A Alemanha apresentou no domingo a lista de armas que planeja enviar aos curdos no norte do Iraque. Algumas delas, contudo, podem acabar sendo usadas contra ex-soldados alemães. A Spiegel recebeu a informação de que 20 antigos soldados do Bundeswehr se juntaram aos jihadistas na região.
O governo alemão chegou a uma decisão sobre as armas que planeja enviar aos curdos no norte do Iraque para ajudá-los a combater o avanço das milícias do Estado Islâmico (EI). Mas a Spiegel foi informada de que não será fácil encontrar um caminho legal para entregar estas armas. Além disso, algumas delas podem acabar sendo usadas contra ex-soldados alemães.
De acordo com fontes de segurança em Berlim, cerca de 20 antigos membros do Bundeswehr, como é conhecido o Exército alemão, viajaram para a Síria e o Iraque, aparentemente com a intenção de entrar para grupos extremistas que defendem a causa islamita. Eles se juntaram a cerca de 400 outros jihadistas alemães que já viajaram para a região. A maioria deles, contudo, não tem experiência militar anterior, tornando os 20 soldados treinados do Bundeswehr particularmente valiosos.
O MAD, serviço de inteligência militar alemão, vê o islamismo como um problema crescente dentro do Exército alemão. Recentemente, um ex-sargento do Bundeswehr, que havia sido rebaixado anteriormente por causa de suas tendências islamitas, foi impedido de viajar para a região de crise.
Hans-Georg Maassen, chefe do Escritório de Proteção da Constituição (BfV), a agência de inteligência interna da Alemanha, expressou preocupações de que o fluxo de islamitas da Alemanha para a Síria e o Iraque continuará. Ele disse que alguns muçulmanos mais jovens e radicais se sentem especialmente atraídos pelo Estado Islâmico por causa da brutalidade do grupo. "O Estado Islâmico é, por assim dizer, a coisa 'em voga' dentro do cenário", disse Maassen. Ele é muito mais atraente do que o Jabhat al-Nusrah, o ramo da Al Qaeda na Síria. O que atrai as pessoas é o alto nível de brutalidade, o radicalismo e o rigor."
Alemanha preocupada com o estado curdo
Por fim, a brutalidade do EI levou a Alemanha a abandonar sua política de décadas de não enviar armas para zonas de guerra. Depois de chegar a um acordo sobre o envio de armas em meados de agosto, o governo alemão anunciou no fim de semana passado quais armas que pretende enviar. A lista inclui 16 mil rifles de assalto, 40 metralhadoras e 240 armas antitanques além de 500 foguetes antitanques. Cerca de 10 mil granadas e 8.000 pistolas também devem ser enviadas.
Não está claro como exatamente as armas chegarão aos curdos. De acordo com as leis alemãs que governam a exportação de armas, qualquer acordo como este deve ser aprovado pelo ministro da economia alemão que, por sua vez, precisa de uma autorização por escrito do governo do país recebedor. Mas o novo governo em Bagdá não assumiu o poder ainda. Fontes disseram à Spiegel que os funcionários em Berlim estão atualmente tentando encontrar uma forma de contornar a situação.
O ministro de relações exteriores alemão Frank-Walter Steinmeier e a ministra da defesa Ursula von der Leyen apresentaram a lista de armas na noite do dia 7 de agosto em Berlim, dizendo que o envio de armas deveria ser suficiente para equipar 4.000 soldados curdos. Steinmeier reconheceu que se tratava de uma decisão difícil, citando a possibilidade de que as armas possam acabar sendo usadas pelos curdos para lutar por seu estado independente. Ele disse ao jornal Hannoverschen Allgemeinen Zeitung, de Hanover, que o volume do carregamento foi calibrado de forma que "não se formará um estoque de armas que mais tarde possa ser usado em outros conflitos."
Steinmeier reiterou suas preocupações em relação ao financiamento para um estado curdo, dizendo temer que "um curdistão independente faça com que mais regiões iraquianas se dividam, como por exemplo o sul ou a área em torno de Basra. "O resultado, ele continuou, seriam "novas lutas por novas fronteiras e territórios de estado." Isso "faria com que regiões inteiras se tornassem ingovernáveis."
Ainda assim, o ministro de relações exteriores alemão disse que o avanço dos islamitas "não é apenas uma tragédia humana de proporções inimagináveis, mas também uma ameaça existencial para a região do norte do Iraque e para o fraco estado iraquiano como um todo."
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