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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Com 82,6 milhões de filiados, Partido Comunista Chinês se prepara para o seu congresso


“O Partido é como Deus. É onipresente, mas você não consegue vê-lo.” Essa frase, de um professor da Universidade de Pequim, citada em “O Partido: O mundo secreto dos dirigentes comunistas chineses”, de Richard McGregor, ex-correspondente do “Financial Times” em Pequim, resume bem o governo na China. De seu passado de organização clandestina, o Partido Comunista Chinês (PCCh), fundado em 1920 por alguns militantes revolucionários, preservou o gosto pelo segredo. Guardadas as devidas proporções, somente o Vaticano – com o qual Pequim ainda não consegue manter relações diplomáticas – mantém uma opacidade da mesma ordem na gestão de suas questões.

Dentro da segunda maior economia do mundo, o governo é o partido e o partido é o governo. Nada escapa dele. Até existe um governo central, o conselho dos assuntos de Estado (“Guowuyuan”), com seu primeiro-ministro, atualmente Wen Jiabao. E uma Assembleia Nacional Popular (ANP), presidida por Wu Bangguo, que se reúne uma vez por ano em Pequim. Mas na prática é o PCCh que dirige, e Wen e Wu só têm suas verdadeiras influências em seus postos dentro do aparelho comunista, no terceiro e segundo lugar, respectivamente. O PCCh também comanda o exército (através da comissão militar central), as grandes empresas públicas (através do departamento da organização), as províncias e a mídia (através do departamento de propaganda) e as universidades.

Apesar das reformas econômicas e do ingresso da China no capitalismo mundial, o modo de organização do país continua calcado no “hardware” leninista, herdado do modelo soviético, com seu escritório político, seu comitê central e seu comitê permanente. Estruturas que são renovadas a cada cinco anos na ocasião do Congresso Nacional do PCCh, que se reúne no Palácio do Povo de Pequim, na Praça Tiananmen, em um protocolo de bandeiras vermelhas e ao som de "A Internacional". É o socialismo de características chinesas, que conseguiu se adaptar aos novos tempos e aparece em todos os escalões, desde a cúpula até os vilarejos. A grande novidade é que o PCCh está presente até nas redes sociais: seu órgão oficial, “O Diário do Povo”, assim como a agência de notícias Xinhua, estão presentes no Weibo, o “Twitter” chinês, para pregar e argumentar junto a centenas de milhões de internautas.

O comitê permanente do escritório político e seus nove membros – talvez sete após o 18º Congresso que abre na quinta-feira (8) – representam o cerne do governo. Oficialmente, os sortudos representantes são designados de acordo com um procedimento “democrático” pelos escalões inferiores (escritório político, comitê central, congresso etc.), mas, na prática, a decisão é tomada por um pequeno grupo de dirigentes influentes, em função das diferentes correntes e dos lobbies. As decisões são tomadas por um círculo restrito de altos dirigentes, que são tanto esses que vão ceder o poder como  também os veteranos que preservam uma forte influência, como o ex-secretário-geral Jiang Zemin.

Para sucedê-lo, Hu Jintao tinha uma preferência por Li Keqiang, que entrou no comitê permanente em 2007 e pertence à corrente da “Liga da Juventude” (“Tuanpai”), a base do governo de Hu. No entanto, foi Xi Jinping – que também ingressou no comitê permanente há cinco anos – o designado, pois ele é o homem do consenso entre as facções do partido e os “veteranos”, também próximo do exército e dos grandes grupos públicos, sobretudo membro do clã dos “príncipes herdeiros” (“Taizidang”), os filhos de famílias revolucionárias, a nobreza vermelha. Seu pai, Xi Zhongxun, que havia fundado as bases revolucionárias comunistas no nordeste da China nos anos 1930, havia sido destituído por Mao em 1962 antes de ser reabilitado no final dos anos 1970 para se tornar uma das figuras da política de reformas e abertura lançada por Deng Xiaoping.

Li Keqiang deverá substituir Wen Jiabao, em março de 2013, no posto de primeiro-ministro, na próxima sessão da ANP. Um outro “príncipe herdeiro”, Bo Xilai, tentou se impor ao destacar a necessária luta contra as desigualdades, apostando na nostalgia maoísta. Mas ele foi descartado, acusado de corrupção e de luxúria, bem como de ter tentado proteger sua mulher, condenada por homicídio.

Para os mais críticos, o PCCh parece uma máfia que distribui, entre os membros de diferentes famílias, os frutos do formidável crescimento chinês e das rendas garantidas. Uma teoria que seria confirmada pelas sucessivas revelações sobre as fortunas acumuladas pelos parentes de Xi Jinping e de Wen Jiabao. Para outros, depois de ter tentado destruir sob o governo de Mao a “antiga” China, o PCCh soube hábil e eficientemente retomar o caminho da China imperial com seu “exército” de mandarins letrados que administrava um imenso país. O partido de 82,6 milhões de membros (para 1,3 bilhão de habitantes) levou o país à posição de segundo maior do mundo. Com um programa: “crescimento e estabilidade”.

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