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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Der Spiegel: Conhecida pelo estilo linha dura, chanceler alemã tenta melhorar imagem no exterior

"Merkel quer que a Alemanha volte a ser vista como uma força motora da integração europeia - e não simplesmente como o maior crítica da Grécia, como o país que deve levar a moeda comum para o abismo"

“Dama de ferro”, “líder impiedosa do Quarto Reich”: a imagem da chanceler Angela Merkel sofreu com a crise do euro. Subitamente, porém, Merkel é só sorrisos e está cheia de elogios para os esforços feitos pelos Estados endividados da zona do euro. Mas será que essa ofensiva de charme será suficiente para transformar a imagem da Alemanha na Europa?

Por fora, a nova Angela Merkel parece a antiga. Ela ainda veste o paletó de sempre –nesta quarta-feira em particular, usava um cor de camelo. Seu colar de âmbar reapareceu. O cabelo? Sempre igual. Ainda assim, algo mudou desde que a chanceler retornou de suas férias de verão. E isso ficou aparente na quarta-feira, em pé ao lado do primeiro-ministro italiano, Mario Monti, no primeiro andar da chancelaria em Berlim.

“A Itália fez grandes esforços”, disse a chanceler em forma de elogio. Ela chamou de “impressionante” a agenda de reforma do país para combater a crise e afirmou que estava pessoalmente convencida que “traria frutos”. No final da conferência com a imprensa, ela murmurou aos repórteres: “Foi bom estar aqui com vocês”.

São justamente as palavras de Merkel que estão diferentes. Ela não parece mais a fria chanceler de ferro. Merkel parece ter descoberto alguma empatia.

A chanceler não fala mais exclusivamente de obrigações de austeridade, de metas orçamentárias ou da ameaça de outro relatório da troika. Em vez disso, apesar de não ter subitamente cedido aos países em dificuldades da zona do euro, ela está expressando reconhecimento aos esforços que os governos estão fazendo. Ela elogia os sucessos, oferece gratidão e também fala das pessoas que estão sofrendo com a crise, mostrando simpatia diante de suas privações. No que concerne os principais itens em torno da crise do euro, ela permanece firme, mas seu tom se tornou mais conciliatório.

É como se Merkel tivesse passado algum tempo em suas férias de verão nas montanhas do Tyrol do Sul ponderando sobre sua imagem internacional. E há muito a ponderar. Montagens fotográficas horrendas se tornaram comuns na imprensa grega e, cada vez mais, na italiana. Algumas mostram a chanceler com um uniforme nazista, outras reclamam do “Quarto Reich”. Até a imprensa britânica se envolveu, com o “New Statesman” recentemente caricaturando Merkel como o Exterminador e declarando-a o “Líder Mais Perigoso da Europa”. Em uma entrevista ao “Spiegel” publicada há pouco tempo, o próprio Monti falou do ressentimento crescente no país: “Contra os alemães e algumas vezes contra a própria chanceler”.

“Um lado humano”
Merkel, é claro, é parcialmente culpada pela imagem negativa. Além de sua severidade diante da crise do euro, algumas vezes ela foi descuidada. Durante a campanha para as eleições em Renânia do Norte-Vestfália no início do ano, ela observou que os europeus do Sul precisavam trabalhar mais e tirar menos férias. Essa e outras manifestações similares ajudaram a cimentar uma imagem no exterior de uma disciplinadora teutônica impiedosa, obcecada com medidas de austeridade e pouco preocupada com as perdas e sofrimento que essas políticas representam.

Na Alemanha, Merkel atualmente aprecia um índice de popularidade maior do que vinha tendo há muito tempo, e até o partido dela ganhou alguns pontos em recentes pesquisas de opinião. Mas existe um risco considerável que a imagem pouco lisonjeira de Merkel no exterior possa eventualmente influenciar sua posição interna. Dentro da comunidade empresarial, há preocupação crescente que o sentimento contra os alemães na Europa possa eventualmente ter um impacto negativo em seus negócios.

