro contra o aeroporto ainda mantido pelas forças ucranianas.

E assim segue a vida em Donetsk. Uma cidade onde os bombardeios baixaram muito em intensidade na última semana, desde que os separatistas voltaram à ofensiva, mas onde os mineradores --cujas minas não foram destruídas-- continuam a descer para baixo da terra com um frio no estômago, sujeitos a um corte na alimentação. Uma cidade que vai se repovoando aos poucos, mas onde ainda não se veem crianças.

"Um Estado que não é reconhecido por ninguém"
A maior parte delas foram tiradas da cidade, e a volta às aulas, prevista para o dia 1º de setembro, foi adiada em um mês. Enquanto isso, os alunos deverão fazer aulas online.

"Meu filho de 13 anos está começando a se incomodar com a situação, ele está estressado e dorme mal", conta Ania, que espera na estação rodoviária para saber se conseguirá chegar até a cidade-dormitório onde mora.

Na pequena empresa onde ela trabalha como contadora, três quartos dos funcionários foram embora. "Nossa firma trabalha principalmente com outras regiões da Ucrânia. O que acontecerá se tivermos aqui um Estado que não é reconhecido por ninguém?" No entanto, Ania se recusa a dizer se está esperando pela volta do Exército ucraniano, algo altamente improvável.

"Ainda que a maior parte das pessoas apoie os separatistas, muitas delas têm medo deles", afirma o motorista de táxi Iuri, enquanto descansa ao sol. "No meu prédio, dois apartamentos estão ocupados por combatentes. Eles arrombaram a porta e se instalaram. Quando eles tomaram a vaga de estacionamento que costumo usar, fingi resistir, mas foi por pouco tempo."

Um comentário:

  1. Quanta bobagem, só podia ser o Le Monde. A grande maioria dos separatistas são oriundos dos locais.

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