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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Le Monde: E a guerra na Síria não avança


Aparentemente, tudo está travado na Síria. Desde o meio do ano, nada mais tem avançado nem parece se encaminhar para uma definição. Nem o regime, nem os rebeldes parecem ter condições de dar um golpe decisivo contra o adversário, muito menos de conquistar a vitória final. O regime detém com dificuldade as cidades e os insurgentes a zona rural, sem conseguirem se proteger dos bombardeios letais dos aviões e da artilharia adversária. O país se divide em pequenos bolsões, como uma pele de leopardo. A Síria inteira está sujeita a uma “somalização”, alertada pelo representante especial da ONU e da Liga Árabe, Lakhdar Brahimi.

O destino das duas grandes cidades do país – Damasco, a capital política, e Aleppo, sua capital econômica – resume melhor o impasse atual e o aparente status quo. A ofensiva do Exército Livre Sírio (ELS), no início de julho em Damasco, durou pouco e os grupos rebeldes optaram por uma tática de assédio por atentados mais ou menos direcionados, contribuindo assim para reforçar o aspecto religioso do conflito desejado pelo regime desde o início do levante. Em Aleppo, o ELS não conseguiu se apoderar da cidade inteira, na qual entrou em meados de julho, mas o regime fracassou em reconquistar um único bairro desde que sua contraofensiva foi lançada em agosto.

Visto de longe, o conflito se tornou indecifrável e fragmentado. Os atores políticos, que deveriam dar um sentido ou uma direção às operações, não conseguem se entender, pelo contrário. A oposição se afunda em intermináveis disputas de liderança. Quanto ao regime, que pensa dispor de carta branca para solucionar o problema à força, nunca nem fingiu querer conversar. Na verdade, ninguém quer, por enquanto, se sentar à mesa de negociações, uma vez que cada parte continua convencida de que tem mais a ganhar do que a perder no confronto. O ponto de esgotamento do conflito, que é a condição indispensável de qualquer solução negociada, não parece ter sido atingido.

No entanto, no local há dinâmicas surgindo, lógicas sendo esboçadas no nevoeiro de uma guerra ímpar. O emaranhamento dos fronts e a capacidade do regime de atacar com seus aviões praticamente em qualquer lugar e a qualquer momento não conseguem mascarar um fato inelutável e fundamental: dia após dia, semana após semana, ele recua e seu território encolhe progressivamente. É verdade que ele domina os ares, seu poder de fogo permite que suas peças de artilharia bombardeiem em um raio de até 30 quilômetros. Mas, por não ter presença em solo e informações confiáveis, esses bombardeios, sejam eles efetuados por Mig, helicópteros lançando barris de TNT ou canhões de 105 milímetros, são feitos às cegas e matam bem mais civis do que combatentes.

Não somente a área das zonas “libertadas” vem aumentando continuamente, sobretudo no norte do país, onde os insurgentes dispõem de uma base de apoio na vizinha Turquia que lhes permite se abastecerem (com armas, combustível e homens), como a relação de forças se inverteu no país inteiro: onde antes o regime sitiava sua própria sociedade, agora é o contrário. Ele está na defensiva, estranho a seu próprio país.

O exército sírio está na estranha situação de ocupar o país, a exemplo dos americanos no Iraque ou no Afeganistão. Como saber se esse camponês na beira da estrada é um combatente ou simples civil? Se essa mulher na janela não informará os insurgentes assim que passar a patrulha? Os comboios militares passam com infinitos desvios e precauções para escapar das emboscadas e atentados que os visam diariamente. Isso quando os soldados não estão presos em suas bases, de onde bombardeiam todo o campo ao redor, sem poder colocar os pés ali.

Eles possuem uma abundância de armas, mas só conseguem se abastecer de alimentos quando helicópteros os soltam eventual e aleatoriamente, que não aterrissam mais por medo de serem abatidos. É a parábola do elefante e das formigas: com cada passo seu, o paquiderme esmaga milhares de formigas, mas em grande número estas contêm sua ameaça, escalando suas pernas.

Os combatentes insurgentes, que continuam tendo uma distinta vulnerabilidade diante das armas pesadas do regime, se deslocam de um lado para outro da Síria. Unidades vindas da província de Hamas chegam ao front de Aleppo, combatentes do djebel Akrad enviam seus prisioneiros para um lugar seguro no djebel Al-Zawiyah, outros atravessam o país até a fronteira iraquiana para ir buscar armas contrabandeadas etc. A rebelião está em toda parte porque surgiu da sociedade. Para além das centenas de imitadores da Al-Qaeda, o Exército Livre é formado antes de tudo por civis saídos de sua própria região. Combater a insurreição, portanto, é combater a sociedade.

Logo, para secar o pântano, como em qualquer guerra contrainsurreicional, o governo está tentando afugentar os civis, que abrigam, informam e alimentam os combatentes, através de uma estratégia de terror. Mas, ao fazer isso, ele reforça as fileiras da insurreição e acelera sua própria derrota.

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