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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Apesar do acordo com o Fatah, Hamas administra sozinho a faixa de Gaza

Comício do Hamas em Gaza
Encoberto por cortinas espessas e escuras, o escritório lembra um acampamento entrincheirado. Abdallah Abu-Samhadana, com ar abatido, está sentado ao lado de um grande retrato de Mahmoud Abbas. Nomeado pelo presidente palestino em julho, às vésperas da guerra, ao posto de governador da região de Deir al-Balah, no centro do estreito enclave, o oficial do Fatah tem passado seus dias ocioso, em sua casa em Gaza.

No final de agosto, as forças de segurança do Hamas o impediram de inaugurar seu gabinete, assim como os quatro outros governadores designados após a assinatura do acordo de reconciliação Fatah-Hamas, no dia 23 de abril. O movimento islâmico considerou uma "provocação" a manobra "unilateral" de Abbas.

Desde então, o governador, que passou pelos cárceres do movimento islâmico quando este tomou o poder em 2007, não pôde mais se aproximar das ruínas de seu distrito: "O Hamas claramente não quer que um representante do presidente Abbas possa ajudar aqueles que perderam suas casas. Isso criaria concorrência para eles", assinala Abdallah Abou-Samhadana.

Essa situação de bloqueio, três meses após a formação de um governo de unidade nacional, provocou, no sábado (6), a ira do presidente Abbas logo que seu avião aterrissou no Cairo, às vésperas da sessão anual da Liga Árabe: "Não podemos continuar trabalhando com o Hamas dessa maneira", ele advertiu, ameaçando romper o acordo de unidade.

Governo "fantasma" do Hamas
O motivo seria a manutenção na faixa de Gaza de um governo "fantasma" do Hamas, que estaria minando os esforços dos 17 ministros-tecnocratas, liderados pelo primeiro-ministro Rami Hamdallah, para se implantarem: "Há 27 ministros adjuntos e diretores que dirigem a faixa de Gaza, e o governo de unidade não pode fazer nada na prática", acusa o presidente da Autoridade Palestina.

Apoiado por uma delegação palestina unificada, o cessar-fogo de 26 de agosto, após 51 dias de conflito, não assinalou a conquista de Gaza pelo governo de unidade. Muito pelo contrário. À medida que vai se delineando a gigantesca obra de reconstrução a hipótese parece cada vez mais improvável.

Em Beit Hanoun, cidade do norte do território palestino vitimada pela guerra, ao prefeito Nazek al-Kafarna só restaram algumas cadeiras de seu gabinete em ruínas. O prefeito, afiliado ao Hamas, está exausto, mas se recompõe para criticar o "abandono" de Ramallah. De seus superiores diretos na Cisjordânia, dentro do Ministério das Autoridades Locais, ele afirma só ter recebido "um único telefonema" sucinto desde o início do conflito, no dia 8 de julho: "Na verdade, meus únicos intermediários são os funcionários do Hamas em Gaza", admite o prefeito.

O governo de unidade é desequilibrado desde sua origem. Dentre os 17 membros, oficialmente sem afiliação partidária, somente três ministros operam na faixa de Gaza: o do Trabalho, o da Habitação e o da Justiça. As funções centrais da administração palestina estão concentradas em Ramallah, assim como os ministérios do Interior, das Finanças e das Relações Exteriores.

Na faixa de Gaza, o exercício efetivo do poder é efetuado pelos ministros adjuntos e diretores-gerais, oriundos da ex-administração do Hamas. Todos falam em relações "inexistentes" com seus ministérios de supervisão em Ramallah. O vice-ministro do Interior para o Hamas, Kamel Abou Madi, um homem pequeno e de ar discreto, dirige na prática os maiores efetivos de funcionários públicos do território, os 18 mil oficiais das forças de segurança.

"Cálculo cínico" de Ramallah
Mas para os observadores em Gaza, a existência dessa equipe paralela deve antes de tudo ser atribuída às negligências da Autoridade Palestina: "Pode-se culpar o Hamas por ele preencher um vácuo? Alguém precisa administrar. O que esse governo está esperando para ir até Gaza?", se revolta Omar Chaban, diretor do centro de análises Pal Think.

Ramallah atribui essa discrição ao dilema do pagamento dos salários de 45 mil funcionários públicos do Hamas no enclave, uma vez que o primeiro-ministro Handallah fala em "ameaças" do governo islâmico contra os membros do governo que fossem até Gaza antes de seu pagamento. Em junho o Qatar havia proposto pagar a dívida, que chega a US$ 60 milhões (quase R$140 milhões), por intermédio da Autoridade Palestina. Mas em Ramallah existe o temor de um "boicote financeiro" de consequências dramáticas se a operação for levada a cabo, uma vez que os Estados Unidos e a União Europeia – seus principais financiadores – consideram o Hamas uma organização terrorista.

O impasse financeiro, visto pelo movimento islâmico como um "cálculo cínico" de Ramallah visando enfraquecê-lo junto à população, alimenta no local a rejeição a um governo de unidade. Mas a perspectiva de uma volta da Autoridade a Gaza enfrenta obstáculos mais profundos.

Na prática, ela vai se deparar com a ampla rede tecida pelo Hamas e reforçada por sete anos de prática exclusiva do poder, por intermédio de associações de caridade, mesquitas e redes de combatentes: "Está fora de questão, para o Hamas, que a Autoridade Palestina tenha qualquer direito de inspeção sobre suas forças de segurança", analisa Adnan Abu Amer, analista político próximo do movimento islâmico. "A resistência deve ficar nas suas mãos.

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