Outra rodada de violência terminou na Terra Santa. Mais de 2.100 palestinos, a maioria deles civis e muitos deles crianças, foram mortos. Mais de 70 israelenses estão mortos. A grama, na pavorosa metáfora israelense, foi cortada (e não começará a crescer novamente). O Hamas, através de sua resistência, melhorou sua reputação entre os palestinos. Israel está mais irritado. Ninguém ficou melhor.
Erupções periódicas são intrínsecas à estratégia do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de manter o status quo de domínio sobre milhões de palestinos, a expansão dos assentamentos na Cisjordânia e manobrar para desviar da mediação norte-americana. O povo oprimido vai se levantar. O anêmico compromisso de Israel com a solução de dois estados é a melhor forma de encobrir a evisceração desse objetivo. Ainda assim, surge uma questão: esta miniguerra era necessária?
Acho que não. Certamente não era do interesse estratégico de Israel. Muito mistério continua cercando sua gênese, o sequestro, em 12 de junho, de três jovens israelenses perto de Hebron e seu assassinato, agora atribuído a um clã palestino local que inclui integrantes do Hamas que agiram sem conhecimento ou ordem da liderança do grupo. (Não houve nenhuma grande matéria investigativa na imprensa norte-americana sobre o incidente, uma omissão preocupante.)
Mas emergiram detalhes suficientes para deixar claro que Netanyahu agiu impetuosamente sobre "provas inequívocas" da responsabilidade do Hamas (que ainda não foram oferecidas) com fins políticos. O objetivo do primeiro-ministro era gerar descrédito em relação a Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, por se reconciliar com o Hamas; vingar o colapso das negociações de paz promovidas pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry; inflamar a ira israelense com o destino dos adolescentes; varrer a Cisjordânia, prendendo centenas de suspeitos integrantes do Hamas, incluindo 58 que foram soltos sob os termos de um acordo anterior com o Hamas; e consolidar uma política de dividir para conquistar.
Assaf Sharon da Universidade de Tel Aviv, diretor-acadêmico de uma nova instituição de pesquisa liberal em Jerusalém, escreveu um texto contundente no The New York Review of Books. Ele levanta o ponto importante de que o Hamas estava sitiado antes da violência, isolado pela queda da Irmandade Muçulmana no Egito e pela ascensão do presidente Abdel Fattah el-Sisi. Este enfraquecimento está por trás da reconciliação com Abbas. Netanyahu pode ter usado este acontecimento para estender a autoridade de Abbas numa Gaza mais aberta, em detrimento do Hamas, o objetivo que agora parece se buscar depois da perda desnecessária de tantas vidas.
Por mais de duas semanas depois dos sequestros, provas persuasivas de que os adolescentes estavam mortos foram escondidas do público israelense. Uma imensa campanha emocional de "devolvam nossos rapazes" foi empreendida, enquanto a gravação de uma ligação telefônica de um dos jovens para a polícia logo após o sequestro não foi divulgada. Nela, tiros e gritos de dor podem ser ouvidos. Como escreveu Shlomi Eldar: "foi um assassinato em tempo real, horripilante e monstruoso". Depois disso, "aqueles que ouviram a gravação do telefonema de emergência sabiam que o melhor que se podia esperar era levar os jovens para seu lugar de descanso final."
O efeito deste segredo, qualquer que seja sua justificativa, foi instigar a fúria israelense. Este era o contexto no qual um adolescente palestino foi assassinado por extremistas israelenses. Também foi o contexto da deriva para a guerra: campanha aérea, foguetes do Hamas e operações em túneis, invasão terrestre israelense. Deriva é a palavra em vigor. O propósito de Israel estava mudando. Em diferentes momentos ele incluiu "zero foguetes", desmilitarizar Gaza e destruir os túneis. "Sem objetivos claros, Israel foi arrastado, por suas próprias ações, em um confronto que não buscou e não conseguiu controlar", escreveu Sharon.
A única certeza agora é que acontecerá novamente a menos que a situação em Gaza mude. Isso, por sua vez, precisa da unidade palestina e da renúncia à violência. Também depende de uma mudança no cálculo israelense de que a extensão dos assentamentos, a divisão do movimento palestino, e um blá-blá-blá vazio sobre a paz de dois estados são de seu interesse, qualquer que seja o custo intermitente em sangue.
Dois outros textos recentes são leitura essencial no pós-confronto. O primeiro é "Amigos de Israel", de Connie Bruck, na The New Yorker, um exame da oscilação política do Comitê de Norte-Americano de Questões Públicas de Israel (Aipac, na sigla em inglês), o grupo do lobby pró-israelense. No texto, ela cita Brian Baird, ex-congressista democrata, indo direito ao ponto: "a difícil realidade é esta: para conseguir se eleger para o Congresso, se você não for independente de uma forma saudável, você precisa levantar muito dinheiro. E logo você aprende que, se o Aipac estiver do seu lado, você pode conseguir isso." Ela também cita John Yarmuth, um congressista do Kentucky, sobre defender os interesses dos Estados Unidos: "nós todos fizemos um juramento ao assumir o cargo. E o Aipac, em muitas instâncias, está pedindo para ignorar isto."
Por fim, leia Yehuda Shaul no The New Statesman sobre o efeito corrosivo da ocupação e sua experiência no serviço militar na Cisjordânia: "precisávamos apagar a humanidade dos palestinos junto com nossa própria humanidade."
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