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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Der Spiegel: Wolfgang Schäuble, o estadista alemão que teve suas ambições frustradas, completa 70 anos

Ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble

Ele foi confidente de Helmut Kohl, quase se tornou chanceler e foi atingido por um tiro durante um atentado. Não há muitos políticos alemães capazes de dizer que tiveram uma vida e uma carreira tão dramáticas quanto as de Wolfgang Schäuble, ministro da Fazenda da Alemanha que fez 70 anos na última terça-feira (18). Este texto é uma avaliação crítica de um político excepcional.

Wolfgang Schäuble teve os dois maiores objetivos de sua vida política ao alcance das mãos – mas ambos lhe foram negados. Ele não se tornou chanceler nem presidente da Alemanha.

O dilema de Schäuble residiu no fato de que seu destino político sempre esteve muito entrelaçado ao de Helmut Kohl, seu antigo mentor. Kohl não tinha nenhuma intenção de suavizar a caminhada de Schäuble até o cargo de chanceler. E quando Kohl caiu, ele levou Schäuble consigo. Ambos são culpados, pois um estava atrelado ao outro – na alegria e na tristeza.

O escândalo envolvendo doações que chacoalhou o partido dos dois políticos, a CDU (União Democrata Cristã), marcou a virada na biografia política de Schäuble. Em dezembro de 1999, o ministro inicialmente negou, diante do parlamento, ter recebido dinheiro do “empresário” Karlheinz Schreiber – mas, em seguida, admitiu ter aceitado 100 mil marcos alemães para a CDU. Posteriormente ele se desculpou publicamente por ter ocultado sua ligação com Schreiber.

Após seu rompimento com Kohl, Schäuble recusa-se a falar com o ex-chanceler. Kohl também evitou manter contato com seu aparente herdeiro político, e continua a fazê-lo – ele declinou o convite da CDU para participar da festa oficial de aniversário de Schäuble e não informou o motivo da recusa.

Kohl frustrou a tentativa de Schäuble de virar chanceler da Alemanha. Mas Schäuble superou essa derrota e deu a volta por cima, guiando a Alemanha durante a crise financeira mundial e, em seguida, durante a crise do euro no papel de ministro da Fazenda.

Em 1990, um homem com problemas mentais atirou em Schäuble durante uma reunião de campanha eleitoral. Os médicos lutaram para mantê-lo vivo. Eles o salvaram, mas Schäuble ficou preso a uma cadeira de rodas.

Em 2004, Angela Merkel se recusou a nomear Schäuble como seu candidato à presidência da Alemanha, optando por Horst Köhler, homem de pouca estatura política quando comparado a Schäuble. O fato de Schäuble ter se juntado posteriormente ao gabinete de Merkel é sinal de seu enorme autocontrole – traço que provavelmente é sua qualidade mais importante. Á época de sua nomeação, ele estava muito ressentido com Merkel, segundo Hans Peter Schütz, seu biógrafo.

Em muitas ocasiões ficou claro que ele gostaria de ter tido o controle do leme nas mãos. Mas Schütz está certo ao questionar em seu livro se Schäuble, apesar de todas as suas habilidades, realmente seria a pessoa ideal para ocupar o principal cargo do governo alemão.

Ele é definitivamente um estrategista astuto e um político completo, conforme deu provas nos vários cargos oficiais que ocupou. Schäuble estava em seu hábitat na posição de chefe de gabinete de Kohl e lucrava com a aversão do chanceler em lidar com detalhes políticos. Schäuble tinha carta branca para agir – e agarrou as oportunidades que lhe foram dadas, fazendo um bom trabalho.

Tesoureiro da Europa
Seu golpe de mestre foi o tratado de unificação entre a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental. E ele merece crédito pela forma suave e pacífica em que ocorreu a reunião dos dois lados da Alemanha. Essa foi e continua sendo a grande realização de sua vida.

Em seu cargo atual como ministro da Fazenda, ele parece sentir certa satisfação em desempenhar o papel de tesoureiro da Europa – sem sua benção, pouca coisa acontece na esfera financeira do continente. Mas há contradições em seu desempenho. Em várias entrevistas Schäuble elogiou a filosofia financeira europeia, segundo a qual a estabilidade monetária deve ter total prioridade.

Mesmo assim, tem sinalizado, ao mesmo tempo, seu apoio a Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), em detrimento do presidente do Bundesbank (banco central alemão), Jens Weidmann, opositor ferrenho das compras de títulos de dívida. Contra a vontade de Schäuble não seria possível levar adiante o financiamento estatal, realizado por meio da compra ilimitada de títulos pelo BCE nos países do sul da Europa atingidos pela crise financeira.

Ninguém, nem mesmo Angela Merkel, sabe o que Wolfgang Schäuble realmente pensa e sente. Apesar disso, ou talvez por causa disso, ele continue a fascinar as pessoas. Isso explica porque suas taxas de aprovação pessoais se mantenham sempre altas. A luta de Schäuble contra sua deficiência toca as pessoas, e elas gostam do modo claro, sucinto e calmo que ele usa para explicar suas políticas. Esse também é um fator positivo para seu sucesso político. Ele é capaz de ser extremamente encantador quando quer. E também é capaz de conquistar as pessoas e transpira uma autoridade natural.

Os dois lados de Schäuble
Mas Schäuble também tem outro lado. Certa vez ele humilhou seu antigo porta-voz, Michael Offer, dando uma bronca em meio a uma sala cheia de repórteres devido ao fato de ele não ter distribuído as notas informativas a tempo. Essa foi uma demonstração desagradável do poder de Schäuble.

Hans-Jochen Vogel, ex-líder da oposição social-democrata, disse certa vez que a tentativa de assassinato transformou Schäuble em um homem amargo. O comentário desagradou Schäuble, mas observadores mais perspicazes perceberam que essa análise não estava totalmente equivocada.

Há dois Schäubles. Um é o sorridente e competente salvador do euro. O outro é o político frio movido a poder, que se iniciou na vida pública com Helmut Kohl. Em ambos os papéis, Schäuble é um político excepcional.

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