Combater essa tendência não é fácil para Merkel, cuja marca de liderança é tão fria que é quase circunspecta. De fato, o “Spiegel” certa vez descreveu seu estilo de governo como robótico. Mas por enquanto, parece que ela decidiu consertar sua imagem simplesmente sendo mais legal. “Mostrar um lado humano sempre cai bem”, disse Klaus-Peter Schöppner, diretor da firma de pesquisa de opinião alemã Emnid.

A nova abordagem da chanceler se tornou aparente pela primeira vez na sexta-feira (24), durante a visita do primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, a Berlim. Quando Merkel conversava com o predecessor de Samaras, Georgios Papandreou, ela parecia uma diretora de escola falando com um aluno indisciplinado. Apesar da situação na Grécia não ter melhorado muito desde então, a recepção que ela deu a Samaras foi radicalmente diferente.

“A Alemanha tem um laço de amizade com a Grécia”, ressaltou Merkel. Ela insistiu que o país permaneceria na zona do euro, evocou o valor da moeda comum para a união europeia, pronunciou sua confiança em Samaras e, mais importante, expressou seu profundo respeito pelos “grandes sacrifícios” que os gregos estão tendo que fazer. Segundo ela, eles foram “forçados a suportar muito sofrimento”. Ela repetiu as declarações em uma entrevista à televisão no domingo e novamente em uma reunião na segunda-feira com líderes do seu partido, a União Democrática Cristã (CDU). No evento de terça feira na chancelaria, ela falou dos cortes em aposentadorias e salários na Grécia: “É profundamente doloroso”.

Na semana anterior, Merkel tomou parte em uma grande campanha lançada na Alemanha por uma série de fundações sem fins lucrativos, muitas das quais estão ligadas às maiores empresas do país, com o tema “Quero Europa”. A campanha visa combater a crescente fadiga dos alemães com a UE. Em um vídeo feito para a campanha, a chanceler diz: “Essas pessoas, com seu comprometimento com a Europa, estão falando diretamente ao meu coração”. Ela chamou de valiosos os esforços e iniciativas defendendo a ideia que o futuro da Alemanha está atado à Europa.

Merkel se afasta da linha dura
O novo tom de Merkel surge em uma época difícil para o euro, com semanas desafiadoras à frente. Muitos acreditam que a falência da Grécia é apenas uma questão de tempo. Ao mesmo tempo, a chanceler alemã está tentando encontrar um consenso para uma união política mais profunda dentro da EU. Merkel quer que a Alemanha volte a ser vista como uma força motora da integração europeia –e não simplesmente como o maior crítica da Grécia, como o país que deve levar a moeda comum para o abismo. “Ela está agindo muito diplomaticamente para não ser taxada como linha dura”, disse Schöppner da Emnid.

O sucesso da campanha de Merkel não está inteiramente sob seu controle. Enquanto seus parceiros de coalizão, os Democratas Livres, diminuíram o volume de suas críticas à Grécia recentemente, o partido irmão do CDU, a União Social Cristã, não demonstrou tal tendência. Recentemente, o secretário-geral do partido, Alexander Dobrindt, censurou fortemente a Grécia. Merkel imediatamente se distanciou das declarações. Manfred Güllner, diretor do Forsa Institute, disse que Merkel está “se dissociando conscientemente” de tais sentimentos contra a Grécia. “Ao ser agradável, ela será percebida de forma diferente do que os populistas do euro”, disse ele.

Merkel sabe que cada palavra dura tem o potencial de arruinar seus esforços para melhorar sua imagem e a do país. Isso é algo que ela gostaria de evitar, particularmente agora que seus esforços começaram a dar frutos. Durante sua visita em Berlim, o primeiro-ministro Samaras falou de “começar novas relações”. A mídia grega também notou o tom conciliador. “O gelo quebrou”, escreveu o “Ta Nea”, de Atenas. O conservador “Kathimerini” observou “uma fissura no muro de Berlim”.

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